Alexandre Callari, cinéfilo compulsivo, assiste praticamente a um filme por dia e, de vez em quando, resolve compartilhar a experiência na seção Assistidos e Reassistidos.
Valentino
Valentino
Ano: 1977
Diretor: Ken Russell
Com: Rudolf Nureyev, Leslie Carol
Classificação:
Ken Russell foi um grande diretor. São dele obras incríveis como “Os Demônios” e “Viagens Alucinantes” e, embora na última fase da carreira tenha se dedicado mais a clipes (algo que sempre fez), curtas e coisas para a televisão, ele foi um cara que sabia como deixar a sua marca.
No final dos anos 1970, se envolveu numa série de filmes biográficos, retratando a vida de Gaudier, Mahler e do grande Rudolph Valentino – este que acabei de assistir. E que filme!
Russell consegue deixar quase tudo que faz com uma qualidade onírica, e aqui não é diferente. Ele não se esquiva de aproximar tudo da linguagem do cinema mudo dos anos 1920, desde o exagero na linguagem corporal de todos os atores, até os enquadramentos que usa (isso quando não refilma quadro a quadro algumas cenas dos longas originais). É um trabalho de direção brilhante, que fica ainda melhor com a escolha do protagonista.
Valentino foi um grande dançarino, é fato, mas chamar Nureyeve para interpretá-lo – possivelmente o maior bailarino do século 20, na esteira de Niijinsky (e disputando a segunda colocação com Baryshnikov) – é covardia. As performances dele como bailarino são eletrizantes e lindas de se ver, mas não é só isso; ele surpreende e cativa também como ator, dando uma personalidade magnética ao seu Valentino, exatamente como deve ter sido na vida real.
Eu conhecia pouco sobre a trajetória deste que foi provavelmente o primeiro grande ídolo da história do cinema e, ao assistir ao filme, comecei a achar tudo exagerado e fantasioso. Pois bem, na sequência fui ler a respeito e descobri que, a despeito dos exageros cinemáticos mencionados acima, tudo retratado é verdade. Valentino teve uma vida breve e bombástica, que incluiu prisões por bigamia, turnês de dança como garoto-propaganda de cosméticos, brigas com gângsteres, sucessos milionários no cinema da noite para o dia e até desafios públicos de boxe contra seus críticos. O cara foi uma figura, mas não havia como não gostar dele.
A sequência da prisão é perturbadora mesmo para os padrões de hoje, a cena em que sua mulher ordena que ele a traia e transe com uma colega de set impertinente para ganhar o respeito da equipe de filmagem é hilária, e quando uma multidão de mulheres se amontoa na frente da casa do ator e começa a recitar versos, enquanto ele tenta dormir com a espoasa, é perturbadora.
Um baita filmaço que recomendo a fãs de dança, gente que estuda o nascimento do cinema, fãs de biografias ou apenas amantes de um bom filme.