Assistidos e Reassistidos: Um Limite Entre Nós

Alexandre Callari, cinéfilo compulsivo, assiste praticamente a um filme por dia e, de vez em quando, resolve compartilhar a experiência na seção Assistidos e Reassistidos.

Um Limite Entre Nós (2016) | Rockarama

Um Limite Entre Nós
Fences
Ano: 2016
Diretor: Denzel Washington
Com: Denzel Washington, Viola Davis

Classificação:

Mano, alguém pode me explicar o que os americanos têm na cabeça? Como é que o Denzel não ganhou o Oscar deste ano, que foi pro mais insosso irmão Afleck? Foi uma das atuações mais intensas que vi nos últimos tempos, fazendo dupla com uma atriz igualmente brilhante, ancorados por um texto irretocável.

O filme em si não brilha tanto; ele mantém suas raízes teatrais em todos os sentidos, das ambientações limitadas ao comportamento dos personagens (observe quando um personagem se coloca de canto quando ele não tem falas, enquanto outros dois entram em primeiro plano, típico de teatro). Não chega a ser um “Dogville”, mas também não tenta ocultar esse caráter, pelo contrário, o abraça. E esse é um dos grandes méritos da película, na minha opinião.

Começa um pouco chato, com conversas triviais que buscam ambientar o espectador ao universo dos personagens, porém, quando Denzel tem o primeiro embate com seu filho que vai lhe pedir dinheiro emprestado, o tom é firmado. Daí para a frente, é uma montanha-russa de emoções. O diálogo fundamental entre Viola e Denzel no meio do filme é cinema sendo feito em sua mais alta qualidade; mesmo nos monólogos, que no teatro sempre ficam bem, mas no cinema podem soar estranhos, Denzel deu um jeito para que ficassem legais.

Embora trate de um período específico nos Estados Unidos e verse em cima das condições dos afro-americanos na época, se você fizer vista grossa para etnia, credo, cultura e tempo, verá que o filme é mesmo sobre relacionamentos humanos… e esses são os mesmos para todas as pessoas, em qualquer lugar do mundo.

Troy, o protagonista, é um personagem absurdamente complexo; uma vítima das circunstâncias, que fugiu de campos de colheita de algodão e de um pai abusivo, caiu na vida, foi preso e tentou se encontrar, mas que carregou dentro de si um rancor tão grande, que eclipsa o amor dado por sua mulher magnífica, Rose, a verdadeira força do relacionamento. Há muitos Troys neste mundo, alguns que se elucidam um pouco mais do que Denzel, outros que se perdem ainda mais. É um alerta sobre o que nós queremos e esperamos da nossa vida enquanto seres humanos; também sobre as “cercas” que construímos e que nos separam daqueles que nos amam. Achei simplesmente brilhante.

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