Mesmo com público pequeno, banda mostra o porquê de serem fundamentais ao Stoner Rock
Fotos: Alexandre Cavalcanti
Corrosion of Conformity
13/05/2018, Teatro Odisséia, Rio de Janeiro/RJ
Despojado em seu jeans surrado, camiseta sem estampa e cabelo desgrenhado, o veterano Mike Dean caminha pelo palco como quem passeia com seu cachorro; empunha o baixo e vira para o amplificador. Toca um pequeno improviso até John Green – técnico de bateria da banda quebrando um galho enquanto Reed Mullin se recupera de uma cirurgia no joelho -, acompanhá-lo no começo de “Bottom Feeder (El que Come Abajo)”, instrumental do magnífico “Wiseblood”, de 1996. Outro fundador, Woody Weatherman – sorriso largo enfiado em sua característica camisa preta de mangas cortadas -, dispara de sua guitarra modelo SG, um poderoso riff. Último a entrar, Pepper Keenan, também com uma SG, é recebido de forma calorosa e dobra o peso da música.
E peso foi o que revestiu as paredes suarentas do Teatro Odisséia, sobretudo na nova “The Luddite”, do recém-lançado “No Cross No Crown” (2018), que marca o retorno do vocalista e guitarrista (Keenan saiu em 2006 e voltou em 2014).
Formada no início dos anos 80, a banda americana foi uma das pioneiras do crossover, indo do hardcore curto e grosso ao thrash mais trabalhado. O núcleo central do Corrosion of Conformity era o trio composto por Dean, Weatherman e Mullin. Muitas formações se sucederam até que, em 1993, eles fixaram-se no quarteto considerado clássico. A partir de então, adotaram a influência explícita de Black Sabbath, Thin Lizzy e southern rock para criar seu stoner rock bem particular. O álbum que marca essa nova sonoridade é “Deliverance”, de 1994, e é dele que atacam duas pedradas: “Broken Man” e “Senor Limpio”. Peso e groove na medida para os vocais de Pepper.
Em uma de suas poucas falas, o vocalista comentou que “as cosias estão bem estranhas” em seu país e anunciou “Long Whip/Big America”. A banda sempre teve postura e letras politizadas. Não à toa, Keenan enverga uma camiseta com os dizeres “fodam-se todos os políticos” (adquirida na lendária loja Woodstock Discos, de São Paulo, local que hoje também abriga o show room oficial da gravadora Nuclear Blast no Brasil, onde haviam feito uma sessão de autógrafos), com direito a um dedo médio em riste. O pequeno público aprovou.
Mereciam casa cheia, mas quem saiu no domingo de dia das mães para o show do Corrosion of Conformity no Rio de Janeiro não teve do que reclamar e conferiu como são excelentes de palco.
Mike Dean passa a maior parte do show no fundo do palco, junto ao amplificador e de olhos fechados. Tal qual um músico de jazz faria. Elegância ao tocar, vai do simples ao rebuscado, deixando o campo livre para o brilho dos guitarristas. A dupla Keenan/Weatherman é extremamente afiada, seja nos poderosos riffs da sulista “Who’s Got The Fire” ou entremeando riffs pesados com licks melódicos e solos dobrados, à la Thin Lizzy, em “Seven Days”. O jovem baterista John Green deu conta do recado com cadência, força e precisão muito necessárias ao peso punk-metálico de “Paranoid Opioid”, que fez o público agitar mais.
Quando a sua banda é considerada um dos pilares de um subgênero, que se traduzido livremente significa “rock chapado”, talvez seja necessário fazer jus a classificação. Bem, Pepper anuncia mais uma de cunho mais político, a poderosa “Vote With a Bullet” – única cantada por ele em “Blind” (1991), no qual o vocalista era Karl Agell –, apenas para se dar conta que ia tocar a música errada. As latas de cerveja, derramadas goela adentro, fizeram algum efeito. “Acontece de vez em quando”, se desculpou rindo. Equívoco desfeito, desaceleraram com “13 Angels”, bela faixa do injustiçado “America’s Volume Dealer” (2000). Agora, sim, hora de votar com um projétil.
“Essa música é sobre ficar ‘chapado’, sabem como?”, introduziu Pepper. Não dá para negar, “Albatross” é um clássico do stoner. Mas ninguém ficou em estado letárgico, pelo contrário. Se a ave é puro Sabbath, “Clean My Wounds” é Thin Lizzy elevado ao quadrado.
Mesmo curto – cerca de uma hora e vinte minutos -, o carisma e importância do grupo, aliados a uma bela seleção de músicas (tudo bem, caberiam mais umas três ou quatro facilmente), fez a alegria de quem esperava há algumas décadas por esses velhos punks da Carolina do Norte.
1. Bottom Feeder (El que Come Abajo)
2. The Luddite
3. Broken Man
4. Senor Limpio
5. Long Whip/Big America
6. Wiseblood
7. Who’s Got The Fire
8. Seven Days
9. Paranoid Opioid
10. 13 Angels
11. Vote With a Bullet
12. Wolf Named Crow
13. Albatross
14. Clean My Wounds