Lendário vocalista e guitarrista do Kiss comenta sobre a turnê de despedida e vários outros aspectos de sua vida e carreira

Kiss | Foto: Kevin Estrada © KISS Catalog Ltd

Uma das coisas que mais povoa a imaginação de alguém que começa a ser fã do Kiss, é saber qual o significado por trás das maquiagens. Cada uma tem sua explicação, mas a mais convincente é a de Paul Stanley: a estrela. Por quê? Porque Paul Stanley se sentia e provou estar certo com o passar dos anos, o Rock Star definitivo, aquele que nasceu para ter brilho próprio em cima de um palco. Agora, próximo de encerrar a carreira que escolheu, com a “End of The Road Tour”, Paul ainda brilha como um pintor bem sucedido e um empresário de sucesso. Foi para falar sobre isso e esclarecer algumas questões interessantes sobre a história do Kiss que batemos um papo com “Starchild”.

O que significa para a banda, como uma entidade, ser a última? Significa que não farão mais turnês, mas poderá haver shows espaçados? Nem se o Super Bowl (N.T.: final do campeonato de futebol americano) ou se um evento de caridade convidar?
Paul Stanley: Essa é uma pergunta muito difícil. Não que eu não esteja preparado para dar a resposta. O que eu não sei é dizer especificamente. O que posso falar é que quando se trata de dizer que é última turnê, há pessoas que estão cansadas disso, mas ainda bem que são minoria. Para quem diz que já fizemos uma turnê de despedida, aquilo foi 19 anos atrás. Há bandas que não duram 19 anos. Quando fizemos aquela, foi realmente porque os integrantes da banda estavam extremamente infelizes. Eu estava. Parecia que a melhor coisa a se fazer era pendurar as chuteiras, digamos assim. Só depois que ficou claro para mim, como deveria estar desde o início, que a banda deveria continuar. Foi apenas o horror de estar com os integrantes naquele momento. Era demais e se tornou um sofrimento. Dessa vez é diferente. A banda se dá muito bem. Nos encontramos, passamos tempo juntos, ficamos ansiosos para estarmos um com o outro. Só chegou a um ponto em que precisávamos ter o final do jogo preparado. Se estivéssemos no palco só de jeans e tênis… Nossa, ignore 70 anos, poderíamos fazer isso até os 80. No entanto, temos que carregar mais de quinze quilos de equipamento, se contarmos botas, guitarras e tudo mais. E ainda corremos pelo palco, fazendo parecer fácil. Acho que estava cada vez mais claro que não ia dar para continuar. Tivemos que conversar e decidir como iríamos colocar uma cereja no bolo. Logo, acho que faz todo sentido. Essa turnê é, com certeza, o fim da banda fazendo turnês ou qualquer coisa com esse tipo de regularidade. Queremos fazer o melhor que pudermos. Tiramos praticamente tudo que estava no palco nos últimos dez anos e criamos um totalmente novo. É sim o melhor que poderíamos fazer, sob a melhor das circunstâncias. Não estamos nos arrastando até a linha de chegada, e sim, celebrando. Não poderia estar mais feliz e orgulhoso de fazer isso com Gene, Tommy e Eric, de forma perfeita, com um sorriso em nosso rosto e nossa cabeça em pé.

Paul Stanley | Foto: Ricardo Ferreira

Eu lhe explico por que não recebíamos a mesma coisa: dois de nós mantiveram a banda viva depois que os dois originais saíram” – Paul Stanley

Para mim, o Kiss sempre foi injustamente criticado pela turnê de 1999. O The Who se aposentou em 1981 e, 37 anos depois, ainda está na ativa. Ozzy Osbourne se aposentou em 1992 e também continua. O Kiss se aposenta e, por alguma razão, há uma interpretação diferente sobre isso, como se, de alguma forma, tivessem mentido para os fãs, o que é ridículo. Quais eram as questões que os levaram a achar que tinham que parar? Foi realmente porque não havia como conviver com Peter Criss e Ace Frehley?
Stanley: Voltou a tudo o que estava errado desde o início. Muita animosidade, muito ressentimento. Se você não aprende com o passado, está condenado a repeti-lo. Foi horrível. É horroroso tentar fazer as pessoas… Não vou nem dizer subir ao palco, não dava para levá-las até o lobby do hotel. Não foi legal. E ainda havia muita raiva e ressentimento sobre a parte financeira, porque todos não estavam recebendo a mesma quantia. E eu lhe explico por que não recebíamos a mesma coisa: dois de nós mantiveram a banda viva depois que os dois originais saíram. Fizemos turnês de forma incessante e melhoramos nossa arte. Não dá para alguém voltar a e as coisas serem como antes. Mas é uma visão tacanha quando alguém se preocupa mais com quanto eu estou ganhando do que o quanto ela está. Especialmente quando se trata de graus de riqueza. Com certeza existem pessoas mais ricas do que eu, e não perco o sono por causa disso. Não sou invejoso. Todos nós éramos abençoados e, por alguma razão, integrantes da família ou amigos, mais uma vez exerceram uma influência negativa. E após voltarem jurando que jamais cometeriam os mesmos erros e que estavam felizes de estarem de volta, as coisas voltaram à mesma situação anterior. Pensando a curto prazo, eu achei que tínhamos que terminar com aquilo. Mas não precisava jogar tudo para o alto, o que era basicamente o que estávamos fazendo. Uma vez que aquela turnê acabou, não demorou muito até que alguém chegasse até mim e dissesse: “Adorei a turnê de despedida, quando farão a próxima?” Foi aí que se acendeu uma luz na minha cabeça e eu percebi que não precisávamos ficar colados a algo, só porque acreditávamos na época em que fizemos.

Gostaria que falasse sobre sua base de fãs, porque não há uma igual a do Kiss. O que difere um fã do Kiss de um dos Rolling Stones, The Who ou Led Zeppelin?
Stanley: Acho que, por alguma razão, a diferença é a mesma de ser uma banda e ser um fenômeno. Fenômenos causam impacto na sociedade, bandas fazem música. Conseguimos atingir um ponto específico e nos tornarmos um pilar. Uma parte muito importante e essencial na vida de muitas pessoas. Então, por qualquer que seja a razão, seja a música ou as pessoas sentindo alguma ligação emocional, há algo diferente em relação ao Kiss que suscita reações bem intensas. Positivas e negativas. Voltando à questão da turnê de despedida, as únicas pessoas que reclamam disso são as que não gostam da gente por algum motivo. Porém, não comecei a trabalhar nisso para viver dentro dos limites que qualquer um tenha estabelecido. O que nos tornou únicos foi que seguimos nosso coração e o que queríamos fazer. Adoro quando há uma conexão com as pessoas e elas gostam do que estamos fazendo. No entanto, parte da razão de isso existir é que temos que ter a liberdade de fazer o que quisermos e, da mesma forma, você está livre para ser parte disso ou não. Não acho necessariamente que tudo que fizemos em termos musicais contou com a aprovação de todos e entendo. Você tem o direito de não comprar e não ir aos shows, assim como eu tenho o de fazer o que sempre quis fazer desde que entrei nesse negócio, que é seguir meu próprio caminho.

Paul Stanley | Foto: Steve Jennings © KISS Catalog Ltd

O principal é nos certificarmos que esse show seja o maior que já fizemos. E será. Um espetáculo absolutamente diferente e a banda em uma forma excelente” – Paul Stanley

Quando a turnê acabar, onde estará Paul Stanley? Você lançou “Live To Win” em 2006, mas pretende lançar um novo álbum solo ou se contentará em se aposentar na Califórnia, tomar conta da (rede de cervejarias de Gene e Paul) “Rock and Brews” e ficar por isso mesmo? Ainda tem aquela necessidade criativa de lançar algo, montar uma banda solo, ter seu próprio programa de rádio. Para onde vai no pós-tour?
Stanley: Olha, fazer o “Live To Win” foi bem interessante. De novo, não sei se todos gostaram, mas fiz um trabalho que era quase o oposto de meu primeiro álbum solo. Por uma razão: queria evitar fazer um igual àquele. Será que farei um naquele estilo no futuro? Claro. Se fizer mais um, será movido à guitarra? Com certeza. Posto isso, hoje em dia, passo cinco dias por semana pintando. O sucesso das minhas pinturas, da última vez que olhei, estava em dez milhões de dólares. Logo, adoro ser criativo com isso. Para mim, a vida se resume a achar saídas para expressar minha criatividade. É assim que me defino. Então, o que eu farei quando não houver mais o Kiss? Bem, há várias coisas para fazer. Não acredito em listas com coisas que gostaria de fazer. Toda essa ideia de que vai tirando as coisas de uma lista… Eu acredito que você só deve tirar quando outra já despontar. E, para mim, a pintura é uma grande parte disso. Estou em Las Vegas no momento para o lançamento dos meus tênis da Puma, que já se esgotaram. Não tem como comprá-los, tem lista de espera. A vida está empolgante. Pode soar piegas, mas, para mim, todo dia que eu acordo é um novo desafio, com novas possibilidades. Assim, quando o Kiss acabar não haverá um vácuo. Há bandas que não param de fazer turnês porque os integrantes não têm vida, porque não são nada quando vão para casa… Porque, para início de conversa, já não pensam que são alguém. Eu me regozijo com os holofotes, adoro estar em cima de um palco, amo dar o meu melhor e dar a todos o que eles vieram ver, mas isso não é tudo. Não é como uma droga. Tenho uma ótima vida, excelente família e grandes amigos. Muitas pessoas que ficam em turnê sem parar o fazem porque não existe mais nada acontecendo na vida deles. Eu tenho muito acontecendo.

Falando sobre a parte dos negócios, já que a “End of the Road Tour” está aí, e será uma turnê de despedida, por falta de uma expressão melhor, presumo que haverá produtos do Kiss. Haverá algum tipo de edições remasterizadas, álbum ao vivo? Musicalmente, o que poderemos esperar?
Stanley: Estamos só no início de algo que está apenas tomando forma agora. Está tudo bem à nossa frente e a prioridade principal é ajeitar esse novo show, o set-list e a turnê. O resto virá. É como se você perguntasse para alguém o que haverá no capítulo 5 de um livro, quando se está apenas no primeiro. Não sei, tudo será revelado inclusive para mim. Não estou escondendo nada, tentando enganá-lo com expectativas. Eu sei que, com o tempo, mais irá aparecer. O que é nesse momento? Não posso lhe dizer. Mas o principal é nos certificarmos que esse show seja o maior que já fizemos. E será. Um espetáculo absolutamente diferente e a banda em uma forma excelente.

Muitos fãs têm a esperança de que em algum momento, seja em Nova York, Chicago ou Los Angeles, que Ace Frehley apareça. Ou Peter Criss. Ou, para muitos, até Bruce Kulick, porque adoram o Kiss dos anos 80. Você enxerga um momento em que possa haver participações especiais de ex-integrantes ou serão só vocês quatro e pronto?
Stanley: Tudo é possível. Se aprendi alguma coisa, foi isso. É uma completa celebração do Kiss. A entidade, o monstro, sua história e todos os lugares por onde passou. Quando se trata de integrantes, tudo é possível, mas não é esse o conceito. Essa é a volta da vitória de tudo que o Kiss é. E, durante os últimos 20 anos, isso foi a formação que está hoje. Toco com Eric (Singer, baterista) há 27 anos.

Paul Stanley | Foto: Ricardo Ferreira

Quando ouço que se não fosse por mim não haveria um Kiss hoje, não posso concordar. Mas, eu fui o único consistente na banda por mais ou menos uma década? Sim, com certeza” – Paul Stanley

Saindo um pouco do tema, adoraria que Eric Singer voltasse àquele som de bateria da época de “Revenge” com o bumbo duplo. Para mim, aquilo foi épico…
Stanley: Bem, ele é um baterista realmente fenomenal. E qualquer um no nosso ofício sabe disso. Há bateristas de thrash, metal, rock, blues… Eric toca qualquer coisa. Cresceu tocando em big bands com seu pai e sua habilidade vai muito fundo. Quando ele toca no (projeto de soul music de Paul Stanley) Soul Station, as pessoas não sabem que é ele. É muito sólido e eficiente, e seu vocabulário musical é incrível. Além de ser um vocalista matador.

Queria focar um pouco nos anos 80. Desde “The Elder” (1980) até “Hot in the Shade” (1989), porque a banda passou por vários integrantes de Vinnie Vincent a Bruce Kulick. Como foi esse período para a banda e para você especificamente? Há certa percepção e, corrija-me se estiver errado, que por alguma parte daquela época Gene havia se retirado e o Kiss era, na verdade, só você e se não fosse por Paul Stanley, não teríamos o Kiss hoje. Quais foram os desafios durante esse período e como conseguiu manter o barco navegando dado todas as mudanças de integrantes e as modas transitórias na MTV?
Stanley: Quando ouço que se não fosse por mim não haveria um Kiss hoje, não posso concordar com isso. Mas, eu fui o único consistente na banda por mais ou menos uma década? Sim, com certeza. Para mim, foi mais sobre o meu amor pela música e pelo Kiss. Nem sempre parecia justo, algumas vezes foi sofrido por causa das personalidades e uma sensação de estar abandonado, ou mesmo pelas mudanças de integrantes. Porém, no final das contas, o que importava era o quanto eu amava minha banda e o que eu faço. Eu sempre pensei no Kiss como a minha banda e espero que os outros também pensem como a banda deles. E se alguém sai ou se ausenta por um determinado momento, eu ainda estarei no barco e se há uma infiltração, eu tiro a água. Não faço isso por ninguém, a não ser por mim mesmo.

Houve algum momento em que pensou que se alguém não lhe ajudasse, você iria procurar outro caminho? Chegou a esse ponto de quase acabar?
Stanley: Não, não, porque eu jamais sairia. Como disse, na minha cabeça essa é minha banda e se alguém não quer estar ali, pode ir embora. Teria sido muito difícil e mudaria tudo de forma dramática, se Gene, por alguma razão, decidisse sair. Mas não tenho poder sobre ninguém. No fim das contas, não posso dizer a ninguém o que fazer. As pessoas podem tomar suas próprias decisões. A única pessoa sobre quem tenho total controle, sou eu. Logo, posso dizer sem hesitar que jamais em nenhum momento, sequer contemplei sair da banda. Essa é a minha casa. Eu construí isso e quando digo eu, não estou negando os outros, mas fui parte disso e não vou sair.

Gene Simmons, Tommy Thayer e Paul Stanley | Foto: Ricardo Ferreira

Tocamos recentemente na Espanha e em Portugal para milhares de pessoas, eles foram ver o Kiss, o que a banda representa e foi isso que viram. E é isso que todos terão nessa turnê nova” – Paul Stanley

Sobre a turnê de reunião em 1996. Como foi essa época? Havia uma esperança de que fosse mais do que uma turnê, de que os quatro juntos agora estariam unidos e seriam amigos de novo, e fariam álbuns pelos próximos dez anos?
Stanley: Havia um enorme componente emocional ali. Eu tinha muitas esperanças naquilo e não eram irreais. Porque todos eram as mesmas pessoas e a habilidade delas naquele contexto, não tinham necessariamente mudado, talvez diminuído um pouco. Achei que ali estava uma oportunidade para quatro caras que tinham seguido seu próprio caminho, se juntarem de novo, o que é incrível por si só. Nos reunirmos, recuperar nosso lugar e seguir em frente mais inteligentes e mais sábios. E havia mais do que um vislumbre disso quando nos juntamos da primeira vez. Foi muito empolgante. Infelizmente, não durou. Eu não estava olhando para aquilo apenas como uma turnê, mas como uma possibilidade de recomeçarmos onde havíamos parado. Mais espertos na nossa vida, tendo uma perspectiva melhor do que havíamos conquistado e aproveitando o momento. Simplesmente fracassou, se tornou horrível. E foi bem desagradável para mim. Muito triste e uma enorme decepção.

“Psycho Circus” era o álbum da reunião, mas quando ouvi, lembro de ter pensado comigo mesmo: “Acho que é Ace tocando, mas sei que não é Peter”. Houve a esperança de que tivessem um álbum de reunião de verdade, com quatro integrantes contribuindo?
Stanley: Claro, claro. A ideia não era entrar em estúdio e ter outros músicos lá. Era compor um álbum, como uma banda. Queríamos trabalhar com Bob Ezrin e ele também queria, mas as agendas não batiam. Aí, perdemos Bob, que acho que seria uma enorme ajuda no processo. Além disso, tivemos pessoas que estavam deixando todas as suas decisões para advogados. Chegou ao ponto de eu e Gene estarmos em um estúdio, olhando um para o outro, e ficarmos recebendo mensagens sobre parâmetros, requerimentos e todo tipo de coisa, de equipes jurídicas. Para completar, o produtor, Bruce Fairbairn, não queria Ace e Peter tocando. Particularmente, Peter. Então, não era um ambiente bom e, de novo, tentei tomar o controle o máximo que pude, chegando ao ponto de, quando o produtor queria deixar a música “Psycho Circus” fora do álbum, entre outras coisas que achei absurdas, falei: “Olha aqui, esse é meu vigésimo álbum do Kiss, ou algo perto disso, e o seu primeiro (N.T.: na verdade é o 17º, sem contar ao vivo e coletâneas). Terei que viver com ele pelo resto da minha vida e você vai fazer outra coisa. Vou ao estúdio no fim-de-semana e fazer o que eu quiser para tentar deixar isso do jeito que eu acho que deve ser.” Assim, fiz o melhor que pude sob condições difíceis. Não foi uma situação legal e foi muito sintomático da decadência e o quão deteriorada estava essa promessa de reunião, que parecia mesmo ter um grande potencial. Infelizmente, fracassou. É como essas imagens que vê na TV, quando um foguete decola com todos os propulsores e quando chega ao ar se torna errático e aí ou cai ou explode. Para mim, começou com várias possibilidades diferentes e simplesmente virou um total sofrimento. Isso é triste. Mas foi naquele ponto que eu percebi, mais uma vez, que a banda tinha que continuar e que ela era maior do que qualquer um nela. Quando tocamos recentemente na Espanha e em Portugal para milhares de pessoas, eles foram ver o Kiss, ver o que a banda representa e foi isso que viram. E é isso que todos terão nessa turnê nova. É o Kiss: uma banda cujo DNA está em todos os shows ao vivo de todas as bandas que existem. Sem a gente para abrir o caminho, não existiriam várias bandas prosperando nele.

Kiss: últimos shows de Vinnie Vincent, Paul Stanley, Eric Carr e Gene Simmons com a famosa maquiagem ocorreram no Brasil | Imagem: reprodução

Olhando hoje, é tudo muito claro, mas, na época, jamais achei que Eric [Carr] iria morrer. Nunca havia lidado com ninguém que eu conhecesse morrendo” – Paul Stanley

Sim, e é incrível como com o passar dos anos, todos esses críticos falaram mal de vocês, mas quando você olha para outras bandas como Anthrax, Mötley Crüe e muitas outras, todas homenageiam vocês e dizem o quanto vocês os influenciaram. Ainda pegando carona no “Psycho Circus”, o quão revigorante foi para você entrar no estúdio para fazer “Sonic Boom” (2009) e “Monster” (2012) e ter três companheiros de equipe que ajudaram, contribuíram, compuseram, cantaram, tocaram? Os últimos dois álbuns foram experiências legais?
Stanley: Foram mágicos. Porém, eu não me engano. Não há como nada que a gente componha agora, ter o impacto, pelo menos inicialmente, daquelas músicas que fizemos, que são parte da trilha sonora da vida das pessoas. Por melhores que sejam, “Modern Day Delilah”, “Psycho Circus” ou “Hell or Hallelujah” não têm a importância na vida das pessoas que “Love Gun” tem. Logo, por melhores que sejam as músicas e por melhor que seja um álbum como “Sonic Boom”, que nós criamos nós quatro juntos, jamais terá aquela mágica. Porque isso vai muito além dos integrantes ou até das músicas, é um período da sua vida e não posso recriar isso para você. E eu não sou mais o mesmo também, logo, para mim, a ideia de tentar imitar o que fiz uma vez, não era a questão. Quando entramos em estúdio para os últimos dois álbuns, foi para recuperar nossa essência, não tentar fazer de conta que era 1976 ou 75. Portanto, fazer aqueles álbuns foi muito, muito, divertido e muito bom. Amo esses álbuns, acho que possuem o clima e o espírito daqueles mais antigos, apesar de que jamais conseguirão ter o mesmo impacto. Simplesmente não dá. Não é mais a mesma época. E isso se aplica para praticamente todas as bandas que existem. Há momentos na vida útil de uma banda que se destacam, e tudo o que vem depois não tem o mesmo impacto ou importância.

Eu seria relapso se não pedisse para você uma declaração rápida sobre Eric Carr (N.T.: baterista falecido em novembro de 1991, no mesmo dia que Freddie Mercury), porque sei como os fãs o adoram. Estava no show de 25 de julho de 1980 e vi a estreia dele. O que Eric Carr significou para você pessoal e profissionalmente?
Stanley: Eric foi um sopro de ar fresco. Foi alguém que trouxe um espírito que havia se perdido de volta para a banda. Estava imerso na maravilha que era ser parte do grupo e tinha essa conexão com os fãs. Amava-os e amava a banda. E também nos apresentou bandas que nós não escutávamos. Posto isso, ele também era alguém que tinha problemas, sempre sentiu o fato de não ser o baterista original. E não havia como argumentar com ele sobre isso, ele não era o original, mas era o baterista, entrou na posição que estava vaga. Houve momentos em que ele sentia esse conflito e nós sentíamos junto com ele. A morte dele foi horrenda e com certeza algo que me afetou tremendamente. Nunca tinha lidado com algo como isso antes e, se tivesse, tenho certeza que teria feito alguma coisa diferente. Mas estava lá um dia ou dois depois da primeira cirurgia e havia alguns problemas que tinham surgido sobre ele ter sido retirado da banda e outras questões com sua família. Mas não tinha como prever nada. Olhando hoje, é tudo muito claro, mas, na época, jamais achei que Eric iria morrer. Nunca havia lidado com ninguém que eu conhecesse morrendo. Pensei que ficaria doente para sempre, mas não conseguia imaginar ele não estando aqui. Deu uma grande contribuição para a banda e quando dizem que a banda não estaria aqui hoje sem mim, eu, da mesma forma, devo dizer que não sei se a banda seria a mesma que é hoje se Eric não estivesse lá.

A atual formação do Kiss: Eric Singer, Gene Simmons, Tommy Thayer e Paul Stanley | Foto: Brian Lowe © KISS Catalog Ltd
A atual formação do Kiss: Eric Singer, Gene Simmons, Tommy Thayer e Paul Stanley | Foto: Brian Lowe © KISS Catalog Ltd

Transcrito e traduzido por Carlo Antico.

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