Murillo Augustus, um estudioso que aposta no blues, folk e rock

O cantor e multi-instrumentista de Itu, que tem dois discos solo lançados, se apresenta ao vivo no formato ‘one man band’

Quem vê Murillo Augustus em suas apresentações solo, no formato violão, gaita, cajon, kazoo e pandeiro de pé, pode até pensar que ele é um músico introspectivo. No entanto, timidez passa longe deste artista ituano, que literalmente viaja pela estrada tocando um refinado repertório com clássicos do folk, blues e rock. Talentoso, versátil e carismático, tem dois trabalhos autorais solo lançados – o EP “Passando o Som – Ao Vivo no Estúdio” (2014) e o álbum “Bom pra Cachorro” (2016) –, além do EP “Cheiro do Vermelho”, com a banda Soublues. Idealizador do “Itu Folk Festival”, falou com o ROCKARAMA sobre suas andanças e como criou o seu projeto solo de ‘one man band’.

Você começou no rock com Creedence Clearwater Revival, mas hoje trabalha mais com blues e folk. Como foi esta transição e quando surgiu a ideia de sair pelo interior como uma ‘one man band’?
Augustus: A transição aconteceu pela minha curiosidade de saber quem havia influenciado os meus maiores ídolos. Eu sempre quis saber quem eram os heróis do Led Zeppelin, The Who, Stones, Creedence… Então, acabei caindo no blues, folk e até mesmo country. Foi uma longa pesquisa antes de mergulhar de cabeça. Eu tive banda cover de rock por dez anos no interior de São Paulo. A gente tocava direto, mas eu não conseguia sobreviver da música e foi quando eu tive uma ideia. A primeira coisa que pensei foi: ‘se eu tocar um repertório fino, com músicas que amo e conseguir agregar vários instrumentos, eu vou conseguir cobrar mais’ (risos).

“Bom pra Cachorro” traz a participação do multi-instrumentista Milton Castelli, seu companheiro de Soublues, mas como seu deu a parceria com o folkman irlandês Bernard Naughton no álbum?
Augustus: Foram duas participações maravilhosas. O Milton é o maestro da Soublues, o cara que caiu como uma luva. Ele realmente joga para o time, além de ter uma energia incrível no palco. Ele tocou a música ‘Eu gosto dos Cachorros’ no meu CD, gravou todas as guitas e o baixo. Ficou estilo ragtime, uma verdadeira ‘bagunça’. O Bernard é o cara! Meu amigo de mais de oito anos. Ele mudou para Itu e parecia um cara perdido. Não falava português e não entendia a nossa malandragem. Conheci este folkman tocando em bares e ele tinha um repertório extraordinário, com clássicos do folk mundial, irlandês e músicas autorais. Ele me ensinou muito sobre a linha folk, inclusive a tocar Neil Young direito (risos). Hoje ele mora em Indaiatuba e toca, às vezes, na noite do interior.

A música “Cada Pessoa Tem Sua Própria Razão” foi feita em parceria com o escritor João Affonso. Qual a mensagem por trás dela?
Augustus: A letra dessa música é inteira do meu parceiro, João. Me lembro que quando ele me apresentou essa letra eu pirei. A mensagem principal é respeitar as diferenças. Hoje em dia, a gente vive num mundo onde todo mundo opina sobre tudo e, quase sempre, essas opiniões acabam agredindo alguém. A gente vê esse tipo de coisa todo dia nas redes sociais. A letra é meio que um toque sobre isso. Vamos respeitar o espaço do outro, cada pessoa tem sua própria razão.

Milton Castelli e Murillo Augustus, Soublues em ação | Foto: Edu Lawless
Milton Castelli e Murillo Augustus, Soublues em ação | Foto: Edu Lawless

Você é o idealizador do “Itu Folk Festival”, que terá sua segunda edição no dia 1º de abril, em Itu. Como surgiu a ideia do evento e quais os objetivos pretendem alcançar com ele?
Augustus: Eu sempre fiz evento, desde quando comecei a mexer com música. Tive durante dois anos a Terça Blues, que foi um evento espetacular que movimentou a cena blues do interior de São Paulo. No ano de 2015 surgiu o Itu Folk Festival, com a ideia de levar um pouco da raiz da música contemporânea, de maneira bem intimista mesmo (apenas violão e instrumentos de sopro), para uma casa noturna da cidade, de preferência uma que estivesse acostumada com muito barulho e baladas de outros segmentos. Esse choque cultural foi muito bem aceito na primeira edição! Tinha um público variado, de motociclistas a jovens, de famílias a hippies… Foi bem legal. Essa segunda edição, além das seis horas de música, com quatro atrações, terá também um bazar de artistas locais. Um grande objetivo que tenho é que, futuramente, esse evento fique tradicional e maior. Quem sabe anual no calendário da cidade.

Ser o frontman e gaitista da banda Soublues é diferente de sair sozinho pela estrada com violão, gaita, cajon, kazoo e pandeiro de pé. Você sente falta de estar com vários músicos agitando no palco?
Augustus: Sinto sim. Soublues é uma banda muito divertida. A gente fez shows incríveis. O grande lance é que, às vezes, a estrada te suga de uma maneira muito louca. Eu estou fazendo mais de 27 cidades, do sul de São Paulo ao norte de Minas Gerais e, com essa correria, a gente acaba tendo que dar prioridade para a parte financeira. O Milton também está rodando com os projetos musicais dele. O Carluz acabou de ser pai. Está todo mundo bem! Lalão e Chico também estão na correria.

Como é a escolha do repertório em suas apresentações? Você inclui faixas autorais, do EP “Passando o Som – Ao Vivo no Estúdio” (2014) e do disco de estreia, “Bom pra Cachorro” (2016)?
Augustus: A escolha é basicamente blues, folk e rock/blues. Eu sempre penso em como vou arranjar a canção no meu formato, se eu vou ficar a vontade para tocá-la. Acho que o artista tem que pensar primeiramente nele. Se ele estiver feliz, o público vai captar isso. No repertório tem Cash, Dylan, Neil Young, Muddy Waters, Robert Johnson, Beatles, Stones, Led, ZZ Top, Lynyrd Skynyrd, Creedence e por aí vai. Eu incluo faixas autorais, mas pouca coisa. Geralmente, por noite eu toco umas três próprias, duas do ‘Bom pra Cachorro’ e uma do ‘Passando o Som’. Como eu faço um trabalho estilo ‘busker’, onde estico o case com os CDs para vender, às vezes eu vejo o feedback do público. Se vendeu bem os CDs, eu dou uma ousada no autoral. Mas é um trabalho de formiga. De cidade pra cidade muda bastante também o setlist.

A Soublues lançou o EP “Cheiro do Vermelho” e conquistou o prêmio de melhor composição no Manifesto Rock Fest de 2014 por “A Missa Acabou”. Por que o trabalho ao lado de Milton Castelli, Lalo Ferrari, Chico Duarte e Carlos Pinotti não seguiu adiante?
Augustus: A gente parou por problemas na agenda mesmo. Estávamos com um material muito rico para ser trabalhado em estúdio, com umas quatro músicas novas da pesada, mas tivemos que dar uma segurada. Mas isso está em pauta para 2017. A gente tem um grupo de whatsapp da banda e, entre uma besteira e outra, conversamos sobre as músicas. Em breve teremos novidades!

Mais informações sobre o artista em murilloaugustus.com

Ao vivo no Villa Blues | Foto: Guilherme Maia
Ao vivo no Villa Blues | Foto: Guilherme Maia

Murillo Augustus - Passando o Som - Clipe Oficial

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