Em noite nostálgica, banda americana de crossover mostra o porquê da sua influência
Fotos: Alexandre Cavalcanti
D.R.I.
15/04/2018, Teatro Odisséia, Rio de Janeiro/RJ
A cena parecia pertencer a uma banda iniciante. No apertado palco do Teatro Odisséia, um bem humorado Spike Cassidy (guitarra e vocais) ajusta seu equipamento. Sem muito sucesso. O baterista Rob Rampy luta para acertar seu kit. Igualmente sem muito sucesso. Descansado, o baixista Greg Orr (também do Attitude Adjustment) circula de um lado para o outro. Kurt Brecht, o cantor, não está por perto. Durante 40 minutos, coube aos músicos a tarefa de preparar seus instrumentos.
O D.R.I. não tem frescuras e tem humor a toda prova. Chegando a fazer piada sobre os problemas técnicos. Os pioneiros do crossover – híbrido de hardcore com thrash metal –, mesmo com 36 anos de estrada, mostram a mesma disposição do início da carreira – em Houston, Texas. Evidenciado quando, finalmente, irrompem com “The Application”, “Hooked” e “How to Act”, deixando a solução das questões técnicas para depois. Imediatamente, uma grande roda se forma e gira sem parar. Cabeludos, carecas, punks, headbangers, não importa, o negócio é agitar da melhor forma possível.
Infelizmente, os problemas com guitarra e bateria persistem pelos 20 minutos iniciais do show, fazendo a banda não engatar uma música na outra e seguir em sua velocidade acelerada. Isso não os impede de desfilar músicas de todos os álbuns e EPs, como prometido por Kurt – ele e Spike são os remanescentes da formação original. Tocam, na íntegra e na ordem, o último lançamento, “But Wait…There’s More”, de 2016.
Mesmo com apenas três inéditas (“Mad Man” e “Couch Slouch” são regravações do período hardcore) e diante de um hiato fonográfico – seu último álbum, “Full Speed Ahead”, é do longínquo 1995 –, o D.R.I. consegue permanecer relevante. Mas ainda devem um belo álbum para continuar o legado.
O lado mais thrash surge com a trinca “Acid Rain”, “Probation” e “Abduction”. Só para dar passagem a seis hardcores emendados. Para quem pouco conhece o grupo, pode ocorrer uma sensação de similaridade. Muito por conta da identidade desenvolvida e impressa em todas as músicas, seja na curtíssima “Who Am I” (menos de um minuto) ou na trabalhada “Suit Tie Guy” (quase quatro minutos), do clássico “4 of a Kind”, que completa 30 anos e só perde em importância para o divisor de águas, “Crossover” (1987).
O D.R.I. não é um dos mais importantes da cena hardcore/thrash à toa. Influenciaram de Slayer a Ratos de Porão, passando por Suicidal Tendencies, S.O.D. e Nuclear Assault. Foi com o álbum de 1989, “Thrashzone”, que consolidaram a entrada no thrash metal. E foi dele o petardo “Thrashard”. O público entendeu a mensagem.
Enquanto os mais jovens vão do crowd surf ao pogo com muita disposição, a ala mais experiente, que acompanha o grupo desde meados dos anos 80, assiste ao show com atenção. E isso não seria necessário para encarar a parte final do set. “All or Nothing” e “Beneath the Wheel” tiram o fôlego de todos, mas foi soar o acorde inicial de “The Five Year Plan” para a união se concretizar em comemoração a essa volta ao passado.
Deu vontade de pegar um boné com a logo da banda, levantar a aba, calçar aquele reebok branco de cano alto e colocar a calça rasgada para dentro dos tênis.
1. The Application
2. Hooked
3. How to Act
4. Commuter Man
5. Problem Addict
6. Snap
7. I’d Rather Be Sleeping
8. Soup Kitchen
9. Violent Pacification
10. Against Me
11. Anonymity
12. As Seen on TV
13. Mad Man
14. Couch Slouch
15. Acid Rain
16. Probation
17. Abduction
18. Argument Then War
19. Equal People
20. Yes Ma’am
21. The Explorer
22. Karma
23. Who Am I?
24. Slumlord
25. Dead in a Ditch
26. Suit & Tie Guy
27. Syringes in the Sandbox
28. Thrashard
29. All or Nothing
30. Manifest Destiny
31. I Don´t Need Society
32. Beneath the Wheel
33. The Five Year Plan