Falecido em 11 de agosto aos 67 anos, músico talentosíssimo e grande amigo, João Kurk deixa muita saudade
Falar de música, dos estúdios, das gravações, dos arranjos e dos músicos sempre foi parte do meu cotidiano nestes 40 anos como profissional de produção musical. Desta vez, a tarefa será extremamente difícil: falar a respeito de um músico de talento, um ser humano de rara qualidade e, sobretudo, de um velho amigo.
No final de 1991, eu estava preparando a produção de um álbum cover sob encomenda de uma gravadora holandesa. “Songs of Alan Parsons” seria um trabalho complicado de se fazer, pois, àquela época, as limitações técnicas dos estúdios que tínhamos, em comparação com os estúdios ingleses e americanos, eram muito maiores do que hoje. Quanto aos músicos eu estava tranquilo, pois para um trabalho deste tipo não nos falta por aqui. O problema estava no solista vocal. Haveria alguém com talento suficiente para cantar em inglês aquele repertório, com qualidade semelhante ao solista original? Eu não conhecia ninguém com este perfil até que, perguntando aqui e ali, um nome apareceu: João Kurk.
Quando o conheci, a amizade surgiu de imediato. Não obstante nossas afinidades musicais, era impossível não simpatizar com aquela figura carismática e amigável. Ele era notívago como eu e, por esta razão, ao longo dos anos, sempre que possível, ficávamos horas em longas conversas telefônicas madrugada adentro, discutindo assuntos que iam da política à gastronomia, do cinema à música, e à tecnologia.
João começou sua carreira no início dos anos setenta (1971) com um grupo chamado Utopia. Depois vieram Terreno Baldio, Rock Memory, Paris, Supertramp, Rockover, Rockstock e, finalmente, Mr. Kurk. Trabalhou comigo como músico, assistente de produção em gravações de discos e shows musicais, foi produtor musical dos álbuns de rock progressivo das bandas Via Lumini e Nave, compositor de jingles e também participou como ator em comerciais de TV.
Trabalhamos juntos em vários projetos: “The Alan Parsons Songbook” (1992), “The Queen Songbook” (1994), “The Supertramp Songbook” (1994) e “Abba Super Hits” (2000). Ele foi meu assistente de produção nos cinco shows “Reflexos”, que produzi em 2002 na antiga casa de shows do bar Supremo Musical, em São Paulo, com os artistas Roberto & Kiko e com as participações de Nelson Ayres, Badi Assad, Marina de la Riva, Camila Titinger, João Parahyba e Claudya.
O que pretendo com este pequeno texto, neste momento, é homenagear de forma singela e afetuosa um grande artista que, desde quando o conheci, sempre teve o meu respeito e admiração. Infelizmente, João Kurk não estará mais comigo e com os milhares de fãs que conquistou com sua voz, com seu talento e suas qualidades como ser humano. Cantava rock como poucos e, certamente, jamais haverá outro igual. Que os deuses da música em algum lugar neste Universo estejam com você, querido João. Foi uma honra ter tido a sua amizade.