“In the Passing Light of Day” é quase um ‘best of’ do Pain of Salvation
É sempre suspeito quando uma banda diz que vai “voltar às raízes” ou “o próximo disco vai ser mais pesado”, especialmente quando se trata de rock e metal progressivo. Mais ainda quando a banda vem da Suécia, que tem sido berço de um ‘revival old-school’ de rock setentista, com bandas como Ghost e Tribulation, e que chegou até a “infectar” outro gigante do prog metal, Opeth. Então, quando o Pain of Salvation anuncia “In the Passing Light of Day” como “retorno à forma”, obviamente fica a dúvida: será que dá para acreditar? Digo isso justamente porque a banda também foi afetada pela onda de ‘revival old-school’ em “Road Salt One” (2010) e “Road Salt Two” (2011). Estes foram discos que primaram especialmente por uma produção crua e setentista, característica pela gravação de fita, sem overdubs, com diversas passagens acústicas e sem o peso mais usual de outros trabalhos consagrados, como “The Perfect Element Part I” (2000) e “Remedy Lane” (2002).
Mesmo antes dos “Road Salt”, Daniel Gildenlöw, vocalista, guitarrista e líder da banda, já foi um pouco na contramão com “Scarsick” (2007) em questões de peso e experimentalismo, flertando com disco music, rap e até country. No entanto, não é necessário esperar muito para ver que Gildenlöw cumpriu o prometido em “In the Passing Light of Day”. Em menos de 30 segundos, “On a Tuesday” começa com riffs sincopados e pesados, acompanhados por bastante bumbo duplo. A faixa de abertura traz tudo o que o fã de Pain of Salvation espera: versos dinâmicos alternando entre distorção e leveza, passagens dissonantes e impactantes, e o vocal de Gildenlöw em sua melhor forma. Peso esse que se mantém em faixas como “Tongue of God”, “Reasons” e a segunda metade de “If”. Já a longa “Full Throttle Tribe” é um ode progressivo, com tempos quebrados e melodias vocais marcantes, enquanto músicas como “Meaningless” e a faixa-título são mais carregadas emocionalmente.
Apesar disso, Gildenlöw não deixou seu amor pelo rock setentista completamente de lado: faixas como “Silent Gold” e “Taming of a Beast” são muito mais calmas e acústicas, e poderiam ter feito parte de qualquer um dos “Road Salt” (não levando em conta a excelente produção mais atual de Daniel Bergstrand).
Em relação à temática, “Passing” é um trabalho conceitual que lida com todas as complicações e medos que Gildenlöw passou graças a contração de uma bactéria carnívora. “On a Tuesday” e “Tongue of God” descrevem sua luta para manter a fé e a vontade de viver, ao mesmo tempo considerando a possibilidade de ter sua vida terminada abruptamente. “Full Throttle Tribe” compartilha visão de mundo, onde todos são iguais, e como ele pretende fazer com que todos vejam o mesmo quando não estiver mais confinado a uma cama de hospital. Confinamento esse que lhe causa desespero, visto em “Angels of Broken Wings” e “The Taming of the Beast”. Finalmente, a faixa-título serve como uma homenagem à sua esposa de longa data, Johanna Iggsten, por tudo que passaram juntos e por toda angústia que a doença causou a ele e sua família.
Mesmo cumprindo a promessa, valeu a pena a espera? “Passing” é quase um ‘best of’ do Pain of Salvation: pega o peso e progressividade de “Perfect Element”, a coesão de um disco conceitual de “Remedy Lane” e momentos mais saudosistas de “Road Salt” num disco completo. Talvez, a única parte ruim seja a prolixidade da faixa-título, mas por se tratar claramente de uma homenagem, é algo que não é difícil compreender. Ainda assim, é um disco que consagra a banda de volta ao topo do metal progressivo e que pode agradar até os que nunca a ouviram antes.