Grupo trabalha uma sonoridade forte e atual, tendo alcançado voos impressionantes sem sequer ter lançado um álbum

About2Crash | Foto: divulgação

Quem apenas ouve o About2Crash pela primeira vez, sem saber de mais nada, certamente se empolga com uma sonoridade pesada, atual e com um bem colocado ingrediente melódico. Entretanto, ao descobrir o time que integra a banda provavelmente levará um susto. Mais que isso, irá se admirar ao relacionar os nomes dos músicos com uma sonoridade tão revigorada. Tendo seus primórdios em 2013, o A2C moldou a sua sonoridade pela voz de Theo Vieira (Hard Rocket, Hangar, Delpht, Sunseth Midnight, entre outros) e a guitarra de Anderson Carlos (Hard Rocket, Holy Sagga e outros). A dupla logo ganhou força com a bateria de Aquiles Priester (Hangar, Noturnall, Tony MacAlpine, Angra e outros), a segunda voz de Vinicius Neves (Stay Heavy e Roadie Crew), o baixo de Luis Mariutti (Angra, Shaman, Andre Matos, Henceforth, Firebox, Motorguts) e a guitarra de Luís Aizcorbe (Aquaria, Corbe e outros). Desde então, eles trabalham numa divulgação diretamente com os fãs nas redes sociais, apresentando seus singles e o processo de gravação. Com isso, já conseguiram excelentes resultados, incluindo a participação no cast do Rock in Rio, em 2015. Atualmente, o sexteto se prepara para o lançamento do álbum de estreia e o aumento no volume de shows. A seguir, Theo Vieira conta ao ROCKARAMA tudo sobre a história do About2Crash (também conhecido como A2C) que, no papel, causaria estranheza, mas que na prática vem obtendo grande respaldo.

Comecemos pela criação do About2Crash. Lembro que em 2013 você me mostrou algumas músicas que estava trabalhando ao lado de Anderson Carlos e Aquiles Priester. Como foram esses primeiros passos que moldaram a sonoridade da banda?
Theo Vieira: Primeiramente, agradeço muito pelo espaço e pelo interesse do ROCKARAMA no meu trabalho. Fico muito feliz em fazer parte desta iniciativa tão corajosa e sólida dos grandes amigos Ricardo Campos e Ricardo Batalha. Bem, na época ainda não era muito claro o rumo e dimensão que as coisas tomariam, era realmente um laboratório. Estávamos buscando uma sonoridade que fosse diferente de tudo que já havíamos feito antes em outros projetos e foi aí que o About2Crash começou a tomar forma como banda.

Em seus trabalhos anteriores, com Hard Rocket e Endura, o seu timbre de voz e sonoridade eram bem mais suaves, com elementos do hard rock e alternativo. Fale-nos um pouco sobre essa decisão e experiência de rumar para algo bem mais pesado no About2Crash.
Theo: Na realidade, o Hard Rocket foi minha primeira experiência de fato como vocalista. Era algo bastante embrionário em relação ao tipo de vocalista que queria me tornar. Eu sou um amante incondicional do hard rock dos anos 80. Adoro as linhas de voz de bandas como Mr. Big, Danger Danger e Extreme, entre tantas outras, mas acho que o estilo do About2Crash, que talvez se enquadre num metal mais atual, permite que se explore mais nuances de voz, que vão do gutural extremo ao melódico numa mesma faixa, e isso me fez optar por este caminho. Mas faço questão de ter pelo menos uma pequena parte em cada música em que resgato esse amor ao hard rock em algumas linhas e, principalmente, nas harmonizações de voz, que era o caso no Sunseth Midnight.

Anderson Carlos, Theo Vieira e Vinicius Neves nos primórdios do About2Crash | Foto: divulgação

Nós temos influências bem diversas dentro da banda, mas como compositores, eu e o Anderson Carlos buscamos sempre a máxima de tentar fazer algo pesado e pop” – Theo Vieira

Sim, e não apenas na voz, mas na musicalidade em geral, o About2Crash tem uma pegada bem atual e pesada, misturando elementos de metal com industrial e metalcore. Quais foram as suas principais influências para resultarem em algo tão singular e cativante?
Theo: Nós temos influências bem diversas dentro da banda, mas como compositores, eu e o Anderson Carlos buscamos sempre a máxima de tentar fazer algo pesado e pop. Se for uma coisa e não for a outra, o material é limado e procuramos outros caminhos. Temos músicas que não passaram nesse critério que poderiam render mais 2 ou 3 discos, mas preferimos tomar nosso tempo e lançar um trabalho sem fillers onde estejamos satisfeitos 100% com todas as faixas. Agora, aproveitando a deixa, gostaria de citar o Amaranthe, Ashes Remain, Five Finger Death Punch e o Disturbed como as bandas atuais nas quais encontramos eco na sonoridade.

Antes do About2Crash você trabalhou junto com Aquiles como músico e produtor no Hangar, e essa relação musical só se fortaleceu e transformou em algo novo. Como foi essa identificação musical entre vocês que acabou se estendendo para parcerias futuras?
Theo: Pois é. O Aquiles é uma pessoa muito especial para mim e sempre tivemos uma ligação forte desde a época em que contribuía com o Hangar. Fizemos muitas parcerias autorais e de produção e fazer um projeto juntos foi um caminho natural. Ele é extremamente profissional e encara os projetos que se envolve com seriedade e comprometimento acima da média. Não é à toa que tem alçado voos tão altos. Não teria pensado em nenhum outro nome para o About2Crash.

Theo Vieira, Aquiles Priester e Luis Mariutti | Foto: divulgação

A ideia de chamá-lo [Luis Mariutti] foi do Vinicius Neves. Ele mandou os sons para o Luis e ele topou no mesmo dia. Foi uma coisa de sonoridade mesmo que o cativou” – Theo Vieira

O About2Crash foi responsável por trazer Luis Mariutti de volta à evidência no meio musical. Assim como no seu caso e no de Aquiles e Anderson, os fãs ficaram surpresos pela sonoridade mais pesada que estavam acostumados vinda de vocês. Conte-nos sobre essa ideia/oportunidade de trazer Luis de volta e os primeiros passos dele na banda.
Theo: A ideia de chamá-lo foi do Vinicius Neves. Ele mandou os sons para o Luis e ele topou no mesmo dia. Foi uma coisa de sonoridade mesmo que o cativou. Ele estava se dedicando exclusivamente ao Muay Thai e acho que foi o momento certo para essa volta à música. Ele é um talento impressionante. Eu já toquei com muitos baixistas talentosos, mas quando o Luis toca, por mais simples que seja a linha, aquilo soa impressionantemente pesado e coeso. Ele tem um comprometimento total com a música, com a sonoridade, algo que tem se tornado uma raridade em tempos em que o business tem reduzido a essência musical a apenas uma fatia do todo.

Você está há muito tempo na estrada, mas nas épocas de “Angels Cry” e “Holy Land” ainda estava no início da carreira. Penso que ter Luis Mariutti ao seu lado deve ter sido uma emoção inicial grande, uma vez que ele era uma das referências para músicos brasileiros de metal naqueles primeiros passos do Angra.
Theo: Sim, sempre fui admirador do trabalho do Angra. Eu ouvi estes dois discos tantas vezes que devo saber todas as músicas de cor. Pessoalmente, é sim um orgulho ter uma referência chancelando meu trabalho como compositor e vocalista, mas mais do que isso é um enorme prazer ter ganhado um amigo como o Luis.

Vinicius Neves, do programa Stay Heavy e revista Roadie Crew, e Luís Aizcorbe completam o line-up do About2Crash. Como foi a entrada deles para a banda?
Theo: O Vinicius foi quem botou pilha para que o About2Crash tomasse forma. Ele não se conformava em ouvir as composições e saber que o material provavelmente acabaria engavetado. Somos muito amigos desde a época do Hard Rocket, quando ele filmou nosso primeiro clipe, e na hora em que percebemos que queríamos ter constantes divisões de voz, ele foi a primeira escolha. Ele relutou um pouco, pois apesar de estar inserido brutalmente na cena do heavy metal, não havia estado em uma banda antes. Porém, o processo de adaptação dele foi tão fluente que surpreendeu a todos. No caso do Luiz Aizcorbe, não foi diferente. Ele é amigo meu e do Anderson de longa data, super talentoso e agilizado. Com o passar da estrada entendemos que, para encarar a treta que é uma banda, é melhor ter seus amigos por perto!

Lançamos singles para que as pessoas dêem atenção a uma faixa de forma exclusiva e possam ser impactadas com muito mais frequência do que seriam esperando por um álbum” – Theo Vieira

Após o primeiro teaser, de 2014, lançado via YouTube, vocês iniciaram um formato de divulgação baseado no canal e nas redes sociais, lançando músicas e lyric videos. Essa decisão não ortodoxa, mas completamente em sintonia com a atual indústria musical, tem sido positiva para a banda. Vocês esperavam tamanha repercussão? Imagino que tenha sido um passo um tanto quanto ousado a ser dado, principalmente em termos de Brasil, cujo público não estava tão acostumado profissionalmente com o formato.
Theo: Sim. Eu sou completamente avesso ao formato álbum nos dias de hoje. Acho que as músicas acabam negligenciadas pelo ritmo de vida em que vivemos. Não é mais nos anos 80 ou 90, onde as pessoas tinham o costume de aguardar pelo lançamento de um álbum e ouvi-lo de cabo a rabo com o encarte em mãos. Acho que isso fez com que muitas bandas fizessem 3 ou 4 músicas boas e colocassem mais 6 ou 7 composições menos bem-sucedidas para fechar um álbum e cumprir com a expectativa das gravadoras, empobrecendo a arte e favorecendo a falta de interesse do público. Lançamos singles para que as pessoas dêem atenção a uma faixa de forma exclusiva e possam ser impactadas novamente com muito mais frequência do que seriam esperando por um álbum. Assim, a conversa com o público é viva e frequente. Não esperávamos realmente tanta repercussão, até porque iniciamos esse processo de forma totalmente independente e em um cenário onde os meios disseminadores deste tipo de cultura são cada vez mais escassos.

Desde a primeira música divulgada, “Buried Alive”, vocês contam com o trabalho do experiente e renomado Damien Rainaud para mixagem e masterização. Como foi construída essa parceria, que se encaixou tão bem para a banda?
Theo: Damien é um parceiro muito talentoso. Ele entende a nossa sonoridade e sabe exatamente o que esperamos. Quem nos apresentou foi o Bill Hudson, hoje no Savatage (N.R.: Dirkschneider, I Am Morbid e Trans-Siberian Orchestra). Além de exímio produtor, é também um músico de primeira. Atualmente excursiona com o Once Human ao lado do Logan Mader, ex-Machine Head e Soulfly.

Após “Buried Alive” vocês lançaram lyric videos para “Supertaster” e “Liar”, que foram bem recebidos – as três, inclusive, compõem o primeiro single da banda. Depois foi a vez de “Monster”, inspirada na história do lutador de MMA e UFC Viscardi Andrade. Essa música passou a integrar a trilha sonora do “Jungle Fight”, da TV Bandeirantes. Como se deu essa junção entre a música do About2Crash e as artes marciais mistas?
Theo: Tínhamos a ideia de fazer esta mistura de música com esporte por acreditar que talvez sejam dias das coisas mais saudáveis do cotidiano. Quem trouxe a história do Viscardi para a banda foi o Vinicius. E foi mais um dos sincronismos inexplicáveis da vida. O Viscardi é super fã de metal e admirador do trabalho que tanto o Luis, quanto o Aquiles fizeram no Angra e Shaman. Aí foi uma união muito feliz. O Viscardi entra nas lutas do UFC com a música “Monster”, que foi composta especialmente para ele. É um guerreiro que superou inúmeras dificuldades para voltar ao UFC. Tem ganhado uma atrás da outra, então a faixa deve ser pé quente! (risos)

Theo Vieira, Anderson Carlos e Luis Mariutti no Rock in Rio 2015 | Foto: divulgação

O mais surpreendente, mesmo, foi ver o público cantando as músicas do começo ao fim. Não esperávamos que tivéssemos uma recepção tão boa” – Theo Vieira

Um grande momento na trajetória da banda até agora foi o convite para o Rock in Rio 2015. Mesmo sendo nova e sem álbum completo, vocês conseguiram fazer parte de um dos maiores festivais de música do mundo e mostraram, com o show, terem uma base de fãs. Imagino que aquele pré-show tenha sido tenso… Conte-nos um pouco dessa experiência de subir no palco do Rock in Rio e o que isso significou para o About2Crash.
Theo: O convite que recebemos da Monika Cavalera para integrar o line-up do festival foi uma surpresa total. Tínhamos na época apenas três singles lançados, mas já havia uma energia em volta da banda que parecia inexplicável. O mais surpreendente, mesmo, foi ver o público cantando as músicas do começo ao fim. Não esperávamos que tivéssemos uma recepção tão boa, justamente pelo que você citou anteriormente, da cultura deste gênero ser muito ligada a lançamentos físicos. Foi realmente muito emocionante, ainda mais porque fizemos apenas um ensaio com todos os integrantes da banda, já no Rio de Janeiro, um dia antes da estreia! E não foi o primeiro ensaio para este show, foi o primeiro de todos! E não foi apenas um show, foi o primeiro show de todos os shows… No Rock in Rio! Pensando hoje, foi uma loucura (risos)

Imagino! Naquele show vocês fizeram uma versão para a “Like A Prayer”, da Madonna – cover, inclusive, gravado e que já tem um teaser no YouTube. Esse tipo de versão inusitada não é algo novo para você, uma vez que chegou a gravar “Fading Like a Flower (Every Time You Leave)”, do Roxette, em sua época de Widow, se não me engano. Fale-nos da influência do pop dos anos 80 e 90 como compositor.
Theo: Eu adoro versões. Adoraria fazer um projeto apenas de versões. A nossa versão de “Like a Prayer” já está gravada e logo será disponibilizada! Tenho muita vontade de gravar também a “Crazy”, do Seal, que o Jeff Scott Soto fez bem com o Talisman. Eu sempre estive em bandas de metal, mas o gênero não é predominante na minha seleção musical. Sou muito fã do sistema de composição do pop, o que pode ser evidenciado em toda a minha trajetória musical, com partes bastante definidas e refrãos grudentos.

E como tem sido a reação dos fãs para a “Like A Prayer”, que ainda não tem a versão de estúdio lançada, mas teve uma versão ao vivo no Rock in Rio disponibilizada no canal do About2Crash no YouTube?
Theo: Existe sim certa ansiedade para o lançamento desta versão, mas ainda estamos estudando a melhor forma de lançá-la por conta dos direitos autorais. Acho muito engraçado que tenhamos escolhido justo uma música que foi composta pela Madonna e não apenas interpretada por ela! Posso adiantar que ficou uma porrada!

Theo Vieira | Foto: divulgação

Este é meu melhor momento como compositor e músico. Até porque a arte autoral é o reflexo de quem somos” – Theo Vieira

Há alguns meses a banda apresentou a música “Massive Revolution” no YouTube e, mais recentemente, um clipe para “Buried Alive”. Somado a isso, postam com regularidade no Facebook atividades de gravação. Quais são os planos para o restante do ano? O aguardado álbum de estreia? O que podemos esperar das novas músicas?
Theo: Sim, este ano sai o álbum de estreia. As novas músicas seguem a mesma energia dos singles já lançados, com destaque para duas baladas que ficaram muito emocionantes. Uma delas, em versão acústica. Acho que o que marcará mais o lançamento do álbum é que teremos o foco total nas apresentações ao vivo.

No Brasil, a banda já vem construindo o nome há algum tempo, mas imagino que trabalharão pesado no mercado internacional. Como andam os esforços para tal? Planejam estabelecer parceria com gravadoras no exterior?
Theo: Nós tivemos já algumas propostas de gravadoras de todos os portes desde a época do Rock in Rio, mas vamos priorizar os selos que realmente estejam dispostos a fazer a nossa música se espalhar, mesmo que seja o menor deles. Todos na banda têm uma agenda complicadíssima, portanto pensamos em um passo de cada vez e, nesse momento, é fechar o álbum físico focado na qualidade das composições. O resto tem sido consequência e esta é a forma correta de trabalhar para ganhar consistência.

Você mencionou o foco nas apresentações ao vivo após o álbum. Qual é o planejamento das atividades neste formado para o About2Crash em 2017?
Theo: Acredito que este ano vamos fazer shows de lançamento do álbum em algumas capitais, mas isso ainda depende da agenda de todos. Para os festivais, podemos imaginar uma participação apenas em 2018, visto que o line-up é definido com pelo menos seis meses de antecedência.

Desde meados dos anos 90 você é figura constante no meio metal brasileiro, com bandas como Widow, Delpht, Sunseth Midnight, Hard Rocket, Endura, Outlove, Hangar e, agora o About2Crash. Apesar dos grandes feitos anteriores, diria que este é o melhor momento da sua carreira?
Theo: Este é, sem dúvida, meu melhor momento como compositor e músico. Até porque a arte autoral é o reflexo de quem somos. Hoje, já mais velho e maduro, com dois filhos lindos e amados, posso entregar na minha música muito mais amor do que pude antes. Acho que o mais importante é fazer a arte pelas razões certas e, no meu caso, apenas quero que as pessoas possam se sentir energizadas e incentivadas ao ouvirem a minha música. Parafraseando Nietzsche, “a arte existe para que a verdade não nos destrua”.

About2Crash no Rock in Rio 2015 | Foto: divulgação
About2Crash no Rock in Rio 2015 | Foto: divulgação

Confira as demais músicas e vídeos do About2Crash no canal oficial da banda no Youtube.

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