Uma pergunta facilmente respondida, mas que não se cala desde a minha juventude
Comecemos bem simples e por parte da resposta: Glenn Danzig não pôde porque recusou o convite da 20th Century Fox a se candidatar ao papel, no início do processo do que seria a série “X-Men” para o cinema. Ele optou por priorizar a carreira musical. No fim das contas, Hugh Jackman acabou sendo o Wolverine. E com uma interpretação legal.
Todavia, minha pergunta não se cala. Tudo começou quando eu era criança. Curto gibis desde muito cedo – entre eles, os “X-Men” – e, como 9 em cada 10 garotos, a partir de meados dos anos 1970 (quando o personagem desenvolvido pelo trio Len Wein, John Romita e Herb Trimpe começou a ganhar destaque na Marvel), eu idolatrava o Wolverine. O anti-herói, típico ‘badass’, praticamente indestrutível com seu poder de cura e com um esqueleto de adamantium… Dava pra querer mais? Fazendo parênteses para os dias de hoje, vi muitos reclamarem do recente filme “Logan” e, em alguns casos, até consigo entender a crítica em cima do “Wolverine mais humano”, levando em consideração a tamanha diferença da atual roupagem versus tantas décadas lidas, relidas e vividas pelo personagem. Mas isso é outro papo.
Voltando ao ponto. Assim como nos gibis, comecei cedo no rock, mas o mundo do horror punk e death rock de Misfits, Samhain e Danzig só chegou para mim na adolescência. E conheci essas três bandas meio que ao mesmo tempo, sem acompanhar cronologia. Quando vi o cantor, principalmente em sua carreira solo, a conexão com Wolverine foi inevitável: o mesmo biótipo, traços, a mesma postura e, ao conhecer um pouco mais, o mesmo estilo ‘badass’ – algumas vezes bem forçado, é verdade, mas não deixava de ser.
Vamos lembrar que, nos anos 1980 e 90, publicações e informações de rock não eram ricas e acessíveis como as de hoje – o oposto, na realidade. Vídeos de bandas eram um ou outro, e assistir VHS de shows então… Zero, se comparado às maravilhas da Internet. Então, aquela relação Glenn Danzig e Wolverine foi ficando cada vez mais clara. Vendo fotos aqui, falas em entrevistas ali, descobri que o cara ainda era fã de gibis: pronto, era ele mesmo! Sempre pensava que quando resolvessem fazer um filme do “X-Men” não poderia ser outra pessoa! Mas foi. E na época, mesmo já adulto e barbado, fiquei revoltado. Como assim tiveram a “audácia” de frustrar a expectativa da minha adolescência?! Não, não, muito errado.
Além da negativa de Danzig, outros atores foram considerados para o papel, como Russell Crowe, Keanu Reeves, Edward Norton, Dougray Scott e até mesmo Mel Gibson. Acabou ficando mesmo nas mãos de Hugh Jackman… Pensei comigo: como escolheram aquele australiano que eu nunca tinha visto na vida? Sacrilégio! Detalhe: naquele ponto era pior por eu não ter ciência da recusa de Danzig. Olha, confesso que demorei para assistir ao primeiro “X-Men” (2000) por causa disso. Birra mesmo. Depois me acostumei com a ideia, cedi e entendi o conceito da coisa. Além de Danzig não ser ator de ofício (mas nada que o simples “ser” dele não resolvesse o Wolverine), aprendi a gostar de Jackman, inclusive por outros bons papéis e pelo lado pessoal de imenso carisma que possui.
Certa vez li uma enxurrada de notícias, repetidas e caça-cliques, nas quais Danzig dizia que o Wolverine dele seria “menos gay”. Foi indelicado e grosseiro. Estranhei o comentário, uma vez que sabia da gentileza habitual com que ele costuma conceder entrevistas. Tirando de lado a infeliz colocação, horrível e preconceituosa, até entendi o que quis dizer: seria um Wolverine mais puro, visceral, agressivo, menos coletivo e sentimental. Danzig, de fato, não funcionaria, pelo menos na minha visão proposta por Bryan Singer e nem mesmo os filmes solo por Gavin Hood e, em especial, por James Mangold. Mas daí você pode justificar que existiram paralelos aqui e ali com os gibis… Ok, e mesmo podendo apontar falhas brutais históricas nos quesitos de adaptação ao cinema, seja Marvel ou DC, prefiro me restringir ao meu simples ponto de vista emotivo. Não era o que meu lado da infância esperava.
Daí vem “Logan” e o anúncio de que Hugh Jackman se aposentaria do personagem. Pronto. Tudo de novo. Lá vem a minha cabeça martelar novamente: mesmo aos 61 anos de idade, Glenn Danzig ainda seria um elegível Wolverine. Rolaram até boatos disso no ano passado, mas não creio que acontecerá. E especulações estão por todas as partes para o papel, nomes como Tom Hardy, Taron Egerton, Aaron Paul, Toby Kebbell, Charlie Hunnam, Jack Reynor, Jack O’Connell, Travis Fimmel, Garrett Hedlund, Scott Eastwood, Clive Standen, Michiel Huisman, Landon Liboiron e daí para o infinito… Um dos “cotados” que mais achei interessante foi Luke Evans, gostei da atuação dele no “Dracula Untold” (2014).
Continuarei, para sempre, a me perguntar: por que Glenn Danzig não pode ser o Wolverine? Não pode e pronto. Que eu viva com isso. Mas, pelo, menos ele vai lançar álbum novo em 2017 e tem feito shows com o Misfits.
E se não dá pra ser o Wolverine, vamos nos divertir com o romeno Radu, interpretado por Danzig, ao lado dos góticos Vince (Fred Armisen) e Jacqueline (Carrie Brownstein), no esquete “Weirdo Beach” (2011), da série “Portlandia”.