Moonspell no Rio de Janeiro: terremoto português agita o Teatro Odisseia

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Banda leva história de tragédia portuguesa ao Rio em performance inesquecível

Por Leonardo Melo
Fotos: Daniel Croce

Moonspell
25/04/2018, Teatro Odisseia, Rio de Janeiro/RJ

Lisboa, 1º de novembro de 1755. Feriado. Dia de Todos os Santos na tradição cristã. Dia de festa, de devoção, de celebração da fé. Igrejas lotadas. Naquela manhã de sábado, porém, um terremoto de grande magnitude (calcula-se entre 8,5 e 9 graus na escala Richter) abalou a capital portuguesa, seguido por um tsunami e incêndios que deixaram um rastro de destruição, também em outras áreas do país, vitimando milhares de pessoas. Esse trágico episódio, até hoje apontado como uma das maiores catástrofes naturais da Europa, é o pano de fundo para um dos melhores álbuns de heavy metal lançados no ano passado: “1755”, da banda portuguesa Moonspell, que iniciou no Teatro Odisseia, no Rio de Janeiro, a etapa brasileira de sua nova turnê pela América Latina, e que tem o mais recente disco (o 12º de estúdio) como base.

Fernando Ribeiro e Ricardo Amorim | Foto: Daniel Croce
Fernando Ribeiro e Ricardo Amorim | Foto: Daniel Croce

A apresentação marcou o retorno do grupo de gothic metal à cidade após a elogiada performance no Palco Sunset do Rock in Rio, em setembro de 2015. Já aguardados por um bom público, o quinteto liderado pelo vocalista Fernando Ribeiro subiu ao palco do Odisseia, pouco depois das 21h30, sob gritos e palmas.

Trazendo todas as letras em português, algo até então inédito na carreira de mais de 25 anos da banda, o temático (ou conceitual, como queiram) “1755” foi o destaque do repertório, com oito de suas dez músicas tocadas. Quatro delas já logo de início: ‘Em Nome do Medo’ (originalmente do disco “Alpha Noir”, de 2012, mas que ganhou uma nova versão neste último trabalho); a faixa-título ‘1755’, ‘In Tremor Dei’ e ‘Desastre’.

Um grande painel no fundo do palco e um caprichado jogo de luzes coloridas, que se alternavam a cada canção, reforçavam a atmosfera retratada no álbum, dando apelo teatral ao show. Como auxílio à intensa interpretação conferida a cada música, já amplificada por sua potente voz, que oscila entre passagens limpas e guturais, Fernando Ribeiro explorou vários acessórios e elementos cênicos. Na faixa ‘1755’, por exemplo, surgiu caracterizado como os médicos de peste que tratavam pacientes afetados por doenças infectocontagiosas na Europa da Idade Média (o episódio do terremoto em si ocorreria apenas séculos adiante). O traje sinistro incluía chapéu, sobretudo e uma máscara no formato de cabeça de ave, cujo pronunciado bico exalava substâncias aromáticas que protegiam o especialista do risco de contágio na época.

Ricardo Amorim | Foto: Daniel Croce
Ricardo Amorim | Foto: Daniel Croce

Nas execuções de ‘Em Nome do Medo’, no começo do set, e de ‘Lanterna dos Afogados’ (belo e soturno cover para o hit do Paralamas do Sucesso presente em “1755”), lá no fim da primeira parte do show, uma lamparina à vela erguida pelo cantor chamava a atenção.

Já durante ‘Todos os Santos’, outra do mais recente disco, foi a vez de uma cruz com dois orifícios que projetavam feixes de lasers vermelhos na direção do público. Sem falar em outro crucifixo, menor, agarrado ao pedestal do microfone por todo o show. Ao longo da apresentação, o frontman também recorreu a diversas trocas de figurino, desde jaqueta e colete de couro a casacões – um deles de veludo e capuz, utilizado, por exemplo, durante ‘Vampíria’, do primeiro disco, “Wolfheart” (1995), que o fez lembrar um gigantesco morcego com as asas abertas.

O vocalista também esbanjou muita simpatia, não apenas nos inúmeros agradecimentos ao público, mas em elogios ao Rio de Janeiro. No fim de ‘Night Eternal’, música do álbum de mesmo nome (lançado em 2008) e com boa técnica do baterista Mike Gaspar no pedal duplo e nas viradas, disse que o Rio é a “cidade mais portuguesa do Brasil”, arrancando gritos e aplausos.

Na sequência, logo depois de ‘Opium’, faixa de “Irreligious” (1996), que também contou com ‘Awake!’ e mais duas canções já na parte do bis, Fernando Ribeiro exaltou a participação da plateia como fantástica. Em outro momento, durante o hino ‘Alma Mater’, de “Wolfheart”, chegou a descer do palco para cantar junto aos fãs colados à grade.

Pedro Paixão | Foto: Daniel Croce
Pedro Paixão | Foto: Daniel Croce

Tudo acompanhado, claro, por um time de ótimos instrumentistas, incluindo também Ricardo Amorim com seus timbres e solos cortantes na guitarra, Aires Pereira e seu pulsante baixo de cinco cordas, e Pedro Paixão, que extraía belas melodias de seus teclados atrás de uma estilizada estrutura de peças tubulares.

Ainda na primeira parte da apresentação, o disco “1755” cedeu mais duas músicas, ‘Ruínas’ e ‘Evento’, ao repertório. Entre elas, o Moonspell fez uma dobradinha do álbum “Extinct” (2015), ao tocar ‘Breathe (Until We Are No More)’ e a faixa-título, igualmente bem recebidas pelo público, convertendo a pista do Teatro Odisseia em um mar de braços levantados, punhos cerrados e mãos que reproduziam o icônico chifrinho que é símbolo universal do heavy metal.

No bis, após um breve intervalo sem que o público parasse de gritar o nome da banda um só instante, o quinteto sacou ‘Everything Invaded’, de “The Antidote” (2003), ‘Mephisto’ e ‘Full Moon Madness’, ambas de “Irreligious”, que encerraram um show para ficar na memória.

Ao fim de uma hora e 45 minutos de puro gothic metal, se alguém duvidava que os nossos irmãos portugueses conseguiriam superar aquela apresentação na Cidade do Rock, a noite de 25 de abril de 2018 minou qualquer incerteza a respeito. E no que depender dos fãs cariocas, Fernando Ribeiro e sua trupe já podem carimbar os respectivos passaportes para uma nova visita.

1. Em Nome do Medo
2. 1755
3. In Tremor Dei
4. Desastre
5. Night Eternal
6. Opium
7. Awake!
8. Ruínas
9. Breathe (Until We Are No More)
10. Extinct
11. Evento
12. Todos os Santos
13. Vampiria
14. Alma Mater
15. Lanterna dos Afogados
16. Everything Invaded
17. Mephisto
18. Full Moon Madness

Fernando Ribeiro | Foto: Daniel Croce
Fernando Ribeiro | Foto: Daniel Croce
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