Com a morte de Lemmy Kilmister e o fim do Motörhead, o guitarrista galês iniciou uma nova empreitada musical com o Phil Campbell and the Bastard Sons, onde toca com seus três filhos
Phil Campbell ingressou no Motörhead em 1984, após a partida do guitarrista Brian Robertson e, desde então, ao longo desses mais de 30 anos, tornou-se parte da lenda sonora que ficou marcada a ferro e fogo no mundo e nos corações dos amantes da música pesada em seu estado mais visceral. Com uma bela estrada, muitas histórias para contar e a serenidade que só mesmo um verdadeiro veterano é capaz de ter, o incansável guitarrista galês concedeu uma entrevista rica em detalhes minutos antes de subir ao palco uma vez mais. Nela, ele fala um pouco sobre todas as fases da carreira: de sua primeira banda, Persian Risk; dá detalhes sobre “Orgasmatron” (1986) e “Bastards” (1993), dois discos clássicos do Motörhead; e ainda esclarece um pouco seus dois projetos atuais.
Você está trabalhando com seus filhos no Phil Campbell and the Bastard Sons e Todd (N.T.: guitarrista e um dos filhos de Phil) foi quem produziu o EP. Como é trabalhar com membros da família numa banda?
Phil Campbell: Eles são músicos fantásticos. A coisa de ser família, quando temos uma discussão ou desentendimento, nós resolvemos muito rápido. É muito divertido, um desafio e gostamos de estar juntos no palco. É uma bênção e um privilégio para eles e para mim. É uma situação única, eu não conheço pais saindo em turnê com seus filhos.
Quando você acha que teremos o álbum completo?
Campbell: Talvez num período de 12 meses, mas ainda estou indo lentamente, assim como com o meu disco solo.
Você esteve com o Motörhead por mais de 30 anos, mas existe a necessidade de fazer seu trabalho solo ou com o Phil Campbell and the Bastard Sons soarem como o Motörhead ou você está mais interessado em explorar sua própria identidade musical?
Campbell: A música do Motörhead foi, em larga escala, meu tipo de música. Eu compus a maioria dos riffs, mas músico é músico e a maioria dos bons músicos é capaz de tocar mais de um estilo. Eu tenho muito orgulho do que fizemos no Motörhead. Algumas podem ter uma grande influência e terão inflexão de Motörhead, outras não, é algo esperado e inesperado. E, no fim das contas, uma boa música é uma boa música.
Adquiri uma compilação onde há uma música da Persian Risk, sua antiga banda. Fale-me um pouco sobre a fase inicial de sua carreira.
Campbell: Eu formei a banda (N.T.: em 1979), cinco anos depois a deixei e fui para o Motörhead. Acho que éramos realmente muito bons e tudo mais. Fizemos alguns lançamentos por pequenos selos. Carl Sentance manteve-a na ativa e desejo boa sorte para eles, pois acredito que ainda estejam seguindo firme.
E contaram com Jon Deverill, que mais tarde se juntou ao Tygers Of Pan Tang e atualmente é um famoso ator de teatro na Inglaterra (N.T.: seu nome artístico como ator é Jon De Ville). Seguindo cronologicamente a sua carreira, como foi entrar na sala de ensaio com o Motörhead pela primeira vez e encontrar Lemmy?
Campbell: Conheci Lemmy rapidamente quando eu tinha 12 e ele me deu um autógrafo (N.T.: na época, Lemmy tocava no Hawkwind). Um ano antes de eu entrar para o Motörhead, a Persian Risk abriu para eles na Inglaterra (1984) e lembramos um pouco disso. Desde o primeiro acorde, pensei: ‘Que diabos! Isso é realmente alto’ e eu meio que gostei daquilo. A sorte estava comigo naquele dia e foi algo incrível, sabe? Agora eu tenho minha própria banda e acho tudo isso fantástico.
Você estreou no Motörhead com a coletânea “No Remorse” (1984) e depois veio “Orgasmatron” (1986). O que você estava tentando levar para a banda naquele momento? Como foi ir para o estúdio e apresentar o seu som para o Motörhead?
Campbell: Foi uma grande época. Gravamos ‘Orgasmatron’ com Bill Laswell, que anteriormente havia gravado o disco solo de Mick Jagger, ‘She’s the Boss’, e seu engenheiro de som era Jason Corsaro, do Power Station, em NY, que trabalhou em trilhas de James Bond, Duran Duran e tudo mais. Nós fizemos tudo no Master Rock, em Londres. Eu lembro que Lemmy levou o Guns N’Roses, eles estavam em Londres e foi antes de gravarem seu primeiro álbum. Devo dizer, e falo também pelo Lemmy, que não saiu exatamente como nós imaginávamos, ficamos desapontados de certa maneira, não ficou pesado como esperávamos, mas enfim… é outra parte da história do Motörhead.
Muitos fãs consideram “Bastards” (1993) um dos melhores álbuns da banda. O que é tão especial nesse álbum para você?
Campbell: Eu também considero como possivelmente o melhor álbum. Foi o primeiro que fizemos com Howard Benson, em Los Angeles – e ele ainda fez mais três álbuns conosco. Foi um caos! Eu peguei algumas guitarras emprestadas de C.C. DeVille (N.T.: guitarrista do Poison) para sons específicos; Howard foi parar no hospital com um colapso nervoso depois das primeiras três semanas… Foi bastante caótico, mas tivemos o trabalho concluído no final. Acho as músicas incríveis, a execução foi muito boa, a produção foi impressionante e disso resultou um bom produto. Esse é disparado meu álbum favorito do Motörhead.
Por que é o seu favorito? É um daqueles casos em que tudo veio junto, no momento certo e na hora certa, ou foi o timbre de guitarra ou…
Campbell: (interrompendo) Sim, tudo: timbres de baixo, bateria, as músicas, letras… Tudo! Ficou muito próximo da perfeição. Eu ainda o toco, isso me alivia. É brutal, é alto e resume bem o Motörhead.
Atualmente, você tem a carreira solo e a banda com seus filhos. Por que ter dois tipos de projetos separados em andamento ao mesmo tempo? Por que simplesmente não colocar tudo sob o nome Phil Campbell and the Bastard Sons?
Campbell: Eu não quero fazer assim, quero manter como projetos diferentes. São músicas diferentes. Eu tenho músicos convidados em meu álbum solo, são coisas completamente diferentes. Há coisas similares, mas são dois projetos diferentes que eu quero fazer.
O baterista Mikkey Dee juntou-se ao Scorpions, mas você acredita que em algum momento vai querer voltar a trabalhar com ele?
Campbell: Mikkey e eu fizemos alguns pequenos tributos ao Lemmy com o Saxon. Nós tocamos no Golden Gods Awards e vamos organizar alguns shows mais apropriados em tributo ao Motörhead. Há muitos famosos e fãs que estão interessados em participar, então vamos organizar algo adequado. Mikkey está feliz no Scorpions, eu estou feliz por aqui também, mas, sim, claro que vamos tocar novamente em outras ocasiões. Vai ser divertido.
Mikkey se juntou ao Scorpions, mas você consideraria a possibilidade juntar-se à outra banda se alguém o chamasse?
Campbell: Depende. É uma pergunta hipotética, mas nunca diga ‘nunca’. Estou feliz no momento com os garotos.
Transcrito e traduzido por Mauricio Cozer
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