Ryan Roxie conta mais sobre a sua trajetória até se tornar guitarrista do Alice Cooper, experiências vividas ao lado do mestre do horror e planos para o futuro
Aos 51 anos de idade, o guitarrista Ryan Roxie deu os seus primeiros passos como músico profissional num período difícil, na “pós-explosão” do chamado “hair metal”, quando a quantidade de bandas de hard rock estava saturada e a maioria acabou desaparecendo. Entretanto, seu caminho foi certeiro e ele chegou, de fato, ao estrelato como guitarrista da banda de Alice Cooper, onde ingressou em 1996. Muita coisa, porém, aconteceu antes e durante a sua carreira principal, tocando com Candy, Electric Angels, Gilby Clarke, Slash’s Snakepit, Casablanca, Roxie 77, entre outros. Na entrevista a seguir, Roxie nos conta mais sobre sua trajetória profissional e episódios muito curiosos que viveu como músico da cena de LA no final dos anos 1980.
Como foram seus primeiros passos? Houve apoio familiar para trilhar o caminho na música?
Ryan Roxie: O meu pai tocava trompete e minha mãe bateria na banda de marcha, então posso dizer que cresci numa família musical. Sempre tinha um violão Gibson no sofá quando eu era criança e o pegava para fazer mímicas ouvindo os álbuns do Beatles dos meus pais.
A sua primeira grande experiência na música foi com o Candy, quando você substituiu Gilby Clarke, que havia decidido deixar a guitarra de lado e ocupar o papel de vocalista na banda. Você estava perto dos 20 anos e se juntou a um grupo de músicos talentosos e promissores. Deve ter sido uma experiência e tanto!
Roxie: Sim. Eu era ainda mais novo, acho que tinha uns 19 anos na época. Foi uma grande experiência tocar numa banda que já era “conhecida”. Eles estavam com uma gravadora e tinham uma grande agência de empresariamento, então achei que o céu seria o limite. Mas você conhece bem o ditado: “é um longo caminho para o topo se você quer o rock and roll”! (risos).
Uma fã veio dizer que tinha um cara que era muito parecido com o Jon Bon Jovi. Ela não fazia ideia que, de fato, era ele!” – Ryan Roxie
Você tocou em vários álbuns solo de Gilby Clarke, então creio que tenham uma ligação musical muito forte. Como é esse seu relacionamento, musical e pessoal, com ele?
Roxie: Eu sempre serei grato ao Gilby por ter me dado a oportunidade de excursionar pelo mundo ao lado da banda solo dele. E grato, também, pela amizade e apoio musical ao longo dos anos. Ele produziu vários dos meus trabalhos solo com Dad’s Porno Mag e Roxie 77. Nós sempre trabalhamos juntos muito bem e nos divertimos muito em tocar juntos. É um grande cara.
Depois do Candy você formou o Electric Angels, assinou com a Atlantic e teve ninguém menos que Tony Visconti produzindo o álbum de estreia. O material era fantástico, mas acabou não rendendo o esperado. A seu ver, quais foram as razões disso?
Roxie: Mesmo estarmos no meio de um monte de bandas de hair metal de Los Angeles daquela época, acho que o Electric Angels tinha uma veia mais rock’n’roll, de nomes como Rolling Stones, T-Rex e Hanoi Rocks. Creio, então, que não nos encaixávamos muito no que uma banda de metal deveria ser naqueles dias. Mas foi ótimo podermos trabalhado ao lado do Tony Visconti, que havia produzido nossos heróis, como Marc Bolan, David Bowie e Paul McCartney. Juntos, fizemos um álbum pelo qual sou muito orgulhoso.
Naquela época, o Electric Angels estava envolvido com o guitarrista Bruce Kulick. Uma das primeiras músicas da banda, que ainda permanece não lançada, se chamava “Put the ‘X’ in Sex”. Naquela mesma época, o Kiss lançou a música “Let’s Put the X in Sex” para a coletânea “Smashes Trashes & Hits” (1988), composição de Paul Stanley e Desmond Child. Apesar das letras de ambas não terem ligação, o título foi uma grande coincidência, não? Existiu alguma conexão real?
Roxie: Bruce produziu as nossas primeiras demos e uma delas era a “X in Sex”. Não precisamos ir muito longe para ligar os pontos e perceber onde Gene e Paul pegaram o título “emprestado”. Esse é o problema: você não pode registrar um título de música. Então, teoricamente, eu poderia escrever uma música chamada “Rock and Roll All Night” que não teria nenhum problema real! (risos).
Ainda na época do Electric Angels, Jon Bon Jovi era um entusiasta da banda e existem histórias sobre como a música de “True Love and Other Fairy Tales” influenciou a letra de “Bed of Roses”. Isso de fato aconteceu?
Roxie: A nossa música tem uma linha que fala “our bed of roses has become a bed of nails”, e acho que a do Bon Jovi tem algo similar. Mas as músicas são completamente diferentes. Porém, novamente, a nossa saiu primeiro! (risos) E o nosso agenciamento naquela época era muito ligado ao Bon Jovi. Eu sempre gostei muito do Jon. Uma vez ele foi a um show nosso e uma fã veio dizer que tinha um cara que era muito parecido com o Jon Bon Jovi. Ela não fazia ideia que, de fato, era ele! (risos) Foi muito divertido.
Usamos o ‘Love it to Death’ como referência naqueles discos e é por isso que eles têm aquele tipo de sonoridade de ‘banda de garagem’. Crua e muito rock’n’roll!” – Ryan Roxie
O Electric Angels chegou a trabalhar em um novo álbum de estúdio, “New York Times”, que nunca havia sido lançado até este ano, numa edição chamada “Lost in the Atlantic”. O material não tinha sido lançado antes e a banda ainda havia se separado…
Roxie: Sim, mas não se separou por causa do álbum, muito pelo contrário! Naquela época estávamos mais unidos que nunca enquanto gravávamos as músicas. Tínhamos a missão de chegar ao segundo álbum de um jeito ou de outro, eu ainda consigo ouvir aquela determinação nas músicas. Estou feliz que finalmente tenha saído, mesmo que 20 anos depois.
Você entrou para a banda de Alice Cooper em 1996. Mesmo tendo bastante estrada naqueles dias, crio que tocar com Coop tenha sido algo, pelo menos no começo – que seja -, um misto de orgulho e pavor! Como foi a sua reação, ainda tendo Reb Beach (Winger, Whitesnake) como parceiro de guitarra?
Roxie: O meu primeiro show com Alice Cooper foi no Cabo Wabo, clube de Sammy Hagar no Cabo San Lucas (MEX), e com Van Halen. Estávamos filmando um vídeo para a VH1, gravando o show (que se tornou o “Fistful of Alice”) e tendo um monte de convidados, como Slash e Rob Zombie. Agora imagine o quanto excitado e nervoso eu estava: era a primeira vez que eu subia num palco com o Alice Cooper! Para a minha sorte tudo correu bem e aquele primeiro show se tornou 20 anos excursionando com o Coop.
Após “Fistful of Alice”, você levou quatro anos até que pudesse entrar em estúdio com Coop, e quando isso aconteceu foi brutal! “The Last Temptation” (1994) havia sido mais pesado que os outros registros de Alice Cooper, mas “Brutal Planet” (2000) foi uma grata surpresa para os fãs. Alice e Bob Marlette compuseram, ali, a maior parte das músicas. O quanto você participou e o quanto surpreso ficou quando teve contato com o peso das músicas?
Roxie: Depois do “Fistful of Alice”, de 96, eu fiquei muito feliz que Alice quisesse me incluir nos álbuns. Fui lá e gravei as minhas linhas de guitarra, tanto para o “Brutal Planet” quanto para o “Dragontown”, e Bob Marlette juntou tudo e tornou a sonoridade pesada e legal.
Já em “The Eyes of Alice Cooper” (2003), Alice voltou às raízes e, dessa vez, você participou do processo de composição. O mesmo ocorreu com o sucessor, “Dirty Diamonds” (2005). São álbuns muito legais e, após muitas décadas, fazem com que Alice Cooper soe como uma banda ao invés de um artista solo, como nos dias do Alice Cooper Group. A intenção nestes discos foi esta mesmo?
Roxie: Fico grato por você dizer isso. Sou muito orgulhoso daqueles dois álbuns, porque que pudemos compor com toda a banda. Isso, de fato, deu para eles uma vibração total “de banda”. Usamos o “Love it to Death” como referência naqueles discos e é por isso que eles têm aquele tipo de sonoridade de “banda de garagem”. Crua e muito rock’n’roll!
Roxie 77 vem do meu coração. Ali, a música é meio que uma terapia e você pode, definitivamente, dizer o que está acontecendo na minha vida por meio daquelas canções” – Ryan Roxie
Em 2006, você precisou sair da banda de Alice para cuidar de sua família, principalmente de seu filho, Lennon, que era jovem. Imagino que tenha sido difícil tomar aquela decisão…
Roxie: Foi muito difícil sair daquela turnê, mas eu estava muito feliz em poder acompanhar o crescimento do meu filho e filha durante aquele período. Ainda é muito difícil quanto tenho que deixá-los quando saio em turnê, mas sou muito grato em fazer isso, viver da música.
Ainda durante aquele primeiro período em que estava com Alice Cooper, você tocou com o Slash’s Snakepit, entre 1999 e 2000. Ao lado da banda gravou o excelente “Ain’t Life Grand” (2000). Aquela formação era muito boa e seu estilo de tocar se encaixou bem ao de Slash, concorda?
Roxie: Sim! Acho aquele álbum muito, mas muito, subestimado. Slash estava tocando muito e a banda era demais! Rod Jones é um dos meus vocalistas favoritos, de todos os tempos. Convido a todos que ainda não tenham ouvido aquele álbum a fazerem, pois é uma verdadeira viagem musical!
Em 2004, você começou Roxie 77. Podemos dizer que ali é 100% a música de Ryan Roxie, sem preocupações ou comprometimentos com estilo?
Roxie: Roxie 77 vem do meu coração. Ali, a música é meio que uma terapia e você pode, definitivamente, dizer o que está acontecendo na minha vida por meio daquelas canções. Eu cresci meio com a música “pop pesada”, que era uma sonoridade pop, mas sempre com guitarras pesadas. Tento levar isso para o Roxie 77.
Seis anos depois do começo com o Roxie 77 foi a vez de você entrar para o Casablanca, que também tem muito daquele “pop pesado”, mas num formato mais tradicional no “vocalista com guitarrista”. Foram álbuns legais, mas após seu retorno para a banda de Alice não pode mais ter tanto foco no Casablanca. Como está, atualmente, a divisão do tempo com Alice e seus outros projetos musicais?
Roxie: Estar na banda de Alice Cooper é uma honra para mim, então sempre tomo cuidado para que esta seja a minha prioridade. As turnês estão constantes desde o meu retorno, em 2012, mas quando dá tempo sempre tento marcar algum show do Roxie 77 ou fazer alguma coisa com outros projetos ou bandas, como o Casablanca.
Eu nunca toquei no Brasil, então não poderia estar mais empolgado para encontrar os fãs daí. Espero que as pessoas também estejam com a mesma empolgação” – Ryan Roxie
E posso imaginar a honra que sentiu ao ser o escolhido para substituir Glen Buxton ao lado dos membros remanescentes do Alice Cooper Group – Michael Bruce, Dennis Dunaway e Neal Smith –, para aquelas apresentação especial no Tennessee. Você era, ali, o elo para os dois lados da história de Alice!
Roxie: É muito especial tocar ao lado dos caras originais da banda, pois eles são o “som verdadeiro” do Alice Cooper Group. Ninguém consegue tocar aquelas músicas como eles, e quando Alice Cooper começa a cantar ao lado de Michael, Dennis e Neal, aquelas gravações originais ganham vida novamente. Sou muito feliz por fazer parte desta viagem!
Em setembro Alice e banda virão ao Brasil tocar no Rock in Rio, além de grandes shows em São Paulo e Curitiba. Como estão as suas expectativas para essa estreia em palcos brasileiros?
Roxie: Eu nunca toquei no Brasil, então não poderia estar mais empolgado para encontrar os fãs daí. Espero que as pessoas também estejam com a mesma empolgação para detonar conosco e ouvir todos aqueles clássicos. Será uma grande experiência para todos!
Depois da visita ao Brasil, o próximo show com Alice será apenas em meados de outubro, na Austrália. Pretende passear um pouco por aqui nesse período?
Roxie: Espero que dê tempo de passear pelo Brasil depois dos shows, mas caso não role dessa vez, é sempre possível que eu volte com o Roxie 77 e o trabalho solo, que tal?
Seria ótimo! O que podemos esperar dos próximos trabalhos seus fora da carreira com Coop?
Roxie: Gravei um álbum “Ryan Roxie” e, neste momento, estou aguardando para ouvir a mixagem final. Até agora estou muito satisfeito com o que ouvi, então peço a todos que fiquem ligados nas minhas redes sociais para a data exata de lançamento.
Visite: www.ryanroxie.com