Converse All Star: a vanguarda de todos os estilos

Marca se tornou um fenômeno multicultural, transcendendo definições de moda, música, esportes, tribos e, principalmente, tempo

Converse All Star | Foto: divulgação
Converse All Star | Foto: divulgação

Não é exatamente corriqueiro que um ícone comercial da cultura pop sobreviva por tanto tempo, de forma tão notória e convincente, ainda mais quando falamos de um elemento tão comum ao vestuário, com tantos concorrentes de alto nível mundo afora: o tênis. Agora, imagine um tênis cuja identidade, qualidade e apelo estético sejam tão próximos da perfeição, que conseguiu fazer com que a marca tivesse penetração não simplesmente através de alguns anos, mas de todo um século, adentrando também ao seguinte com a mesma presença na memória afetiva de seus consumidores. Muito mais do que um simples fenômeno de marketing, resultado de uma revolução do design e, obviamente, dos costumes.

Fundada em 1908, por Marquis Mills Converse, sob o nome Converse Rubber Shoe Company, em Malden, Massachusetts, a empresa até então especializada em galochas lança, em sua primeira década de existência, um tênis cujo público-alvo eram os praticantes de basketball. Estamos falando do mais do que icônico Converse All Star.

Pode-se dizer que quase todos calçam ou em algum momento já calçaram um All Star: atletas profissionais e amadores, skatistas, motociclistas, rebeldes, caretas, ricos, pobres, além de um sem número de fãs e profissionais da música, dentro de praticamente todos os estilos e categorias do Rock and Roll.

Modelos variados | Foto: divulgação
Modelos variados | Foto: divulgação

Ao longo dos anos, a imagem do All Star ficou permanentemente associada ao rock. De punks a headbangers, de posers a alternativos, em uma primeira análise crua e empírica, tanto quanto os coturnos, tênis brancos, jeans, correntes, jaquetas de couro e penteados desafiadores para cada época e contexto, vemos incontáveis modelos presentes em todos os movimentos culturais ligados ao estilo.

Fazendo um levantamento de registros fotográficos, não raro podemos constatar a absoluta importância dos produtos Converse como algo que moldou diversas identidades visuais, envolvendo muitas pessoas dentro do rock. Não por um acaso, vários foram criados em homenagem a bandas e músicos. Já foram produzidos: AC/DC, Metallica, Black Sabbath, Pink Floyd, The Who, Ozzy Osbourne, Jimi Hendrix, entre outras referências menos específicas, mas claramente voltados ao mesmo perfil de público.

Mas qual seria de fato a magia que permeia uma marca de fama e tradição equivalentes aos gigantes Coca-Cola e Pepsi, às guitarras Fender e Gibson, à cerveja Budweiser ou aos amplificadores Marshall? Em se tratando de um acessório ou vestimenta, temos uma característica em comum às anteriores e algo ainda raro no segmento em questão: uma identificação individual que transcende o tempo. Crianças, jovens e adultos podem sentir igual atração pela qualidade e visual de vários tipos disponíveis. Você pode olhar para um Converse, hoje, exatamente o mesmo que usava há mais de 25 anos, e comprar o mesmo modelo certo de que ele se adequa a você. E não precisa ser necessariamente adaptado, ter o design revisitado ou coisa parecida. Só se você quiser. Pode-se dizer que entre os fabricantes de tênis, a Converse foi uma das primeiras (ou até a pioneira) em abolir o pensamento de que tênis é algo “para crianças e jovens”, ou simplesmente para “socialmente desajustados”.

Estampas criativas para qualquer gosto | Foto: divulgação
Estampas criativas para qualquer gosto | Foto: divulgação

A fórmula é simples: tecido, borracha, tinta, metal e inspiração. Com um conceito tão simples, arrojado e certeiro, já há algum tempo muita gente customiza seus próprios All Stars (há inclusive blogs dedicados à marca e suas variações personalizadas) e até o site do fabricante oferece essa possibilidade entre seus produtos e serviços. Temos algum nível de certeza sobre o quanto uma empresa acertou em cheio, quando as pessoas espontaneamente reúnem-se para, de certa maneira, reverenciar um produto. E olha eu aqui fazendo exatamente isso, visto que sou um ardoroso entusiasta dessa mesma marca.

Falando novamente sobre a linha de tempo da Converse, é inegável que ao unir-se à empresa, Charles “Chuck” Taylor entrou para a história ao ser a peça fundamental na exposição em grande escala do Converse All Star através da divulgação do basquetebol, sua paixão. Uma curiosidade sobre Chuck Taylor: foi ele quem criou, em 1935, o modelo de bolas sem costuras usado até hoje no esporte – sim, nesse período ainda se usavam costuras externas como forma de fechamento.

Graças a esse homem, o tênis passou a praticamente fazer parte do “uniforme oficial” de quase todos os times de basquetebol dos Estados Unidos em sua época. Pois é, a famosa assinatura de Chuck Taylor incorporada ao logotipo é bem mais do que merecida. Com o passar dos anos, outros participaram do crescimento da Converse, como Jack Purcell, o campeão de badminton, entre outros colaboradores.

Contudo, a empresa esteve envolvida não só com a área esportiva, mas também no suporte interno em relação à II Guerra Mundial, fornecendo calçados para o treinamento básico de tropas norte-americanas (com o Chuck Taylor All Star), bem como criando e abastecendo o exército com o belíssimo e funcional modelo para combate, o incrível A6 Flying Boot (uma obra-prima, diga-se de passagem).

Na esquerda uma A6 Flying Boot feita pela U.S. Rubber Company; as demais fabricadas pela Converse entre 1944 e 1945 | Foto: Ed Nored - 303rdbg.com
Na esquerda uma A6 Flying Boot feita pela U.S. Rubber Company; as demais fabricadas pela Converse entre 1944 e 1945 | Foto: Ed Nored - 303rdbg.com

Do pós-Guerra até os anos 70 e além, a Converse All Star desenvolveu diversos modelos, introduziu cores, edições especiais, comemorativas, patrocinou as Olimpíadas de Los Angeles (1984), criou campanhas, lançou novas linhas de assinatura, em suma, deu continuidade a suas atitudes de vanguarda, cresceu, se adaptou e, principalmente, manteve-se fiel a sua originalidade, fazendo jus à cumplicidade de seus milhões de clientes por mais de 100 anos.

Novas temáticas foram constantemente introduzidas, não somente de rock. De séries dedicadas a super-heróis da DC Comics (fundamentalmente Batman e Superman), passando por temáticas teen, militares, góticos, inspirados em tartans (aquelas estampas com padronagem xadrez, utilizadas nos famosos kilts escoceses), outras com referências simbólicas ou genéricas e estilizadas, sejam de cano alto, baixo, de lona, couro, monocromáticos, multicoloridos, com fivelas, velcros ou cadarços… Não importa se moderninhos ou clássicos, a criatividade da Converse All Star parece ser inesgotável.

Séries dedicadas a super-heróis da DC Comics | Foto: divulgação
Séries dedicadas a super-heróis da DC Comics | Foto: divulgação

Ainda que possamos entender que há a necessidade de se manter um foco, um plus da Converse é justamente saber se moldar aos novos tempos, sem abrir mão daquilo que pode ser apontado como um de seus maiores diferenciais: atitude. Uma atitude tão aguerrida no que diz respeito a sua visão, missão e valores que, por sorte, coincidência ou destino, caiu em cheio no gosto de seus consumidores desde o início de tudo e assim permanece.

Engraçado isso, mas falamos de uma empresa de calçados que pode dizer que tem verdadeiramente fãs em todo o mundo, desde muito antes das marcas de uma maneira geral conseguirem gerar esse tipo de sentimento espontaneamente entre seus consumidores. Estar à frente de seu tempo é típico de grandes empresários, músicos, pintores, poetas e outros tantos.

O nível de empatia e reconhecimento provocado por uma marca é um excelente termômetro no mundo dos negócios, sendo melhor ainda quando essa sintonia está presente em tantos e diferentes grupos culturais, ano após ano, década após década. Apesar de, em 2003, ter sido comprada pela poderosa Nike, que continuou com a sua produção, o legado criado pela Converse All Star segue inabalável nas cabeças – e pés – de jovens e veteranos de todas as gerações.

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