Assistidos e Reassistidos: Paterson

Alexandre Callari, cinéfilo compulsivo, assiste praticamente a um filme por dia e, de vez em quando, resolve compartilhar a experiência na seção Assistidos e Reassistidos.

Que belo filme. Jim Jarmusch consegue passar um grau enorme de sensibilidade por meio de uma história cotidiana, em que acompanhamos uma semana da vida de um casal; ele um motorista de ônibus com aspirações poéticas, ela uma sonhadora. Mas ambos são muito mais do que isso e só mesmo assistindo ao filme para compreender o que quero dizer, pois qualquer tentativa de explicar o que move esses personagens seria superficial e incompleta.

Não só os dois protagonistas, como um rol de coadjuvantes (incluindo o cachorro) são extremamente bem-desenvolvidos, e Driver, que carrega o longa nas costas, prova mais uma vez que é um dos melhores atores da sua geração.

Tudo o que o filme aborda é num microuniverso, onde vive o casal – seu mundo particular que, no final das contas, é onde vive cada um de nós. O espectador tem a oportunidade de acompanhar os anseios e desejos deles, as decepções e neuroses, e a exuberância dos pequenos detalhes, que encontra paralelo nos poemas escritos pelo protagonista, os quais ele recusa a compartilhar com qualquer um… exceto com o público, o que nos torna cúmplices de seus sentimentos.

Jim Jarmusch pode ter uma produção lenta, mas mantém a consistência. Se quer assistir a um romance que não seja a baboseira hollywoodiana de sempre, pode ir sem medo.