Poloneses tinham como objetivo formar “a banda mais chapada do mundo”

Em um esfumaçado porão de Kielce (POL), um grupo de chincheiros, em uma de suas sessões quase sacras de fumo, foram “agraciados” com um nome peculiar, sussurrado por uma fada. “O nome [Belzebong], foi nos dado por uma fada verde que surgiu do nosso antigo bong, há dez anos. Foi tão perfeito que resolvemos formar a banda mais chapada do mundo! Surgiu a nós um baita nome vindo de um bong, tínhamos de fazer valer a pena!”. A partir deste papo de nóia foi gerado um dos maiores nomes do subgênero de stoner metal (ou ‘metal chapado’, em tradução livre).
Até o começo dos anos 80, o heavy metal começava a andar pelas próprias pernas, se afastando de vez de suas raízes puxadas do blues e do jazz. Bandas precursoras do gênero estavam cada vez mais ofuscadas pela mais agressiva e “atual” cena de New Wave of British Heavy Metal (ou nova onda de metal britânico, na tradução brasileira). A escolha era aprimorar a sonoridade para se manter em foco, como no caso dos ingleses do Black Sabbath; ou se silenciar, como o californiano Blue Cheer e o mais obscuro Pentagram.
A música pesada dali a frente teve seus erros, acertos e suas surras. Porém, a partir dos anos 90, o estilo sujo do grunge se tornou popular, desbancando as multidões do metal para o novo gênero de Seattle. Ao mesmo tempo, nas profundezas da música, foi se fortalecendo uma cena que militava a nostalgia dos primórdios da música pesada. Com riffs gritados, graves e lentos, sonoramente embaçado e com exaltações à maconha consolidou-se na Europa e nos Estados Unidos. Dali surgiram bandas como a inglesa Electric Wizard e a californiana Sleep.
Alguns anos mais tarde, em 2008, foi formado o Belzebong. Junto com os seus temas entorpecentes e músicas totalmente instrumentais, também é peculiarmente conhecido pelos seus membros usarem seus pseudônimos de “Dude” em seus shows esfumados e com jogos de luz esverdeados. A formação clássica tinha Cheesy Dude e Alky Dude nas guitarras, Sheepy Dude no baixo, Felony Dude na bateria e um suposto vocalista, Mary Dude (2008-2011) que, como relatado pela banda, foi “esquecido em um estacionamento e agora vaga pelas ruas de Salem”. Quando perguntado sobre a possibilidade de uma reunião, Cheesy Dude brinca: “A história é verdadeira, ninguém sabe onde ele está. Por outro lado, estamos indo muito bem sem vocais, além do mais, é muito mais fácil fazer a checagem de som!”.
Sendo um cenário ainda difícil de se obter música externa durante o regime soviético, Cheesy Dude, membro fundador do grupo, recebia influências do pop americano durante a infância, ouvindo de Bon Jovi a Michael Jackson. “Meu pai trazia vinis de mercados negros da Rússia (na época, URSS) e foi uma longa jornada até o stoner metal. Desde então, comecei a explorar muito mais e me apaixonei por heavy metal durante a escola primária. A primeira introdução a grooves entorpecentes foi com o álbum ‘Master of Reality’, do Black Sabbath, em 1998. Me apaixonei pelo gênero desde então.” Chessy ainda completa, e apoiado com unanimidade pelo grupo: “É o melhor álbum do (Black) Sabbath para se ouvir chapado!”
Continuando a falar sobre as suas influências, o também fundador Sheepy Dude declara seu amor consagrado pelo grupo psicodélico brasileiro Mutantes. “Sons psicodélicos são uma de muitas inspirações para mim, pois adoro bandas das décadas de 60 e 70. Eu ouvi Mutantes pela primeira vez em uma compilação de rock psicodélico que achei, eles são incríveis! Eu realmente amo o som deles! A cena sul-americana do período é vasta e pretendo ouvir cada vez mais”.
Mas nem todas as influências são bem-vindas. A Polônia, uma nação de grandes compositores do Século XX, como Penderecki e Lutoslawski, não é algo que chama a atenção de Cheesy e Scheepy. “Nós apenas louvamos o bode e os riffs.”
Na demo de 2009 e no primeiro álbum, “Sonic Scapes and Weedy Groves” em 2011, as faixas eram intercaladas com interlúdios bizarros e chiados confusos, como o discurso da “Alice no país do ácido” na música “Acid Funeral”: “O trecho assustador foi tirado de uma propaganda merda de um filme homônimo. Tinha como propósito amedrontar crianças que estavam a fim de experimentar ácido. É duro de assistir, mas é engraçado.”
Após isso, a banda explodiu com inúmeras turnês agendadas e soltou o EP “Dungeon Vultures” (2012) e o segundo álbum, “Greenferno”, em 2015. Após uma tentativa frustrada de tocar pela América do Sul no ano passado, o Belzebong concretizou seu sonho de tocar na América do Sul, passando pelo Brasil em julho último. Foram shows curtos e mesmerizadores, deixando ao esquecimento as mágoas do passado e nos deixando ansiosos para o futuro.