Não foi devido ao acidente com o baterista Rick Allen que banda inglesa deixou de se apresentar no Rock in Rio de 1985
Quando se vê o press release da edição de 2017 do festival Rock in Rio, novamente vem à tona a lenda de que os ingleses do Def Leppard foram substituídos no cast de 1985, pelos também ingleses do Whitesnake, por causa do trágico acidente envolvendo o baterista Rick Allen. “(…) Eles deveriam ter tocado na primeira edição do Rock in Rio, em 1985, mas um acidente, em dezembro de 84, fez com que a banda Def Leppard cancelasse todos os seus compromissos profissionais por cerca de quatro anos (…)”, diz o comunicado oficial.
No entanto, a notícia da recusa da vinda ao Brasil foi divulgada na mídia da época e veio com a justificativa de que o Def Leppard pretendia priorizar as gravações do novo álbum. Portanto, o registro do fato foi feito antes do acidente de Allen, ocorrido a 31 de dezembro de 1984 e que levou, posteriormente, à amputação de seu braço esquerdo.
A coluna “Rock Clips”, de Jamari França, publicada no Jornal do Brasil em 6 de janeiro de 1985, dias antes da realização da primeira edição, estampava o seguinte comentário: “(…) Incrível a coincidência de o Leppard ter cancelado a vinda ao Rock in Rio devido a atraso na gravação do novo disco deles. Se não fosse isso, o Festival estaria com um buraco na programação às vésperas da estréia. Santo bom, hein Medina?”, ironizou o experiente jornalista.
O acidente de Rick Allen
No dia 31 de dezembro de 1984, o baterista estava ao lado de sua namorada, Miriam Barendsen, dirigindo o seu Corvette Stingray em alta velocidade, na estrada A57, nos arredores de Sheffield. O casal se dirigia à casa dos pais de Allen, quando, às 12h50, capotou. O carro terminou de cabeça para baixo em um campo e Allen, que estava com o cinto de segurança mal colocado, foi arremessado para fora do Corvette durante o acidente, tendo o seu braço esquerdo decepado. Miriam, por sua vez, sofreu pequenas escoriações.
Logo após o acidente, o braço decepado foi colocado no gelo recolhido das casas ao redor, com o baterista levado às pressas para o hospital Royal Hallamshire. Após onze horas de cirurgia, os médicos recolocaram o braço. Todavia, três dias depois, um processo infeccioso obrigou os médicos a amputá-lo novamente.
Allen, que pegava a baqueta de forma tradicional, pode ter perdido o peso de sua canhota explosiva na caixa da bateria, mas reaprendeu a tocar utilizando apenas o pé esquerdo e o braço direito para fazer o que normalmente faria com as duas mãos. A ajuda de Bill Ludwig, a criação de um kit especial da Simmons e o apoio de Jeff Rich (Status Quo) – que realizou shows ao lado de Rick – foram fundamentais para que ele brilhasse no “Monsters Of Rock” de 1986, um dos momentos mais marcantes de sua carreira. Era o prenúncio do que os fãs veriam na megaturnê de “Hysteria”, disco que acabou saindo somente em agosto de 1987.
Produzido por Robert John “Mutt” Lange, “Hysteria” tornou-se um sucesso, com mais de 25 milhões de cópias vendidas, colocando o Def Leppard definitivamente no mainstream, com a primeira posição na Billboard 200 dos EUA e na parada UK Albums Chart, do Reino Unido.
Agora, 32 anos depois do primeiro Rock in Rio, e duas décadas após a fracassada primeira passagem pelo País em abril de 1997, quando promovia o questionável “Slang” (1996), o grupo finalmente voltará a se apresentar por aqui. O show está marcado para o dia 21 de setembro, no Palco Mundo do Rock in Rio, na mesma noite em que se apresentam Aerosmith, Fall Out Boy e Scalene. Há rumores de que o grupo ainda se apresente em Curitiba (PR) e São Paulo (SP).
Allen: a inspiração
A bela história de vida de Rick Allen ajudou o brasileiro Jonathan Pôrto, de 20 anos, um fã de rock que tocava guitarra desde os 6 anos de idade. Depois de ter se formado no curso popular de violão e iniciado os estudos em violão clássico, descobriu um tumor cerebral aos treze anos e passou por dois procedimentos cirúrgicos, ficando impossibilitado de seguir tocando devido à hemiparesia no lado esquerdo do corpo. “Gostava muito de tocar guitarra e também violão, mas, em dezembro de 2010, eu tive um tumor cerebral e precisei fazer uma cirurgia para retirá-lo. Com isso, depois fiquei impossibilitado de tocar os instrumentos que tocava, guitarra, violão e contrabaixo”, contou Pôrto.
Ele não desistiu. Mesmo tendo perdido os movimentos do braço esquerdo, e de ser obrigado a implantar uma válvula no cérebro, contou que foi inspirado pelo músico do Def Leppard, apelidado certa vez de ‘miracle man’, e recentemente começou a tocar bateria. “Em 2016, comecei a fazer aulas com o baterista que era da minha banda, o Yuri Fonseca. Foi aí que ele me falou de um baterista que tocava com um braço só. Era Rick Allen, que me inspirou e dei sequência nas aulas de bateria”, acrescentou.
Pôrto, que sonha em se tornar um grande baterista, pode ter abandado a guitarra elétrica, mas seu amor pela música falou mais alto e, incentivado pela irmã, a cantora Nathália Porto, segue firme em seu objetivo. “Se der, quero tocar em uma banda famosa”, concluiu com bom humor.
Para ver:
“Hysteria: The Def Leppard Story” (2001, Paramount Pictures)
Para ler: