Na medida em que o tempo foi passando, por volta dos anos 1980, os conceitos na produção e mixagem das novas composições musicais foram mudando. Poderia ter sido pra melhor não fosse à padronização na sonoridade e a massificação do videoclipe
Ao mesmo tempo em que a tecnologia foi minando a criatividade, o videoclipe (de produção cada vez mais barata) foi impondo a nova moda e a necessidade de “mostrar” a música. Ouvi-la foi ficando cada vez mais nostálgico. Salvo raras exceções, como as antigas bandas de rock progressivo que teimam em fazer uma música sempre diferente e interessante, os novos artistas estão mais preocupados em “aprender a dançar”.
Artistas como Raul Seixas (por aqui), Bob Dylan (e outros), perderam espaço no imaginário popular, pois a arte musical baseada na qualidade das melodias, das letras, e da interpretação, não se adaptou ao novo modelo de desempenho que se impôs a partir do tremendo sucesso do videoclipe “Thriller” de Michael Jackson, lançado em 30 de novembro de 1982. Aí o bicho pegou, ou melhor, a dança virou moda.
Embora Michael Jackson já prenunciasse seu enorme talento como bailarino e cantor desde seu inicio artístico no Jackson 5, dançar e cantar ao mesmo tempo, ainda era coisa que alguns faziam de vez em quando e não um formato de apresentação obrigatório como o mercado impõe nos dias de hoje à maioria dos artistas populares.
Quem não dança, dança. No palco, que antes era o habitat só dos músicos e dos interpretes, hoje em dia é também o lugar quase que obrigatório de bailarinos e bailarinas, que bailam sem parar diante da plateia enquanto o artista tenta dançar e cantar. Afinar é outra estória. Poucos conseguem fazê-lo com graça e qualidade; a maioria, usa o erotismo para compensar as limitações do talento.
Sendo o show de música popular muito mais um espetáculo visual do que sonoro, é fato que isto influencia, e muito, a arte dos compositores musicais. O repertório dos artistas populares é, em sua maioria, de músicas para pular, comercias e simplórias. É isto que a mídia de massa quer promover e o publico quer ouvir nos shows.
No outro extremo da questão está a música instrumental, que, há muito tempo, é como um doente terminal que não morre mas não recebe alta. O músico ou grupo musical apenas sobrevive fazendo música de fundo, trilha ou música incidental para cinema, ou em apresentações em pequenos locais especialmente criados para quem se satisfaz com pockets shows.
É claro que tudo tem sempre dois lados. Para o mercado, o show é um produto rentável há muito tempo. Por exemplo, os milhões de shows em DVD Blu-Ray. É um produto muito interessante de se colocar em uma grade de programação, melhor e mais barato do que um programa musical ao vivo, e, por razões óbvias, a TV aberta ou fechada precisa deles.
Para o mercado de trabalho, o show é ótimo. O pessoal de serviços gerais e a quantidade de técnicos que exige um show musical são maiores a cada temporada e envolve dezenas de profissionais de diversas áreas em projetos com verbas cada vez maiores.
Nos estúdios, o trabalho técnico foi aumentado em razão das novas necessidades, mas com o auxilio dos computadores, do Pro Tools, dos novos plugins e dos samplers, o trabalho pode ser feito de maneira satisfatória. Em um passado não muito distante, um show era feito com alguns músicos, o artista, um cenário simples, ou sem cenário, como ocorreu em vários shows de rock desde o principio da onda. O equipamento era o mínimo necessário, e, o que importava para o publico era ver o artista e ao som de seu sucesso, curtir a sua presença no palco.
A indústria ganhava dinheiro com a venda dos discos, e os artistas com os royalties das vendas e as apresentações especiais na TV e clubes noturnos.
Os shows eram feitos em teatros com a plateia gritando sentadinha, mas que, com a Beatlemania, em meados dos anos 1964, a coisa começou a mudar. O publico aumentava em quantidade e lotava qualquer teatro ou cinema disponível. De pronto, promotores e produtores perceberam que tinham em mãos um ótimo formato pra ganhar mais dinheiro, era só sair dos teatros e invadir os estádios.
Os Beatles foram os primeiros a fazê-lo em 1964, no Hollywood Bowl, em Los Angeles.
Também foram os primeiros a perceber que tocar música ao vivo, em um estádio, seria uma missão quase impossível. Eles não se ouviam e não conseguiam se fazer ouvir. As imagens deste show revela um verdadeiro caos sonoro. Não havia tecnologia àquela época e, aquele tipo de publico, não estava interessado em ouvir a música. Seu prazer foi pular e gritar o tempo todo sem parar. A Beatlemania rompeu o limite que havia no comportamento dos jovens e o mundo nunca mais foi o mesmo de outrora.
Após algumas experiências mal sucedidas, a banda desistiu. No dia 30 de janeiro de 1969 eles fizeram sua ultima aparição publica tocando juntos e, nunca mais os Beatles se apresentaram em publico.
Hoje em dia, o publico quer dançar, gritar, pular, tirar fotos e selfies no celular. Ficou um pouco pior para os músicos e para o artista que faz um trabalho sério e quer ser ouvido e apreciado. O que melhorou ao longo do tempo foi a tecnologia que dá suporte aos eventos e o dinheiro que tudo isto gera.
Nos quesitos qualidade musical, criatividade e originalidade, há controvérsias.