Living Colour em São Paulo: muito peso e diversidade

Clique na seta acima para ver em tela cheia

Banda americana mostra todas as facetas de sua música em apresentação única no Brasil

Fotos: Leandro Anhelli

Living Colour
11/05/2018, Tropical Butantã, São Paulo/SP

Faltava pouco para o início do show do Living Colour em São Paulo e não era preciso ser um gênio para sacar o que comandaria a noite de sexta-feira, 11 de maio, no Tropical Butantã. Era só entrar e ver que o palco não tinha nada a não ser os amplificadores e a bateria e reparar no ecletismo das camisetas que circulavam pela plateia: Marilyn Manson, Jamiroquai, Beatles, The Mission, Angra, Kiss, Megadeth, The Casualties, New Model Army, Death e Helloween, entre outras. O que esses dois fatos significam? Independentemente do estilo e de apetrechos no palco, música era o mais importante de tudo. Para reforçar isso, o som mecânico trouxe muita soul music e, então, pontualmente às 22h, a introdução antes de o Living Colour entrar no palco foi “Runnin’ With the Devil” do Van Halen.

Corey Glover | Foto: Leandro Anhelli
Corey Glover | Foto: Leandro Anhelli

O grupo americano entrou tocando o cover de “Preachin’ Blues”, de Robert Johnson, em uma versão pesadíssima, presente em seu mais novo álbum, “Shade”. De cara, dava para ver que o grupo continua muito pesado quando se trata de tocar ao vivo. A agressividade do baixo de Doug Wimbish e da bateria de Wilie Calhoun, somada ao estilo original do guitarrista Vernon Reid, é o que confere ao Living Colour sua sonoridade única: há momentos em que parece até thrash metal de tão pesado, mas sem nunca perder o groove e o suingue – ninguém toca dessa forma! E, claro, a voz. Como continua cantando Corey Glover! Além da beleza natural, ainda está potente tanto nos registros altos como baixos, chegando até a arriscar momentos mais rasgados e guturais excelentes.

Após um breve “Olá!” de Corey foi a vez de “Middle Man”, do icônico e premiado álbum de estreia, “Vivid” (1988). Ao final, coros de “Living Colour” vindos do público e depois de um solo curto de Vernon, mais uma do mesmo disco, “Desperate People”.

A pesadíssima faixa de abertura do novo álbum, “Freedom Of Expression (F.O.X.)”, foi a seguinte, seguida de mais uma de “Vivid”, o groove puro de “Funny Vibe”. Quem conhece a carreira do grupo sabe que ficaram conhecidos pelo ativismo em prol dos direitos humanos, contra a discriminação de todos os tipos e pelo direito das minorias. Logo, nada mais natural, em tempos de Donald Trump, que a execução de uma música chamada “Wall”, com seu refrão “Fuck the Wall”, apesar de ela estar presente em “Stain” (1993), muito antes do atual ocupante da Casa Branca ser qualquer coisa além de um milionário dono de cassinos.

A seguinte foi a versão consagrada para “Memories Can’t Wait” do Talking Heads. Nessa, a guitarra de Reid deu problema e simplesmente sumiu, mas, como era de se esperar, a banda se virou muito bem. Corey então apresentou os integrantes, e o grupo se lançou na versão para “Who Shot Ya?”, do rapper Notorious B.I.G. Aqui cabem duas observações: a primeira é que não é de hoje que os EUA lidam com um problema de mortes de negros por brutalidade policial, mas essa é uma questão que se aprofundou nos últimos anos. Então, faz todo sentido que o Living Colour tenha não só gravado a música, mas feito um clipe para ela. A segunda é que, goste você ou não de Notorius B.I.G., em particular ou de rap em geral, não há como negar que a versão ficou sensacional.

Vernon Reid | Foto: Leandro Anhelli
Vernon Reid | Foto: Leandro Anhelli

Após mais um belo e curto improviso de Vernon, foi a vez da clássica “Open Letter (To a Landlord)”, que teve seu refrão cantado em uníssono. Já estava claro durante a apresentação que o quanto toca o baixista Doug Wimbish chega a ser obsceno. Por isso, não precisava de um solo, mesmo que tenha sido curto e com alguns momentos melódicos bem bonitos.

Depois, a banda tocou uma base de música latina, para emendar com o clássico “Glamour Boys”. O mais legal foi que na parte final (quando Corey diz: “Hey, what do you mean my credit’s no good? Algo como: “Como assim não tenho crédito?”), ele mudou para: “I’ve been singing this song for thirty years and my credit is still no good! (“Canto essa música há trinta anos, e continuo sem crédito!”).

A próxima foi dedicada às mulheres por Vernon, mas aos homens também, por Corey, já que segundo ele, “todos precisam de amor”. Era a deixa para “Love Rears Its Ugly Head”, uma das mais bem recebidas pela plateia.

Emendaram com mais um clássico, “Type”. Talvez, essa seja a que mais soa pesada ao vivo. Também é incrível a velocidade, se comparada com a versão de estúdio – foi nessa que Corey arriscou uns guturais. Na parte mais lenta, a banda ainda conseguiu improvisar um pedaço de “Police and Thieves”, um reggae de Junior Murvin, mas que ficou mais conhecido quando gravado pelo Clash em seu álbum de estreia, homônimo, de 1977.

Em tempos do já citado atual presidente americano e reality shows, nada mais natural que a primeira parte da apresentação fosse encerrada com “Cult of Personality”, para delírio do público.

Doug Wimbish | Foto: Leandro Anhelli
Doug Wimbish | Foto: Leandro Anhelli

Voltaram com “Time’s Up”, faixa título do segundo álbum, lançado em 1990, como não podia deixar de ser, com muito peso. A seguinte surpreendeu: um cover para “Get Up (I Feel Like Being) Sex Machine”, de James Brown, que contou com uma resposta excelente dos fãs. Aí veio a parte que merece ressalvas. Já havia se passado 1h40 de show. Não era momento para um solo de bateria e percussão de dez minutos. Tudo bem, a parte que o palco ficou escuro e Willie tocou baquetas de neon foi legal, mas mesmo assim, não precisava.

O resto da banda voltou e tocaram “Rock and Roll” do Led Zeppelin. Com todo respeito a Robert Plant, mas Corey Glover cantando essa música… Meu Deus, magnífico! Sem fazer a menor força para a voz sair, mesmo que tenha errado e cantado a primeira estrofe novamente no lugar da terceira. Para se despedir, Corey chamou São Paulo de “a melhor cidade do mundo” e Vernon prometeu voltar, antes de cantarem um pedaço de “What’s Your Favorite Color? (Theme Song)” com a galera gritando: “Living Colour!” enquanto ovacionava os músicos.

A banda é realmente brilhante quando se trata de apresentações ao vivo, mas ainda acho que no lugar do cover de James Brown e de um solo de dez minutos de bateria caberiam músicas sensacionais que a banda nunca toca, como “I Want To Know”, “Broken Hearts” e “Solace of You”, para ficar só em três. E já que Corey chamou São Paulo de melhor cidade do mundo, um pedido para a prefeitura: sexta-feira o metrô poderia ficar aberto até a 1 da manhã, como nos sábados. O fato de fechar a meia-noite causou dor de cabeça em muita gente na hora de voltar para casa.

1. Preachin’ Blues (Robert Johnson)
2. Middle Man
3. Desperate People
4. Freedom of Expression (F.O.X.)
5. Funny Vibe
6. Wall
7. Memories Can’t Wait (Talking Heads)
8. Ignorance Is Bliss
9. Who Shot Ya? (The Notorious B.I.G.)
10. Open Letter (To a Landlord)
11. Glamour Boys
12. Who’s That
13. Love Rears Its Ugly Head
14. Type
15. Cult of Personality
16. Time’s Up
17. Get Up (I Feel Like Being a) Sex Machine (James Brown)
18. Rock and Roll (Led Zeppelin)
19. What’s Your Favorite Color?

Will Calhoun | Foto: Leandro Anhelli
Will Calhoun | Foto: Leandro Anhelli
Sioux 66 banner

Últimas notícias

[td_block_social_counter custom_title=”SIGA O ROCKARAMA” facebook=”rockaramarocks” twitter=”rockaramarocks” instagram=”rockaramarocks” open_in_new_window=”y” header_color=”#b51c2a” facebook_app_id=”184492152022640″ facebook_security_key=”cbb02711a74c79041165a05436b82199″ facebook_access_token=”184492152022640|MpsLSXM8JDPDVg6vKwy8BjG02AU”]

Leia também

Comentários

comentários