Requisitado guitarrista conta que não pensava nem em tocar ao vivo quando começou a carreira
John 5 tem uma carreira de causar inveja em muita gente. É o atual guitarrista e principal parceiro de Rob Zombie, já tocou e compôs com Marilyn Manson, David Lee Roth, Paul Stanley, Rob Halford, Lynyrd Skynyrd, Sebastian Bach, entre outros. No momento, acaba de lançar o álbum ao vivo “It’s Alive” com sua banda instrumental, John 5 and the Creatures.
Além do tradicional repertório da banda, o trabalho conta com uma versão instrumental para o hit “Beat It”, de Michael Jackson. “Essa música foi uma grande influência na minha vida! Quando ela saiu, Michael Jackson era visto como algo perfeito, e o fato de ter Eddie Van Halen, meu guitarrista predileto, tocando com ele (N.T.: o solo de “Beat It” é de Eddie Van Halen, o riff inicial de Steve Lukather, do Toto) era uma loucura. Então, eu sempre gostei muito dela e lancei em um álbum instrumental”, explicou. “Além disso, as pessoas sempre gostavam quando eu tocava no meu show”, completou.
Sou obcecado em fazer o melhor que pudermos, porque tocar nossa música é muito difícil. Por isso queria gravar ao vivo, mas o custo é muito alto. É como viajar com um estúdio!” – John 5
O guitarrista explica que parte de sua empolgação com o álbum é porque está ao lado de uma banda composta de grandes músicos. “Sou obcecado em fazer o melhor que pudermos, porque tocar nossa música é muito difícil. Por isso queria gravar ao vivo, mas o custo é muito alto. É como viajar com um estúdio! Estávamos em Sellersville, na Pensilvânia, e o pessoal do teatro de lá perguntou se queríamos gravar a performance, por um preço bem razoável”, revelou. “Tínhamos uma chance para fazer e capturamos um grande show. É o mais ao vivo possível.”
E essa alegação sobre o quão ao vivo é tem uma explicação deveras plausível. “Tenho usado um aparelho para isolar o som da guitarra em todos os shows. Só que, assim que acabamos a turnê, todo meu equipamento já foi para a estrada com Rob Zombie. Então, nem que eu quisesse eu poderia consertar o som da guitarra no estúdio. Se eu tivesse errado, já era. A única coisa que cortamos foi quando avisei o público que nosso baixista estava com diarreia. E era verdade!”, diverte-se.
A capacidade de tocar de forma perfeita apenas reforça a habilidade de John 5 como músico, que, além de virtuoso, consegue tocar qualquer estilo. “Quando comecei, queria aprender tudo que pudesse sobre o instrumento. Era como querer aprender outras línguas, falar japonês, alemão, francês, italiano… Eu fui assim com a guitarra. Queria aprender tudo, não só os acordes, mas o que tudo significava. Afinações, palhetadas, arpejos de banjo, swing, jazz, música clássica… Era obcecado em aprender o máximo que pudesse, por alguma razão que não sei explicar. E é o que faço até hoje. Estava tocando logo antes de você ligar.”
Tendo crescido nos anos 70, não é surpresa que ele cite entre suas influências o Kiss e o Van Halen. Hoje, pode inclusive gozar de uma amizade com o baterista original do primeiro. “Peter Criss é um dos meus melhores amigos. Falo com ele o tempo todo ou pelo menos uma vez a cada dois dias. É uma das melhores pessoas que conheço e vem trabalhando em algumas músicas. Eu não sei o que ele vai fazer com isso. Fez uns lances meio jazz e é uma das melhores coisas que já ouvi na vida. Não estou envolvido nisso, mas é inacreditável. Sentamos no meu carro, na minha garagem e ele colocou para mim. Excelente! Ele tem várias músicas e espero que lance algum dia.”
Estou trabalhando em um novo álbum de Rob Zombie e, olha, nunca falei isso antes: esse é o melhor que ele já fez, de longe. Não tem comparação” – John 5
Entre tantas participações e parcerias há uma, em especial, com Desmond Child, que enche o guitarrista de orgulho pelo tanto que seu talento foi exigido. “Não é fácil, porque você tem que ser bom demais. Já o vi fazer pessoas chorarem no estúdio. Quer excelência e não aceita nada menos que isso. Por sorte, consegui dar a ele todo que pediu”, recordou. “Ele é difícil e um gênio. Um dos maiores compositores da história. Tenho muito orgulho de ter trabalhado com ele, e trabalhei bastante.”
Seu nome artístico é John 5, mas seu sobrenome verdadeiro, Lowery (N.T.: nome completo John William Lowery), aparece no crédito de composições em várias bandas, algumas que as pessoas talvez nem desconfiem, como no caso do Lynyrd Skynyrd. “É engraçado porque sou grande fã da banda. Sei todas as músicas, os álbuns, a história, como tantos ao redor do mundo!”, afirmou. “Minha assessoria recebeu uma ligação da deles perguntando se eu poderia me encontrar com a banda para compor algumas músicas.”
Em Nashville, ninguém tinha sido avisado sobre quem chegaria para trabalhar com a banda. Então, o guitarrista contou que como o clima estava frio, chegou ao estúdio com um casaco de peles enorme e preto, sem sobrancelhas, e um tênis de cada cor… “Parecia um alienígena; aliás, como sempre pareço. Eles acharam que era uma piada, mas, aí, quando comecei a tocar umas músicas de Chet Atkins (N.T.: guitarrista e produtor country, responsável pela criação do chamado Nashville Sound), eles viram do que se tratava”, detalhou. “Fiz algumas das músicas das quais mais tenho orgulho e há uma chamada “Gifted Hands” (N.T.: música que fecha o álbum “God & Guns”, de 2009) sobre o pianista da banda, Billy Powel, que havia falecido que é uma das melhores da minha vida. Adoro os caras do Skynyrd, são ótimas pessoas.”
Quanto ao, digamos, trabalho principal, na banda de Rob Zombie, os fãs podem esperar novidades em breve. “Vou fazer uma turnê para divulgar o álbum ao vivo, coisa que muitas bandas não fazem hoje em dia. Quando eu era garoto nos anos 70, álbuns ao vivo eram o máximo e era normal fazer uma turnê para eles. Também estou trabalhando em um novo álbum de Rob Zombie e, olha, nunca falei isso antes: esse é o melhor que ele já fez, de longe. Não tem comparação. Estamos trabalhando nele e é o ‘Sgt. Pepper’s’ dele”, analisou. “Eu não falo coisas assim. Rob está incrível com as letras e a melodia. Normalmente, ele ouve minhas músicas e cria a melodia e a letra. Dessa vez, escreveu a letra e a melodia para ritmos de bateria e sons, e, assim, criou as letras e melodias mais grudentas e memoráveis da carreira dele. Daí, me chamou para colocar a música. Funcionou muito bem.”
Queria ser músico de estúdio. Nunca pensei que ficaria amigo dos caras do Kiss ou Van Halen. Só queria ser guitarrista. Nunca imaginei subir num palco grande” – John 5
Já foi mencionado que John é fã de Kiss e Van Halen, além de ser amigo pessoal de Peter Criss. Porém, a vida acabou presenteando o garoto que cresceu idolatrando Eddie Van Halen com algo ainda melhor, quando foi chamado para trabalhar ao lado de David Lee Roth no álbum “Slam Dunk” (1998). “Bem, ele é meu herói. Os integrantes do Van Halen eram meus heróis”, enfatizou. “Eu juro por Deus que aconteceu desta forma: estava no sofá da casa de um amigo meu e vi a biografia de David, ‘Crazy From The Heat’, na prateleira. Por causa do livro, resolvi ligar para o manager dele e perguntar o que David estava fazendo, porque na época ele estava meio no limbo. Eu não era ninguém, mas perguntei se David precisava de músicas. Eles disseram que sim e pensei: por que não?”, completou.
Sem receio, o guitarrista foi até um estúdio e, como sabia todos os riffs e licks do Van Halen, mandou músicas que achou que Lee Roth ia gostar. “Mandei ‘Slam Dunk’, ‘Blacklight’, ‘Little Texas’ e eles adoraram. Pediram mais três. Aí mandei, gostaram de novo e fui convidado para me encontrar com David. Ele disse que tinha adorado e que iríamos gravar um álbum. E foi assim. Uma coisa mágica!”
Se essa foi uma experiência inesquecível, John 5 ainda trabalhou com nomes como Scorpions, Marilyn Manson e Meat Loaf: “É estranho porque nunca sonhei com isso. Queria ser músico de estúdio. Nunca pensei que ficaria amigo dos caras do Kiss ou Van Halen. Só queria ser guitarrista. Nunca imaginei subir num palco grande, dar um autógrafo, alguém querer tirar uma foto ou fazer uma entrevista comigo, juro por Deus.”
A cortina se abriu e na primeira fileira estavam Prince, Madonna, Peter Gabriel, todos ali olhando para mim. Arrepiei, pirei” – John 5
O guitarrista confessa que “foi um acidente” e é por isso que aprecia tudo. “Não vejo como algo natural. Mesmo quando estou prestes a fazer o 80° show de uma turnê e estou exausto, dou sempre mil por cento! Tenho muita sorte e sou muito agradecido por tudo. Eu ainda não acredito.”
Porém, apesar de não acreditar até hoje, houve momentos em que o fã dentro dele percebeu que o que acontecia era verdade. “Foi quando estive com k.d. lang. (N.T.: cantora canadense) e tocávamos no primeiro VH1 Fashion Music Awards. A cortina se abriu e na primeira fileira estavam Prince, Madonna, Peter Gabriel, todos ali olhando para mim. Arrepiei, pirei. (risos) Quando sai do palco liguei para minha irmã, não acreditava. Ainda tenho momentos assim.”
John 5 já se apresentou nas maiores casas, estádios e arenas que se possa imaginar, mas esta sensação ainda se repete. Não muito tempo atrás, estava tocando no Whisky A Go-Go, lendária casa de shows em Los Angeles, com sua banda instrumental. “O lugar estava totalmente lotado. Estavam lá Steve Vai e Slash para ver minha banda instrumental! Foi muito esquisito. Com Rob Zombie também, quando abrimos para o Kiss no Chicago Open Air. Viramos duas crianças. Posso garantir que todos os músicos ainda passam por momentos que são especiais”, concluiu.
Transcrito e traduzido por Carlo Antico.