Em movimento emblemático, a Sony voltou a produzir LPs em 2017, a primeira vez em quase três décadas

Em termos de mídia física, os CDs e LPs, medição da RIAA mostrou que as vendas de vinil subiram 10% em 2017 | Foto: reprodução
Em termos de mídia física, os CDs e LPs, medição da RIAA mostrou que as vendas de vinil subiram 10% em 2017 | Foto: reprodução

Os downloads digitais, que entraram como a salvação do mercado fonográfico (e, em termos, foram), tiveram um curto prazo como o formato mais vendido na música e agora os CDs e LPs, tidos como nostalgia, estão de volta ao páreo.

Demorou uma década desde o lançamento do primeiro iPod para que as vendas digitais ultrapassassem o CDs e LPs de vinil. Isso aconteceu em 2011 mas, pouco tempo depois os serviços de streaming ganharam a frente geral.

A RIAA (Recording Industry Association of America, a Associação da Indústria de Gravação da América) divulgou na última quinta-feira seu relatório de receita do fim de 2017, mostrando que o download digital despencou 25%, para 1,3 bilhão de dólares, em relação ao ano anterior. A receita de produtos físicos, por outro lado, caiu 4%, para 1,5 bilhão.

Em termos gerais, a indústria da música cresceu pelo segundo ano consecutivo, marcando o casa dos 8,7 bilhões de dólares em receita total. Este é o melhor resultado desde 2008, segundo o relatório.

Como esperado, quase todo o crescimento foi o resultado do aumento contínuo de serviços de assinatura de música paga, como Spotify e Apple Music. Esses cresceram mais de 50%, para a marca de 5,7 bilhões no ano passado, e responderam por quase dois terços da receita do setor. A mídia física foi responsável por 17%, enquanto os downloads digitais representaram 15%.

Cary Sherman, presidente da RIAA, entretanto, é cauteloso a este respeito, de acordo com o The Washington Post: “Estamos muito satisfeitos com o progresso até agora, mas para colocar os números em contexto, esses dois anos de crescimento apenas retornam o negócio a 60% de ele estava há 10 anos, e isso se ignorarmos a inflação. E não se engane, ainda há muito trabalho a ser feito para tornar esse crescimento sustentável a longo prazo”, afirmou o executivo.

As perspectivas para os downloads digitais, entretanto, não são das melhores, pois segundo a RIAA é o terceiro ano consecutivo em que eles registraram queda de dois dígitos. E esta é a primeira vez desde 2011 que eles estão atrás da mídia de música física. Se a tendência continuar, eles poderão acabar seguindo o caminho do Cartucho (ou Stereo 8), que foi ultrapassado no início dos anos 80 pela fita cassete, ou K7.

Já no campo da mídia física, os CDs e LPs, podemos comemorar com ressalvas. O CD continua em declínio, diminuindo 6% e marcando 1,1 bilhão em 2017, enquanto o vinil subiu 10%, para 395 milhões no mesmo período. Este foi o “ponto positivo nos formatos físicos”, segundo a RIAA. E por mais que seja uma pequena fração, já foi o suficiente para convencer a Sony, no ano passado, a voltar a produzir LPs, a primeira vez em 28 anos.

O que pode ser concluído com esse relatório? Em primeiro lugar, serviços de streaming são os grandes concorrentes do download digital. Com a Internet se tornando cada vez mais rápida em termos globais e os serviços como Spotify ampliando o acervo disponível, se torna muito mais prático para o usuário usufruir da música “na nuvem”, ao invés de guardá-la no seu dispositivo móvel ou disco rígido.

O único problema é que esse tipo de serviço ainda não é lucrativo, tanto para as empresas que o oferecem quanto para os artistas e gravadoras, que não ficam satisfeitos com os royalties pagos. Então, ajustes ainda serão feitos no formato de negócios do sistema.

Já no caso dos CDs e LPs, o caso é outro. Atualmente os artistas e gravadoras estão tendo um grande cuidado para oferecer ao público produtos com qualidade de colecionador. É comum os lançamentos terem múltiplos formatos, algo que atende a diferentes necessidades e anseios. Movimentos como o Record Store Day, organização de feiras de vinil em todo o mundo, além de empresas que trazem os toca-discos de volta ao mercado, também devem ser creditados. Juntamente com eles, as vendas casadas: hoje é muito comum nos EUA e Europa, bandas saírem em turnê e venderem on-line o ingresso em conjunto com o CD do novo trabalho. Um exemplo recente foi o de Bon Jovi, que retornou ao topo da Billboard com o álbum “This House Is Not For Sale”.

A indústria da música, mesmo em crescimento, tem hoje a mesma força em comparação aos anos 80 e 90? Não, nem de longe. Fato. Independentemente do formato de música disponível atualmente, houve um brutal declínio após o início  da distribuição ilegal de arquivos em MP3. Artistas diminuíram receita, muitas gravadoras faliram e grandes lojas de disco fecharam as portas, infelizmente. Mas devemos ver com bons olhos todo o esforço conjunto existente para reaquecer o mercado visando o que é mais importante: o consumidor, com preços atraentes e materiais de qualidade.

A Tower Records, outrora gigante do comércio de CDs e LPs, foi um dos grandes símbolos do declínio da indústria musical | Foto: reprodução - Wikipedia
A Tower Records, outrora gigante do comércio de CDs e LPs, foi um dos grandes símbolos do declínio da indústria musical | Foto: reprodução - Wikipedia
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