Alexandre Callari, cinéfilo compulsivo, assiste praticamente a um filme por dia e, de vez em quando, resolve compartilhar a experiência na seção Assistidos e Reassistidos.
Eugênia
Eugenie
Ano: 1973
Diretor: Jesús Franco
Com: Soledad Miranda, Paul Muller
Classificação:
O que posso dizer? Em “Eugênia” Franco acertou a mão. Defendo que o diretor vai muito bem em filmes mais intimistas, em que suas limitações orçamentárias não ficam tão evidentes e não comprometem o resultado final.
Este filme se passa em poucos ambientes, tem poucos atores e se apoia nas excelentes atuações do casal central, no texto forte (embora um pouco exagerado na pieguice), na direção meticulosa e técnica de Franco, e na beleza de Soledad. Como nada disso envelheceu, mesmo mais de 40 anos depois o longa conserva seu vigor. Em verdade, a única coisa que queima o filme é a trilha sonora, fraca e repetitiva.
Na trama, baseada numa história do Marquês de Sade, um pai e uma filha vivem um relacionamento incestuoso. A duplicidade dos dois logo progride para níveis alucinados, e ambos planejam cometer um crime juntos. Após assassinarem uma prostituta, o casal pega gosto por sangue e sai empreendendo uma onda de crimes pela Europa. Claro que tudo só pode acabar mal. As cenas das mortes são tensas e a segunda em particular me impressionou pela crueza e realismo com que foi gravada – sendo maturada aos poucos, bem-desenvolvida e culminando numa explosão de violência.
Soledad Miranda está deslumbrante. Ela tem uma atuação que é ao mesmo tempo sedutora, inocente e perigosa. Pena que a atriz morreu tão jovem, tendo nos privado de uma carreira longeva. Aqui, ela atua nua grande parte do tempo, faz cenas de lesbianismo e violência, tudo com uma naturalidade que leva o espectador a comprar a ideia do longa, e defender a persona psicótica dela.
O filme discute temas polêmicos e não oferece soluções, nem toma partidos – ele é o que é; os protagonistas, para bem ou para mal, são o que são. Cabe ao espectador tirar suas conclusões. Achei uma joia acima da média na carreira de altos e baixos do diretor.