Alexandre Callari, cinéfilo compulsivo, assiste praticamente a um filme por dia e, de vez em quando, resolve compartilhar a experiência na seção Assistidos e Reassistidos.
O Bordel de Paprika
Paprika
Ano: 1991
Diretor: Tinto Brass
Com: Debora Caprioglio, Stéphane Ferrara
Classificação:
Há uns quatro anos eu não assistia a um filme do Tinto Brass e havia me esquecido o quanto a experiência é deliciosa. Comparo-a a ler uma HQ do Milo Manara; é erotismo da melhor qualidade.
Nada de pornografia barata, nada de sexo explícito, mas um filme bem-humorado, livre de preconceitos e rótulos, com atrizes e atores bonitos, que ainda deixa uma ou duas mensagens sem ser pedante. Claro, é o resultado de um cineasta homem, fazendo filmes para homens, então não espere ver mulheres fidedignas retratadas na tela. Mesmo assim, conheço várias mulheres que gostam do trabalho dele e de outros cineastas similares.
A história acompanha a vida de uma jovem prostituta – a Paprika do título – que vive o momento em que o Senado da Itália decidiu proibir os bordeis e a prostituição como profissão. É tudo muito engraçado e divertido, com uma trilha sonora impagável.
As cenas de sexo são feitas com um tom pastelão, de modo a não serem excitantes, mas pouco mais do que uma brincadeira entre adultos. Mesmo assim, Brass era um cineasta habilidoso, que surpeende em vários momentos com o uso inusitado de tomadas, com a boa atuação que arranca de todos os atores, além de se mostrar surpreendentemente sensível em certos momentos. A cena da prostituta que sofre uma overdose no bordel e é socorrida primeiro pelo médico, e depois pelo padre (que estão ambos se divertindo no local) é brilhante. Triste, melancólica e bonita, sem ser moralista.
Debora leva o filme nas costas com desibinição (ela passa o tempo todo nua) e carisma. O longa não julga em momento algum – há os que são contrários à profissão, há os que a abraçam. Há os hipócritas e há os defensores. O lado sujo também é mostrado, como os cafetões que se aproveitam das meninas, mas Tinto faz questão de deixar claro como a estrutura do bordel de antigamente era quase uma família, com todos os envolvidos se ajudando mutuamente – inclusive clientes.
Na visão dele, a degradação do sexo na sociedade contemporânea surgiu justamente após a proibição das “casas especializadas”, que tornou tudo sórdido e proibido, e promoveu o surgimento das prostitutas de rua, que trouxeram junto tráfico, doenças e violência. Antes, quando era uma profissão regulamentada, a prostituta gozava de certo status social e não tinha vergonha da sua profissão; após a proibição, veio a perseguição – ao menos na Itália que ele retrata. É um ponto de vista interessante, que o filme faz questão de defender.
Elucubrações à parte, trata-se de um bom filme, de um estilo que provavelmente não será mais produzido nesta nossa sociedade que se torna cada vez mais quadrada, vitimada pelo exagero do politicamente correto.