Em show único no Brasil, australianos confirmaram que performance de palco ganha jogo
As festividades de comemoração do 23º ano de existência do Manifesto Bar trouxe um velho sonho dos proprietários: a banda australiana Airbourne tocando pela primeira vez em solo brasileiro. Ponderando as expectativas, pode-se dizer que estas foram superadas em muitos níveis. O namoro em trazer os australianos ao Brasil se alongava por quase três anos, quando o Manifesto anunciou a vinda do grupo em 2014. No entanto, o evento acabou sendo cancelado pelo falecimento do pai dos irmãos Joel e Ryan O’Keeffe, frustrando as expectativas de fãs e dos produtores. O tempo passou, mas o crescente entusiasmo de tal desejo foi recompensado no último dia 3 de setembro, quando o grupo lotou as dependências do Carioca Club, em São Paulo (SP).
Antes, porém, o aquecimento veio de forma avassaladora com o não menos vibrante Baranga, trazendo rock pesado, sujo e cantado em português. O vocalista e guitarrista Xande, o guitarrista Deca, o baixista Soneca e o baterista Alemão (ex-Carro Bomba) agitaram nas consagradas “Chute na Cara”, “Filho Bastardo” e “Whiskey do Diabo”. A energia do grupo paulistano contagiou os presentes e Xande mencionou a importância de o público buscar valorizar mais os trabalhos autorais cantados em português. Deca, por sua vez, vibrou com a qualidade de som. “O som estava sensacional no palco! Marcello Pompeu fez o som do PA e Heros Trench comandou o som do palco. Ou seja, som ‘by Korzus/Mr. Som’. Foi muito legal!”
Com os motores quentes, o público estava pronto para receber a atração principal, mas após a introdução com o tema do filme “O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final” (“Terminator 2”), de Brad Fiedel, acabou atropelado por um cargueiro aero quando Joel O’Keeffe (vocal e guitarra), Harri Harrison (guitarra), Justin Street (baixo) e Ryan O’Keeffe (bateria) subiram ao palco com o Airbourne. Eletrizantes e incansáveis, vindos de shows seguidos no Chile, Uruguai e Argentina, começaram com “Ready to Rock”. Ari Junior, tour manager, se disse impressionado com o vigor e alegria dos australianos. “Estávamos praticamente sem dormir, mas eles estavam animados e realmente contentes por estarem pela primeira vez tocando na América do Sul”, declarou.
Sem parar um segundo de agitar e com o público pulsando no mesmo ritmo, nem mesmo os pequenos problemas apresentados pelos microfones de Joel, constantemente trocados durante o show, atrapalharam a performance. Aliás, a postura de palco deveria servir como aula/workshop para qualquer banda que busque os holofotes da estrada do rock. Não se tratava apenas de uma apresentação para mostrar as habilidades individuais. Não era um show de “música para músicos”, mas para a massa, objetivando fazer o público ir ao delírio com rock básico, performance energética, caretas, piadas, e muito, mas muito banho de cerveja. Havia uma energia contagiante em vê-los em cima do palco. Ou até fora dele… Durante “Girls in Black”, Joel O’Keeffe se enveredou pelos camarotes do Carioca Club, onde passou a tocar no meio da galera. Como se não bastasse, usou uma lata de cerveja, simulando batê-la em sua cabeça a fim de dar um imenso banho de cerveja no público. Apenas o primeiro de muitos.
Já em “It’s All for Rock’n’Roll”, música dedicada ao saudoso Lemmy Kilmister e presente em “Breakin’ Outta Hell” (2016), as baquetas foram assumidas pelo roadie e baterista Roger De Souza, que trabalhou durante 15 anos como stage manager do Motörhead e como roadie do guitarrista Phil Campbell. No dia seguinte, Roger ainda levou a banda ao Cemitério do Morumbi para visitar o túmulo do saudoso tricampeão mundial de Fórmula-1 Ayrton Senna. No meio do show, Joel O’Keeffe havia declarado sua paixão pelo piloto brasileiro e, durante a visita, deixou uma palheta em cima da lápide de Senna.
Após quase uma hora e meia, a banda encerrou sua apresentação ao som de “Live it Up” e “Runnin’ Wild”, praticamente deixando algumas certezas. A de que esta foi uma das melhores apresentações do ano e que eles deverão retornar para a América do Sul para mais aulas de performance energética. Por fim, não há como deixar de lado as comparações do Airbourne com seus compatriotas do AC/DC, seja pela sonoridade musical, pela performance de palco ou pela banda ser composta por dois irmãos. O futuro começou e o Airbourne é realidade. Energia não se compra, se tem no DNA. E foi exatamente isso que os fãs puderam comprovar nesta noite no Carioca Club.
Repertório Airbourne
(Carioca Club – São Paulo/SP, 03/09/2017)
‘Ready to Rock’
‘Too Much, Too Young, Too Fast’
‘Down on You’
‘Rivalry’
‘Girls in Black’
‘It’s All for Rock ‘n’ Roll’
‘Breakin’ Outta Hell’
‘Diamond in the Rough’
‘No Way but the Hard Way’
‘Stand Up for Rock ‘n’ Roll’
‘Live It Up’
‘Runnin’ Wild’