Música orgânica

A música existe desde sempre e passou por diversas transformações em concepção e significado, mas sempre existe a diferenciação clara entre a boa e a ruim

Jimi Hendrix Experience na lendária apresentação no festival Woodstock | Foto: divulgação
Jimi Hendrix Experience na lendária apresentação no festival Woodstock | Foto: divulgação

Na minha experiência, só existem dois tipos de música: música boa e música ruim. Não importa o gênero. Ocorre que há muitas formas de compor, de executar, de interpretar e de registrá-las em gravações e, por esta razão, é que surgem as diferenças que começam na qualidade da composição e terminam na qualidade da gravação. Deveria ser só uma questão de talento e competência, mas não é.

A música existe neste planeta desde sempre. Alguns dos sons naturais sempre foram como música para os nossos ouvidos e podem ser considerados como exemplos musicais: árvores que parecem cantar com o vento, o som nos mares, das cachoeiras dos rios e os sons produzidos por animais e pelas aves.

Ao longo do tempo a música passou por diversas transformações em sua concepção e significado. Surgem então algumas classificações como, por exemplo, folclórica, clássica e popular. Logo a seguir, a música popular com harmonia simples e com estrutura padronizada, passou a ser chamada de “música comercial”. Obviamente que nesta categoria, é onde se encontra a maior quantidade de músicas ruins, de fácil massificação e com venda garantida no mercado musical internacional.

Quando a música é gravada em um estúdio de gravação, é preciso dispor de um mínimo que a tecnologia pode oferecer. Na privacidade do estúdio, pode-se analisar e refazer, experimentar e tomar as decisões de produção mais adequadas para chegar ao melhor resultado de som que for possível. O que não existe é a possibilidade de se transformar composição musical ruim em música boa. Quando é boa, a percepção geral é imediata, as ideias fluem e os problemas de origem técnica e artística são resolvidos facilmente.

Na criação musical não existe nenhum padrão universal. A diferença está no talento, sensibilidade e bom gosto nos timbres durante todo o processo que vai da criação até a interpretação. A música é subjetiva, abstrata e a sentimos de forma diferente uns dos outros. Provoca no ouvinte, através de instrumentos e vozes, as mais variadas reações emocionais. Poder ouvir música é ótimo e a vida sem ela seria terrível. O duro é ter que aturar este mundo comercial que tenta formatar o gosto musical das novas gerações de consumidores com uma música pra pular e ruim.

De fato o mundo já estava ficando excitado ao som de Elvis Presley por volta de 1955, quando, na década de 1960, foi totalmente tomado pela febre e explosão do rock britânico com o sucesso sem precedentes dos Beatles. A banda acabou em 1969, no entanto, ainda é o maior ícone do rock de todos os tempos.

The Beatles: sucesso sem precedentes | Foto: divulgação
The Beatles: sucesso sem precedentes | Foto: divulgação

Todavia o mundo do rock não acabou aí. Após o lendário festival de rock de Woodstock, ocorrido em agosto de 1969, nos EUA, onde apareceram para o mundo artistas como Joe Cocker e bandas como a Jimi Hendrix Experience, Santana, Ten Years After, Crosby, Stills, Nash & Young e muitos outros, o rock tornou-se o gênero musical de maior influência e consumo popular, no mundo inteiro.

As bandas britânicas são as melhores que eu conheci (eu era um jovem que trabalhava como músico e produtor musical e acompanhei desde o inicio o fenômeno musical ocorrido na década de 1970 em todo mundo). Naquela época, acompanhar os acontecimentos no mundo artístico internacional não era nada fácil. Tanto que uma banda alemã maravilhosa, que gravava também em inglês, chamada Münchener Freiheit, passou praticamente despercebida por aqui, até hoje.

Münchener Freiheit passou praticamente despercebido pelo Brasil | Foto: divulgação
Münchener Freiheit passou praticamente despercebido pelo Brasil | Foto: divulgação

O novo álbum de quem quer que fosse demorava um ano em média pra chegar por aqui, o que deu margem ao surgimento no Brasil, de um enorme mercado de cantores e bandas que gravavam em inglês como se fossem americanos e faziam sucesso, pois o público nunca se importou muito com a diferença de qualidade sonora das gravações e, mesmo sem a pegada do rock gringo, estes artistas vendiam o seu rock tupiniquim aos montes.

No Brasil, aos poucos, o rock foi crescendo. Na correria, pois o mercado de música jovem que até então quase não existia, tornava-se muito promissor. Programas musicais em canais de televisão e outras iniciativas foram imediatamente fomentadas pela indústria que rapidamente ia se fortalecendo. Por inspiração e influência dos Beatles, dos Stones, Yes, Pink Floyd, surgiram por aqui artistas como Os Mutantes (de onde saiu e fez sucesso individual a roqueira paulistana Rita Lee), Casa das Máquinas, Made in Brazil, Secos e Molhados, O Terço, Terreno Baldio, Vimana, e vários outros que vieram surfar na nova onda que se formava a partir dos setenta do século 20.

Rita Lee nos anos dos Mutantes | Foto: divulgação
Rita Lee nos anos dos Mutantes | Foto: divulgação
Gmusic | Rockarama
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