Tecladista lança álbum solo, mas seu primeiro compromisso será sempre ao lado de Axl Rose
Perguntinha de quiz rápida: além do vocalista Axl Rose, quem é o único integrante presente em todas as formações do Guns N’ Roses a partir do álbum “Use Your Illusion” (1991)? Se você respondeu Dizzy Reed, acertou. Mesmo nos anos de total inatividade e durante a porta giratória de integrantes que foi a banda, Dizzy continuou firme ao lado de Axl, com exceção a períodos livres em que tocou com o Thin Lizzy e o The Dead Daisies. Todo esse tempo disponível fez com que o músico compusesse e tivesse material suficiente para lançar um álbum solo. Foi para falar sobre isso, e claro, sobre sua banda principal que batemos um papo com o simpático Dizzy Reed.
Seu álbum solo, “Rock and Roll Ain’t Easy”, demorou mais de dez anos para ser lançado. Como foi todo esse processo?
Dizzy Reed: Com certeza foi, no mínimo, um trabalho feito sem pensar nos benefícios comerciais e demorou muito tempo por várias razões. Gostaria que tivesse saído há muito tempo, mas acho que aconteceu assim por algum motivo porque, no final das contas, acabei com as pessoas e o selo certos. E, às vezes, é assim que as coisas funcionam.
Quando tenho uma ideia, a primeira coisa que penso é no Guns (…) Nesse caso, gravei umas ideias para letras e melodias e a finalidade foi cada vez ficando mais clara” – Dizzy Reed
De onde vieram essas músicas? A intenção sempre foi um projeto solo ou você foi compondo-as para levá-las ao Guns N’ Roses ou Slash?
Dizzy Reed: Acho que elas estavam na minha cabeça e eu precisava tirá-las de lá. É claro que quando tenho uma ideia, a primeira coisa que penso é no Guns, porque seria burro se não pensasse. Porém, nesse caso, gravei umas ideias para letras e melodias e a finalidade foi cada vez ficando mais clara.
Quem participa do álbum além de Mike Duda (baixo, W.A.S.P.) e Alex Grossi (guitarra, Quiet Riot)?
Dizzy Reed: Bem, é uma lista longa de pessoas, porque fomos gravar sem uma banda, o que é bem mais difícil do que achei que fosse ser. Del James (tour manager do Guns N’Roses) produziu o álbum comigo e foi muito bom em montar esse tipo de “Frankenstein”, com tantas pessoas de bandas diferentes. Tudo se resumiu a quando elas estavam disponíveis. Mike Duda está nele, assim como meu velho amigo Richard Fortus (guitarra, Guns N’Roses, The Dead Daisies). Foram os maiores motivadores desse álbum junto com Del. Eu tinha algumas demos comigo cantando que gravei no estúdio da minha casa. Sempre digo que uma das coisas que mais gosto de fazer é ficar bêbado e mostrar minhas demos para os amigos. Foi o que fiz, e eles me convenceram a gravar oficialmente. Tiveram grande participação na gravação! A performance de Richard foi sensacional e Mike tocou em algumas músicas. Sem querer diminuir a participação de ninguém, todos que tocaram foram incríveis. Tenho muita sorte de ter amigos com esse nível de talento, que puderam contribuir para o álbum.
Fale um pouco mais sobre Richard Fortus, que tocou com você no The Dead Daisies, mas também tem projetos como Psychedelic Furs e já tocou no Thin Lizzy. O que ele trouxe para esse álbum e qual a contribuição dele no que faz o Guns N’Roses? Qual o nível de qualidade dele como músico, já que, às vezes, o ignoramos como instrumentista?
Dizzy Reed: Para mim, é difícil ignorá-lo. Eu também toquei no Pyschedelic Furs, já que Richie arrumou para eu tocar com eles. Aliás, Mars Williams, saxofonista deles, também toca em duas músicas do meu álbum. Mas Richard eleva o padrão. É muito versátil, super talentoso, tem um visual muito legal e de fácil convivência. É vantagem para todo mundo.
E sobre a turnê “Hookers & Blow”, que fará ao lado do The Dead Daisies? O show será apenas com material do Hookers & Blow ou incluirá seu material solo?
Dizzy Reed: Sim, com certeza iremos tocar músicas do meu álbum, já começamos a incorporá-las no set. Tentei manter as coisas separadas por um tempo, mas agora que o disco saiu, posso muito bem tocar algumas delas ao vivo. Não sei se vou me juntar ao Dead Daisies no palco ou não. Teremos que discutir isso.
Slash e Duff fazem as músicas soarem como Guns N’Roses (…) É muito legal que estejamos tocando e sei que os fãs estão gostando. É uma sensação boa” – Dizzy Reed
Sobre o Hookers & Blow, haverá um álbum? Digo isso porque você se tornou conhecido nos anos 90 e não há muitos álbuns em que tenha participado. Pretende aparecer mais e fazer esse lançamento?
Dizzy Reed: Quando começamos o Hookers & Blow há uns quinze anos, um dos principais objetivos era fazer exatamente o contrário do que estávamos fazendo nas nossas carreiras. Não ter um contrato, realmente desencanar. Acho que em certo momento passamos a nos importar um pouco e nos tornamos um ativo de entretenimento um pouco mais viável, por assim dizer. Não nos vejo fazendo um álbum no futuro. Mas nunca se sabe, tudo pode acontecer.
Voltando ao Guns N’ Roses, pude ver três shows com Slash e Duff e tinha visto os da turnê de “Chinese Democracy”. O que eles trazem de novo para essas músicas? O álbum realmente foi negligenciado, mas com esses dois tocando ao vivo as músicas parecem ganhar uma dimensão extra e se transformam em verdadeiras músicas do GNR. É isso que vocês também sentem?
Dizzy Reed: Olha, em primeiro lugar, dei tudo de mim por um longo tempo em “Chinese Democracy”. Tenho muito orgulho dele. Mas, sim, Slash e Duff fazem as músicas soarem como Guns N’Roses. E acho que, muitas vezes, era assim mesmo que eram para soar. É muito legal que estejamos tocando essas músicas e sei que os fãs estão gostando. É uma sensação boa, digamos assim.
Você vai ao show querendo ouvir “Welcome To The Jungle” e “You Could Be Mine”, mas escuta “Chinese Democracy”, “Better” ou “This I Love” com Slash tocando e percebe que é como deveria ser. Não diminuindo quem tocou no álbum, mas dá aquele algo a mais. Com todos os shows e tudo que vem sendo gravado nesse último ano, ano e meio, acha que teremos um álbum ao vivo do Guns? A banda vai lançar alguma coisa?
Dizzy Reed: Com certeza você vai saber antes de mim! (risos)
Voltando ao seu trabalho solo, o álbum soa como um old-school de rock’n’ roll e tem um clima meio Rolling Stones. Quais as suas influências e o que tentou colocar nesse álbum?
Dizzy Reed: Uma você já falou. Rolling Stones, com certeza. Se for citar apenas uma, é minha maior influência em termos de produção. Comecei a tocar rock na frente de um público com 12 anos de idade, há muito tempo. Quando comprei o (álbum ao vivo dos Stones) “Get Yer Ya-Ya’s Out”, descobri que minha banda podia tocar aquelas músicas deles ao vivo, porque as versões ali eram mais cruas. Mas música boa é música boa e isso foi algo que levei comigo para o que quer que fosse fazer. Enfim, Stones e a grande maioria das bandas clássicas. Mas também, estando no Guns há tanto tempo, perto do que eles fazem e como eles fazem e aprendendo com eles por todos esses anos, com certeza teve muito a ver com como fizemos esse álbum. Tive muita sorte em trabalhar com eles por tanto tempo e observar tudo em primeira mão. E eu prestei atenção.
Amo tocar, viajar, falar com as pessoas, me divertir. Para mim, não há nada mais legal que isso. Van, ônibus, avião, para mim não importa” – Dizzy Reed
Já que mencionou o GNR mais uma vez, como foi quando entrou na banda? Ela tinha feito muito sucesso com os cinco membros originais e você ainda somou mais alguma coisa nos dois “Use Your Illusion” e, claro, na turnê. Como foi essa época e ser parte de toda aquela loucura de produção monstruosa, já que passaram de bares para estádios ao redor do mundo?
Dizzy Reed: E depois de volta aos bares!
Verdade.
Dizzy Reed: (risos) Foi incrível, uma grande experiência, é difícil descrever. Muitas pessoas não passam por nada semelhante. De muitas formas, parecia que era o destino para mim. Conhecia os caras há muito tempo e me lembro da primeira vez que os vi no (clube de Los Angeles) Troubadour. Muita gente estava com ciúme e ódio da banda porque faziam algo diferente. Quando os vi tocando eu queria sair da minha banda e entrar na deles. E no final das contas, aconteceu. Axl tinha uma ideia na cabeça dele, tinha um plano de ter um tecladista em algum momento na carreira e me disse bem no início que seria eu. E ele honrou sua palavra. Eu só fazia o que devia fazer, o que era necessário fazer e gostei muito disso.
E o que o faz sair de uma turnê nesse verão por estádios e festivais pelo mundo e entrar numa van e se juntar ao The Dead Daisies com o Hookers & Blow para tocar em lugares minúsculos? Por que não ficar em casa e aproveitar os frutos de seu trabalho no Guns?
Dizzy Reed: Pois é, minha esposa me fez essa mesma pergunta (risos). Então, vou levá-la junto. Olha, eu adoro tocar, de verdade. Meus filhos estão todos criados e não precisam mais de mim para ir para a escola. Já estão indo para faculdade. O que mais eu vou fazer? Amo tocar, viajar, falar com as pessoas, me divertir. Para mim, não há nada mais legal que isso. Van, ônibus, avião, para mim não importa. Acho que nasci para isso e é o que adoro fazer.
Você mencionou o Troubadour. Conte sobre aquele primeiro show com a volta da formação original no dia 1º de abril de ano passado. Todo mundo achou que era uma piada do dia da mentira, mas foi realmente algo único e especial. Como estava o clima, pois havia uma sensação de que se desse errado tudo iria por água abaixo? Fale sobre a pressão, a alegria e a sensação de triunfo, se é que houve uma, depois que tudo terminou.
Dizzy Reed: Acho que sempre há um pouco de pressão por causa do nível que a banda possui e o que as pessoas esperam. Não tanto para mim, mas mais para os outros. Não sei, acho que foi um pouco emocionante para mim porque costumava dormir no andar de cima do Troubadour quando não tinha lugar para ficar. Tem muita história naquele lugar. O primeiro show que fiz em Los Angeles foi lá. Foi demais. E, além disso, havia muita gente ali que eu não via há muito tempo. Tinha TV, foi algo importante. Foi tipo um redemoinho que passou. Mas a sensação foi boa, uma ótima maneira de começar as coisas, com certeza.
Sobre sair do Guns N’ Roses, o que eu iria fazer que seria melhor do que isso? Para onde iria depois do Guns N’ Roses? Não há muitas opções, se é que há alguma” – Dizzy Reed
Durante os anos, enquanto a banda mudava de músicos, você permaneceu lado ao lado com Axl. O que o fez ficar, apesar de ter havido anos mais improdutivos, sem nenhuma ação? Por que você não foi se juntar à banda X, Y ou Z? Quer dizer, você tocou com o Dead Daisies…
Dizzy Reed: Sim, mas isso sempre foi uma coisa que fiz por diversão. Fizemos grandes músicas e shows e pude tocar com ótimos músicos, mas nunca foi uma coisa permanente. Sobre sair do Guns N’ Roses, o que eu iria fazer que seria melhor do que isso? Para onde iria depois do Guns N’ Roses? Não há muitas opções, se é que há alguma.
Só os Rolling Stones!
Dizzy Reed: Seria uma decisão difícil (risos). Mas meu telefone não estava tocando. Axl me deu essa oportunidade e sou eternamente grato por ela. Assim, decidi ficar. Tínhamos várias coisas que precisávamos finalizar e essa é minha forma de ser. Acredito que se alguém faz algo assim por você, a lealdade é a melhor coisa.
E deve ser incrivelmente recompensador ver o que está acontecendo com a banda agora, porque em 2014 vocês tocaram no Canadá para 2.300 pessoas e quando voltaram tocaram para 15 mil. Deve ser bom ver que tomou a decisão correta!
Dizzy Reed: Sim, eu não me arrependo de forma nenhuma, acho fantástico. E é ótimo para os fãs também, todos os shows têm sido maravilhosos e a banda está muito bem. Estou feliz pra cacete de estar aqui.
Todos dizem que o Guns deve fazer um novo álbum, mas você acha que isso é mesmo necessário? Se olhar para a quantidade de público, a venda de ingressos, a empolgação com relação ao novo box-set. Músicas novas são algo realmente necessário para uma banda como vocês num momento como esse?
Dizzy Reed: Eu não sei se é necessário para qualquer um, para falar a verdade. Se houver boas ideias, por que não gravar e lançar? Não posso dizer se é necessário ou não, eu não sei. Seria maravilhoso, mas veremos.
Falando sobre o seu álbum novamente. Já que ele demorou dez anos para ser lançado, imagino que em dez anos você não compôs apenas 12 ou 13 músicas, mas muitas mais. Há um prazo para um segundo álbum de Dizzy Reed no próximo ano, ou dois anos? Ou será só esse e vamos em frente?
Dizzy Reed: Com certeza adoraria lançar mais coisas. Isso irá acontecer e não vai demorar dez anos porque nessa última década eu aprendi muito. O que fazer, o que não fazer e como fazer. Devo dizer que a melhor coisa sobre esse álbum é que eu queria lançar. Foram tantos obstáculos e barreiras, que tive que deixar para segundo plano muitas vezes. Minha prioridade é o Guns N’ Roses e, como estávamos trabalhando, eu nem me importei com as minhas coisas. Depois trabalhei por um tempo com o Dead Daisies. Logo, assim que saiu, senti um alívio. Por isso, a melhor coisa é que eu não tinha expectativas, o que é bom. Por enquanto todo o feedback e as opiniões que ouvi têm sido positivos, mas isso é a cereja no bolo. Mas, independentemente disso, há muitas músicas que gostaria de lançar, então com certeza haverá outro álbum.
Com certeza quero continuar divulgando esse álbum e dar-lhe minha total atenção, pelo menos por um tempo. Mas vejamos o que o futuro reserva” – Dizzy Reed
E como foi postar-se atrás do microfone e cantar? Porque conhecemos você como o tecladista que faz alguns backings, mas ficar ali no centro das atenções, como foi isso para você?
Dizzy Reed: Cantar é difícil para caramba! Para todos aí que pensam em serem vocalistas, pensem bem, respirem fundo. É bem difícil. Tenho muito respeito por qualquer um que faça isso em tempo integral. Especialmente pessoas como Axl, que fazem isso nesse nível. É incrível que ele consiga fazer toda noite. Para mim, como disse, formei minha primeira banda com doze anos e começamos a fazer turnês, tocando profissionalmente. Fiquei nessa banda até os vinte anos, e era o vocalista. Mas me tornei o vocalista por falta de opção, já que ninguém conseguia cantar e eu já tinha uma voz aceitável e pratiquei bastante. Porém, fiquei cansado disso, a banda acabou e resolvi tentar a sorte como tecladista. Achei que oportunidades melhores apareceriam apara mim e acho que fiz a escolha certa (risos). Logo, quanto a cantar, é meio natural para mim de certa forma. Acho que a melhor definição é que não me é algo totalmente estranho. Não me sinto totalmente deslocado ali. Mas é difícil e estou tentando melhorar (risos).
E acabou ficando bem legal. Como disse, o álbum tem aquele som meio sujo, tipo Rolling Stones. Vamos voltar ao Guns um pouco. No ano passado, Steven Adler (bateria) se juntou a vocês por cinco shows. Como foi estar no palco com Axl, Slash, Duff e Steven por esses cinco shows? Qual a sensação e a emoção? A reação da plateia foi fenomenal!
Dizzy Reed: Fiquei muito feliz por Steven e pelos fãs. Acho que foi maravilhoso, de verdade.
Como foi trabalhar com Ricky Warwick, frontman do Black Star Riders, que atualmente considero um dos grandes vocalistas de rock? Vocês se conheceram na época do Thin Lizzy.
Dizzy Reed: Olha, conheço Ricky há muitos anos. Eu o conheci através de Del James, lá no início dos anos 90. Nós três fizemos todo o tipo de bagunça naquela época. É um grande cara, um ótimo compositor. Adoro The Almighty (N.T.: banda original de Ricky) e quando ele conseguiu o posto no Thin Lizzy, fiquei muito empolgado por ele, já que era perfeito para isso. Trabalhei com ele numa pré-produção para uma banda chamada Confederacy of Horsepower e toquei nesse álbum que ele produziu. Mantivemos contato através dos anos e aí Del disse que tinha uma ideia para uma música com Ricky, que acabou tornando-se “This Don’t Look Like Vegas” e foi perfeita para o álbum. E ele me ajudou com uma música chamada “Mystery In Exile” com uns acordes que deram à música o impulso que precisava. É ótimo para se trabalhar, grande companhia e pode beber mais que qualquer um, talvez com exceção de mim. É um bom amigo.
Depois que acabarem as turnês do GNR e do Dead Daisies, onde você vê você e quais os projetos para 2019?
Dizzy Reed: Essa é uma boa pergunta. Com certeza quero continuar divulgando esse álbum e dar-lhe minha total atenção, pelo menos por um tempo. Mas vejamos o que o futuro reserva. Se o Guns chamar, é minha prioridade. Você disse que os Stones podem ligar, acho que poderia fazer isso (risos).
Transcrito e traduzido por Carlo Antico.