Retomando a amizade com a guitarra

Em sua estreia no Rockarama, Aurélie Potin Suau (Eilera), narra como fez as pazes com a guitarra eletro-acústica em um daqueles momentos em que coisas simples da vida podem se tornar algo especial

Recentemente eu comprei um nova guitarra. Roni Seppänen, o guitarrista que gravou o meu mais recente álbum, me recomendou checar uma Sigma. Foi um conselho precioso.

Fui com um amigo chamado Paavo em uma loja na vizinhança de Kruununhaka (Helsinque), chamada Kitarapaja. Experimentei algumas guitarras eletro-acústicas e logo me decidi por uma. Para a minha surpresa, o modelo menor soou mais bonito, com um som claro e brilhoso, bem do tipo que eu gosto. O dono da loja, alto e amigável, disse: “tamanho não importa para o som” – e é verdade.

E foi assim que, de repente, um dos muitos dias escuros da minha vida em Helsinque ganharam brilho. Engraçado como os dias mal-humorados podem mudar assim. Carregando a minha nova guitarra em um case estiloso com revestimento de veludo decidi entrar em um restaurante alemão que eu conhecia há alguns anos, quando gravei o “Precious Moment”, para a Spinefarm Records.

Paavo e eu fomos recebidos por um homem com um grande estômago e sotaque alemão e, seguindo sua sugestão, descobrimos um gigantesco brunch feito de blini [N.T.: uma espécie de panquecas tradicionais da Rússia] – na semana do carnaval em Helsinki muitos restaurantes vendem blinis -, e eu gostei muito. Foram diferentes tipos de salsichas, sopa de cantarelas, vegetais, salmão, spätzles, bretezels e várias sobremesas antes de finalizar com o café. O Paavo pediu uma cerveja Paulaner enquanto ouvíamos uma mulher tocando músicas tradicionais da Bavária com um acordeão.

Este momento amável me remeteu a algumas das melhores lembranças da minha vida, nas quais estava na mesma mesa com Loïc Tézénas, o guitarrista que eu trabalhava em Montpellier, e Hiili Hiilsemaa, famoso produtor finlandês conhecido por trabalhos como HIM e The 69 Eyes. Juntos fazíamos pausas de uma hora entre as gravações e comíamos rapidamente enquanto discutíamos nossas realizações do dia e o que ainda precisava ser feito. Loïc e eu, nessa época, tivemos que deixar de lado os nossos hábitos mediterrâneos de almoço e adotar o estilo finlandês: comer o mais rápido possível e voltar ao trabalho!

De volta em casa, sentei no chão e olhei de perto a minha nova amiga. Sua madeira podia ser menos brilhantes que suas irmãs mais caras, mas ela tinha sua beleza. Comecei a tocar e seu som me levou para um lugar muito mais leve e ensolarado. Como a magia da música pode ser forte! Toquei por bastante tempo e, então, Paavo jogou, de brincadeira, três moedas no meu case. Ri muito.

Ali percebi que há muito tempo não me divertia tanto ao tocar uma guitarra. De fato, tinha perdido o interesse neste instrumento anos atrás, mudando o meu foco para violinos, violoncelos e teclados. Me senti aquecida e percebi que a guitarra e eu renovamos a nossa amizade.

Esta noite estou na minha mesa, na minha casa situada na vizinhança de Kallio e escrevo este artigo dedicado ao website brasileiro de rock chamado Rockarama. Meu amigo Ricardo Campos me convidou a compartilhar algumas das minhas experiências musicais através de artigos. Decidi, com prazer, compartilhar com ele e com você, leitor e colega amante da música e da vida, onde estiver e o quanto eu conseguir.

Este belo final de semana está chegando ao fim. Amanhã se inicia uma nova semana.

Meu nome é Aurélie Potin Suau. Alguns de vocês podem me conhecer pelo meu nome artístico Eilera. Seja bem-vindo ao meu espaço.

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