Vocalista celebra a ótima fase do Judas Priest, que estará no Brasil em breve na turnê do bem-sucedido “Firepower”
Depois de uma carreira consagrada, milhões de álbuns vendidos e o respeito de todos os fãs de heavy metal, o que ainda sobrava para o Judas Priest? Pois é, para a lendária banda inglesa, a impressão é que a vida começa aos cinquenta. Sim, porque 2019 marcará o cinquentenário de Rob Halford e sua trupe, que passarão pelo Brasil no Solid Rock novembro. O melhor disso é que o grupo vive um dos melhores momentos de sua existência com o álbum “Firepower”. Para falar sobre isso, e ainda sobre o produtor Andy Sneap, projetos paralelos e as mortes que vêm assolando o mundo da música, batemos um papo com o Metal God.
Judas Priest é uma banda com quase 50 anos de carreira e quando se olha um álbum como “Hell Bent For Leather”, que já tem 40 anos, ou “Ram It Down”, que já tem 30, o que os motiva a continuar e fazer um disco que não é apenas bom, mas essencial para o catálogo do Priest?
Rob Halford: Olha, quando se é músico, você literalmente não faz ideia do que vai criar. Quando Glenn (Tipton, guitarrista), Richie (Faulkner, guitarrista) e eu nos juntamos em uma sala para compor, é um livro aberto. A única referência que nos demos para “Firepower” foi pensar nos álbuns clássicos, mas, mesmo assim, de forma muito ampla. Poderia ser algo de “Sad Wings of Destiny” (1976) ou “Stained Class” (1978). Essa foi a base para a qual sempre voltávamos. Acho importante ter esses pontos de referência quando se tem três pessoas trabalhando juntas. Além disso, sempre ficamos de olho no calendário para controlar o tempo que tínhamos para compor, fazer pré-produção, produção, prazo para entregar para a gravadora e sair em turnê. Esse é o básico. Depois disso, tudo pode acontecer. Quando terminamos o processo e as músicas ficaram nas mãos de Andy Sneap (produtor e guitarrista que substitui Tipton nos shows, afastado por problemas de saúde) e Tom Allom, foi aí que a coisa realmente explodiu. Os fãs adoraram e nós só temos que agradecer.
A única referência que demos para ‘Firepower’ foi pensar nos álbuns clássicos, mas, mesmo assim, de forma muito ampla, algo de ‘Sad Wings of Destiny’ ou ‘Stained Class'” – Rob Halford
Até a arte, que ficou a cargo de Claudio Bergman, é espetacular!
Halford: Sim, ele é muito talentoso. Acho que nós só lhe mostramos uma música, para ele ter uma imagem na cabeça. Mas conversamos com sobre as imagens em “Screaming For Vengeance” (1982), “Defenders of the Faith” (1984), “Sad Wings of Destiny” e “Painkiller” (1990). Todas essas imagens fabulosas que são bem metal e cercam o Judas. Claudio sacou muito bem isso e criou essa criatura que batizamos de Titanicus. Como você sabe, a parte visual da banda é tão importante quanto a música. Queremos apresentar algo memorável visualmente, além do que sai pelos falantes.
Andy Sneap é conhecido por ter trabalhado com Accept, Overkill e várias outras bandas. Onde ele se encaixa nos planos do Judas? Claro, ele é o guitarrista da banda agora, mas, está só quebrando um galho ou está comprometido com a banda enquanto vocês precisarem dele?
Halford: Você acabou de dizer. Está comprometido com a banda enquanto precisarmos dele. Andy é um produtor prolífico, que vive no estúdio de sua casa. Ele ama isso, é a vida dele. Logo, somos extremamente gratos por ele ter largado tudo pela turnê de “Firepower”. Posso dizer tranquilamente que continuará conosco pelo restante da turnê, que irá se estender até a maior parte do ano que vem. O que acontecerá depois disso, não temos como saber. Só estamos felizes de tê-lo conosco e Glenn (Tipton) está feliz por Andy estar lá tocando as suas partes. Ele toca suas partes muito bem e os fãs o aceitaram pela sua generosidade. É uma história feliz.
Minha prioridade será sempre o Judas Priest, mas quando aparecem oportunidades para fazer algo fora, e não prejudique o trabalho da banda, tenho que aceitar” – Rob Halford
Nos últimos anos, você gravou músicas com Five Finger Death Punch, In This Moment e Ihsahn (ex-Emperor) fala em fazer algo com você. Existe essa necessidade criativa que precisa saciar em outro lugar que não seja o Priest?
Halford: Em primeiro lugar, fico honrado quando as bandas me procuram. É uma honra que pensem em me dar a oportunidade de trabalhar com pessoas tão talentosas. Mas música deveria ser assim. Não se deve viver preso em algum lugar. Tem que ser livre, para fazer o que quiser. Minha prioridade será sempre o Judas Priest, mas quando aparecem oportunidades para fazer algo fora, e não prejudique o trabalho da banda, tenho que aceitar. Sou músico, preciso me expressar. Me sinto mais vital em termos de criatividade agora do que jamais senti. Mas não planejo nada. Outro dia dei uma entrevista falando sobre a possibilidade de projeto com Nergal (Behemoth) e Ihsahn. Todos sabem que adoro esse tipo de som. O que aconteceria se nós três nos juntássemos em um estúdio? Esse é o legal da música. Deve ser ilimitado, sem fronteiras e se o faz se sentir bem e soa bom, tem que fazer!
Eu adoraria ver como seria esse projeto! Tem agora essa turnê ao lado do Deep Purple nos EUA e Canadá. Primeiro, pode soar como uma combinação estranha, mas, se pensar bem, é perfeita!
Halford: É isso mesmo. Gosto do álbum “Fireball” (1971) e de músicas como “Speed King” e “Woman From Tokyo”. Sou um grande fã de Deep Purple. E tenho certeza que é assim também para todos que forem assistir. É algo único. Uma turnê com as duas bandas com seu show completo não acontecerá em lugar nenhum, a não ser nos EUA e Canadá. É um evento. E vai funcionar. O Deep Purple não chegou a ser considerada uma das bandas que tocava mais alto no mundo? São ótimos ao vivo, uma grande banda em termos de musicalidade. Assistir Roger Glover no baixo e Ian Paice na bateria. E nem tenho elogios o bastante para falar de Ian Gillan como uma referência para mim como vocalista. Foi uma grande inspiração.
O ano que vem são 50 anos de Judas Priest, o que é incrível. Estamos nos divertindo como nunca no momento, com o grande sucesso que nossos fãs estão proporcionando” – Rob Halford
O que pode falar sobre o poder da banda, pois toda vez que se assiste o Judas Priest é um espetáculo!
Halford: O ano que vem são 50 anos de Judas Priest, o que é incrível. Estamos nos divertindo como nunca no momento, com o grande sucesso que nossos fãs estão nos proporcionando. “Firepower” é um dos álbuns mais bem recebidos de nossa carreira. Estamos empolgadíssimos com isso!
Recentemente tivemos a notícia do falecimento de Aretha Franklin. O que pode dizer sobre ela e o que significou, não apenas musicalmente, mas também culturalmente, já que ela está acima de apenas uma cantora. É um ícone cultural.
Halford: Sim, e nos EUA ele é vista como um tesouro nacional. Só para registrar também, houve o suicídio de Jill Hanus (vocalista, Huntress). Eu adoro mulheres poderosas em um mundo em geral dominado por homens, seja nos negócios ou na arte. Eu tinha uns dezesseis anos quando ouvi “Respect” pela primeira vez. Morava na Inglaterra e quando ouvi, pensei: “Que música é essa?”; “Quem é essa mulher?”; “Que voz é essa?”… É claro que música é música, mas somos atraídos pela mensagem e pelas palavras. O estilo dela é incrivelmente icônico e ela fez coisas extraordinárias, dentro e fora da música. Pense no que ela fazia nos EUA no nível social, com todas as injustiças sociais que aconteciam por lá na época e continuam de certa forma até hoje. Ela foi uma luz de esperança nesse aspecto. Mas a voz é simplesmente inesquecível e absolutamente inconfundível quando aparece no rádio. Uma perda trágica, como tantos dos meus amigos vocalistas com grandes vozes que morreram. Até a voz de Lemmy era sensacional. Mas Aretha viveu uma vida lendária e icônica e devemos ser gratos pela música que deixou para nós.
E foi oportuno mencionar também a vocalista do Huntress, Jill Janus, que se matou. Uma coisa terrível.
Halford: Uma coisa terrível. Não quero levar a entrevista para um lado triste e melancólico, mas temos que fazer algo sobre essa parte do mundo da música. As questões e os desafios mentais existem. Estamos perdendo pessoas antes da hora. E você sente de mãos atadas, como se não pudesse fazer nada. É todo um processo. Eles estão felizes, ao lado dos amigos e da banda e, de repente, eles se vão. E aí sente-se o poder horrível que a doença mental pode ter. Por isso, precisamos fazer o máximo que pudermos para debater a questão. Seja através de estudo, tentar encontrar soluções, falar sobre isso, fazer o que pudermos para não perdermos pessoas do modo que estamos perdendo agora.
JUDAS PRIEST NO BRASIL:
08 de novembro – Solid Rock: Curitiba/PR (Pedreira Paulo Leminksi) – Judas Priest, Alice In Chains e Black Star Riders | Ingressos aqui
10 de novembro – Solid Rock: São Paulo/SP (Allianz Parque) – Judas Priest, Alice In Chains e Black Star Riders | Ingressos aqui
11 de novembro – Rio de Janeiro/RJ (Km de Vantagens Hall) – Judas Priest, Alice In Chains e Black Star Riders | Ingressos aqui
14 de novembro – Solid Rock: Belo Horizonte/MG (Expominas) – Judas Priest e Black Star Riders | Ingressos aqui
Transcrito e traduzido por Carlo Antico.