No novo trabalho, banda paulistana de rap metal mantém a alquimia sonora e o tom político que a consagraram nos anos 1990
Marcados para os dias 10 e 11 de novembro, na Comedoria do Sesc Pompeia, dois shows sinalizam a retomada do grupo paulistano Pavilhão 9 ao mercado fonográfico. Após mais de uma década sem lançar um disco novo, a banda capitaneada pelos MCs Rhossi e Doze apresenta seu mais recente disco, “Antes Durante Depois”, lançado em agosto deste ano.
O Pavilhão 9 volta à cena com Rhossi e Doze nos vocais, o baterista Leco Canali (egresso da banda Tolerância Zero), o baixista Heitor Gomes (vindo do extinto Charlie Brown Jr.) e o guitarrista Rafael Bombeck.
Em 25 anos de história, Pavilhão 9 alcança, com o novo trabalho, o sétimo álbum da carreira. Com o verso “o tempo é hoje, maninho. E que se foda a moda!”, pescada da faixa que abre e dá título ao novo CD, o grupo atesta que, apesar do período de afastamento, manteve sua alquimia sonora intacta.
Entre os temas abordados pelas letras das novas canções, estão o cotidiano da periferia, o momento conturbado vivido pelo país, a questão dos imigrantes e outras discussões que tangenciam a sociedade e a política. Assim como nos anos 1990, período auge do Pavilhão 9, o novo trabalho da banda é recheado de referências que tanto sucesso fizeram entre as tribos urbanas noventistas, como a fusão de hip hop com guitarras nervosas, rimas corrosivas e escritas sob a ótica dos marginalizados.
Com produção assinada pela banda em parceria com Daniel Krotoszynski, o álbum “Antes Durante Depois” sucede “Público Alvo” (Sonora, 2005) na discografia do grupo.
As apresentações do Pavilhão 9 no Sesc Pompeia fazem parte do projeto Plataforma, que engloba o lançamento de shows musicais inéditos, CDs e DVDs. O show do dia 10 conta com a participação de Andreas Kisser (Sepultura) e Reginaldo 16 (Funk Como Le Gusta).
Mais sobre o novo CD
Antes Durante Depois chega ao mercado em um ano emblemático para o Pavilhão 9, que está completando um quarto de século. Nos 25 anos de trajetória, muitas coisas aconteceram, e todas elas estão representadas de alguma forma no novo registro. As dez faixas dialogam com seus maiores êxitos (“Otários Fardados”, “Vai Explodir”, “Mandando Bronca”, só para citar alguns), mas também exalam ares contemporâneos. E essa realmente era a ideia: fazer um passeio pelas principais características do Pavilhão clássico, sem descuidar do fato de que estamos em 2017.
Se a faixa-título serve de cartão de visitas, com os MCs recapitulando os sentimentos de cada etapa da caminhada até aqui, a música seguinte do disco foi a escolhida para apresentar o novo Pavilhão para o mundo. “Tudo por Dinheiro”, primeiro single do trabalho, fala de dinheiro em um momento em que o vil metal não sai do noticiário, especialmente o político.
A corrupção volta aos holofotes em “Acredita Não Duvida”. Mas há também uma mensagem de superação nos versos dos rappers. Sonoramente, a faixa pode até ser descrita como um “trap rock”, com seu peso e pegada “bouncy”. “Número 1” é a visão de uma pessoa comum sobre o que está acontecendo no país, alguém que o Pavilhão sempre procurou representar.
O rock dá a primeira trégua na quinta faixa do álbum, “Pesadelo Gangsta”. Com base assinada pelo curitibano Nave Beatz, a música remete ao Pavilhão dos primórdios, de pedradas como “Luto (Gangsta from tha West Side)”, que fizeram o grupo ser identificado como propagador do gangsta rap no Brasil.
As guitarras e as reflexões sobre o passado em forma de bate-papo com Doze voltam em “Ideia Quente”. Já em “Os Guerreiros” é mencionada “a saída pela educação”, que parece nunca acontecer. O hardcore chega pesado em “Boca Fechada”, talvez a mais virulenta contra os detentores do poder. Uma versão dá uma quebrada no ritmo: “Isto Não Para” é o Pavilhão trazendo para o português um hit de 2016 do rapper espanhol Kase.O. Rhossi e Doze mantiveram o groove da “Esto No Para” original e até um “muévete” em castelhano na última parte da canção.
E então o disco chega ao fim com outro momento do mais puro hip hop: “Na Malandragem”, dessa vez remetendo a “Apaga o Baseado”, cujo clipe a MTV exibia diariamente em sua fase áurea. Os versos sobre a erva são envoltos em uma atmosfera inspirada no seminal Guru’s Jazzmatazz, além de contar com citação de “So What” (Miles Davis) e um solo final de Reginaldo 16, o cara do trompete e do flugelhorn do Funk Como Le Gusta.
A capa de Antes Durante Depois conta com uma ilustração de Leandro Dexter, que desenhou Rhossi usando a máscara que virou símbolo do Pavilhão 9. Apesar de hoje só usá-la para efeito cênico nos shows, o MC reconhece que ela agregou muito à mística do grupo. “A máscara representa o rosto dos oprimidos”, diz. E ela ajuda bastante a manter a presença do Pavilhão 9 forte no imaginário das pessoas.
Ouça “Antes Durante Depois” (Spotify): goo.gl/kxbxEc
Serviço:
Pavilhão 9
Lançamento do CD “Antes Durante Depois”
Dias 10 e 11 de novembro, sexta e sábado – 21h30
Comedoria
*A capacidade do espaço é de 800 pessoas. Assentos limitados: 150. A compra do ingresso não garante a reserva de assentos. Abertura da casa às 20h30.
Ingressos: R$ 9,00 (credencial plena/trabalhador no comércio e serviços matriculado no Sesc e dependentes), R$ 15,00 (pessoas com +60 anos, estudantes e professores da rede pública de ensino) e R$ 30,00 (inteira).
Venda online a partir de 31 de outubro, terça-feira, às 17h30.
Venda presencial nas unidades do Sesc SP, a partir de 1º de novembro, quarta-feira, às 17h30.
Classificação indicativa: Não recomendado para menores de 18 anos.
Sesc Pompeia – Rua Clélia, 93.
Não possui estacionamento. Para informações sobre outras programações, acesse o portal sescsp.org.br/pompeia.