Líder do Trans-Siberian Orchestra e peça fundamental na carreira do Savatage, produtor e músico americano deixou um forte legado musical
O produtor, compositor e músico americano Paul O’Neill, idealizador do Trans-Siberian Orchestra, faleceu ontem, 5 de abril. “Toda a família do Trans-Siberian Orchestra, passada e presente, está com o coração partido ao compartilhar a notícia devastadora que Paul O’Neill faleceu devido a uma doença crônica. Ele era o nosso amigo e nosso líder, um espírito verdadeiramente criativo e uma alma altruísta. “Esta é uma perda profunda e indescritível para nós”, diz o comunicado oficial na página do TSO.
Apesar de já possuir um extenso currículo no mundo da música, O’Neill se tornou conhecido internacionalmente com o Savatage, quando foi lançado o álbum “Hall Of The Mountain King” (1987). Desde então, passou a ser muito mais que um simples produtor para a carreira do grupo americano de heavy metal. Sua participação na coautoria das letras e das músicas fez com que as influências da música clássica e de musicais da Broadway, mesclados ao metal, se tornassem características marcantes no som do Savatage.
Esta simbiose estabelecida na parceria O’Neill/Savatage abriu espaço para voos ainda mais altos quando, na primeira metade da década de 90, foi idealizado o projeto de ópera-rock Trans-Siberian Orchestra. Capitaneado por ele, ao lado de Robert (Bob) Kinkel e o próprio Savatage, a empreitada reuniu uma quantidade imensa de músicos participantes ao longo das mais de duas décadas de atividades – entre eles, mais recentemente, estava o guitarrista brasileiro Bill Hudson.
O Trans-Siberian Orchestra, com uma sonoridade mesclando o peso do Savatage a diferentes estilos musicais, inicialmente com foco em músicas natalinas e, posteriormente, com ênfase na música clássica, se tornou sucesso absoluto e campeão de vendas nos EUA. Os shows tinham ingressos esgotados com meses de antecedência, e o grupo recebeu diversas premiações por número de venda de álbuns, além de constantes posições no topo das paradas de rádios e pesquisas da indústria fonográfica. Assim, o projeto se tornou, com o passar dos anos, parte da cultura musical americana e mundial.
A história de O’Neill vai além disso, pois os primeiros passos de destaque ocorreram há mais de três décadas, quando ele tocou guitarra em famosos musicais oriundos da Broadway, como “Jesus Christ Superstar” e “Hair”. “Eu participei das versões turnê desses musicais, que visitaram diversos países em todo o mundo, não das produções originais, pois ainda era muito jovem para isso”, contou O’Neill em preciosa entrevista a este repórter, publicada na edição de número 51 da revista Roadie Crew, em abril de 2003. “Os meus primeiros passos sérios no mundo da música, além de tocar em bandas, foi quando comecei a trabalhar com a Leber-Krebs, uma das maiores empresas de management de bandas de rock que já existiu”, contou O’Neill sobre a companhia que trabalhou com bandas como Aerosmith, AC/DC, Ted Nugent, Scorpions e Def Leppard. “Foi a minha grande escola do rock, pois eu era muito jovem e estava envolvido na promoção de bandas, promovendo shows e também com a Broadway”.
O’Neill Trabalhou como assistente pessoal do manager David Krebs e depois se tornou um grande promotor no Japão, tendo organizado turnês e festivais para nomes como Madonna, Sting, Foreigner, Bon Jovi, Whitesnake e Ronnie James Dio. “Trabalhei no management da Joan Jett, em 1981. Isso também foi muito interessante, pois comecei quando a carreira solo dela era totalmente desconhecida, até que a música ‘I Love Rock & Roll’ emplacou. Depois disso, voltei para a Leber-Krebs e fiquei até meados da década de 80. Trabalhar lá foi muito importante, pois passei a entender como gravadoras, turnês, estações de rádio, MTV e muitas outras coisas funcionavam”, relembrou o músico.
Como produtor, além da longa parceria com o Savatage, O’Neill assinou álbuns como “Classics Live I” (1986) e “Classics Live II” (1987), do Aerosmith; “Badlands” (1989), da banda homônima; e “Hanging in the Balance” (1993), do Metal Church. “Passei a produzir álbuns de estúdio e também a compor para essas bandas. Quando me dei conta, passei a escrever mais e comecei a fazer experiências com ‘rock operas’, pois elas elevam a música a patamares ainda mais profundos. A letra pode caminhar por si própria sem a música, e vice-versa, mas se você une as duas coisas é criado um elo, onde qualquer coisa isoladamente faz parte de um todo e isso gera uma intensidade ainda maior”, analisou. “Esse tipo de coisa eu aprendi do ‘Jesus Christ Superstar’. Por exemplo, ‘I Don’t Know How To Love Him’ é uma grande música de amor quando ouvida separadamente, mas quando você a ouve cantada por Mary Magdalene (Maria Madalena) para Jesus, dentro da ópera rock, a coisa toma um outro ângulo. Outro grande exemplo é ‘Pinball Wizard’, uma grande música Rock, mas quando você sabe que é sobre um garoto que não pode ver, ouvir e falar, apenas sentir [referindo-se ao personagem “Tommy”, da ópera-rock homônima do The Who], a vê por um ângulo diferente”, acrescentou O’Neill.
O mais recente álbum lançado por Paul O’Neill e Trans-Siberian Orchestra foi “Letters From the Labyrinth”, em 2015, ano em que também ocorreu o lendário evento no qual o projeto dividiu o palco com uma reunião do Savatage no festival alemão “Wacken Open Air”.