Alter Bridge e The Cult acabaram sendo “bônus” em noite em que público foi para ver o The Who

The Who | Foto: Ricardo Matsukawa - Mercury Concerts
The Who | Foto: Ricardo Matsukawa - Mercury Concerts

Alguns ainda ficam perdendo tempo em mídias sociais reclamando da “falta” de heavy metal no Rock in Rio ou insistindo na baboseira de que o evento deveria mudar de nome porque “não tem rock”. Ainda há aqueles, sem memória, que vivem afirmando que a música pesada vem perdendo força, se esquecendo que somente neste ano tivemos a presença de atrações para todos os gostos, além de grandes eventos, como “Maximus Music Festival”, “Lollapalooza” e, agora, o “São Paulo Trip”, com produção da Mercury Concerts e que teve início na última quinta-feira (21). No pacote, The Who, The Cult e Alter Bridge, atrações para agradar fãs de todas as gerações. Bem, em tese seria isso mesmo, mas os que compareceram nitidamente estavam lá para ver o “show do The Who”. E, convenhamos, o Brasil merecia recebê-lo…

Myles Kennedy (Alter Bridge) | Foto: Ricardo Matsukawa - Mercury Concerts
Myles Kennedy (Alter Bridge) | Foto: Ricardo Matsukawa - Mercury Concerts

Ainda assim, a nova geração teve seu representante com o Alter Bridge, que vem se destacando há tempos com seu pesadíssimo metal/modern hard rock e atualmente promove o álbum ao vivo “Live at the O2 Arena + Rarities”. Na formação, Myles Kennedy (vocal e guitarra), Mark Tremonti (guitarra e vocal), Brian Marshall (baixo) e Scott Phillips (bateria), músicos que já haviam estado no Brasil anteriormente – Kennedy veio em 2011 e 2012 com Slash (feat. Myles Kennedy & The Conspirators) e o restante com o Creed, também em 2012. Sendo assim, o Brasil só era novidade mesmo apenas para a atração principal – a tímida presença de público no início do evento foi apenas um indício de que aquela era a noite do The Who. Seja como for, o Alter Bridge veio de Curitiba (PR), onde apresentou na última terça-feira (19) seu show completo, em noite que também contou com The Cult. Além disso, o grupo americano também está escalado para hoje (22) no Rock in Rio.

Os músicos demonstraram total domínio de palco logo no início, com a pesada “Come to Life”, lançada há dez anos em “Blackbird”. O peso foi mantido na acelerada “Addicted to Pain”, de “Fortress” (2013), destacando a performance vocal de Kennedy. No início da melódica e com tempero pop “Ghost of Days Gone By”, de “AB III” (2010), parte do público, que nem de longe lotava as dependências do Allianz Parque, teve participação ativa. A longa “Cry of Achilles”, de “Fortress”, pode vir com dedilhados no início, mas depois cresce e mostra a versatilidade do grupo, que seguiu com “Crows on a Wire”, de “The Last Hero”. De início mais acelerado, contou solo a cargo de Kennedy, que seguiu mandando bem em “Waters Rising”. Coeso e bem timbrado, o baixo de Marshall não fica apenas na marcação, assim como o microfone de Tremonti não serviu apenas de enfeite, pois o guitarrista realmente canta, faz os vocais de apoio, além de demonstrar sua destreza nos solos.

A energética “Isolation”, dotada de um refrão marcante e conhecida pelos “nerd-rockers” pelo game de corrida DiRT 3. As coisas acalmaram na intensa “Blackbird” e em “Open Your Eyes”, single do álbum de estreia “One Day Remains” (2004). “Metallingus” e “Rise Today”, outra de “Blackbird” e que figurou na trilha da série “O Exterminador do Futuro: As Crônicas de Sarah Connor”, botaram ponto final no set de uma banda extremamente competente e que há tempos já passou da fase novidade. É realidade, conta com uma crescente legião de seguidores e somente este ano se apresentou nos maiores festivais europeus, como Download (ING), Sweden Rock Festival (SUE), Hellfest (FRA), Graspop (BEL), Rock am Ring (ALE), Copenhell 2017 (DIN) e Nova Rock 2017 (AUT). Sabe quando você vê uma banda que demonstra realmente ser unida e que curte o que faz? Pois bem, Alter Bridge é dessas.

Ian Astbury e Billy Duffy (The Cult) | Foto: Ricardo Matsukawa - Mercury Concerts
Ian Astbury e Billy Duffy (The Cult) | Foto: Ricardo Matsukawa - Mercury Concerts

Não escalado para o Rock in Rio, mas vindo para engrandecer o cast do São Paulo Trip, o The Cult era esperado por um grande número de fãs de gothic, hard rock, metal e classic rock, que, àquela altura, chegavam em maior número. Os ingleses, que, desde 1991, quando promoviam o álbum “Ceremony”, se acostumaram a passar pelo Brasil, atualmente promovem “Hidden City” (2016). Desta vez, além de São Paulo, Ian Astbury (vocal), Billy Duffy (guitarra) e cia. estiveram em Porto Alegre (17), Curitiba (19) e tocam em Brasília neste sábado (23).

Celebrando os trinta anos de “Electric”, disco que foi a guinada do Cult ao rock’n’roll básico e hard rock, o set teve início, após a ‘intro’ de Kid Atari (“Lost Cinema”, 2006), justamente com a faixa de abertura, “Wild Flower”, que entrou queimando. Astbury e Duffy, acompanhados hoje em dia por Damon Fox (guitarra e teclado, Bigelf), Grant Fitzpatrick (baixo) e John Tempesta (bateria), seguiram com outra muito conhecida, “Rain”, de “Love” (1985). A primeira das novas foi “Dark Energy”, trazendo a marcação mais tribal de Tempesta e os típicos riffs “stones” de Duffy.

Astbury tentou puxar um “Brasil, Brasil…”, mas poucos o acompanharam. Diferentemente de quando se apresentou na última vez no Brasil em 2011, ele estava bem mais animado e sem aquele visual “largadão” que se assemelha aos últimos dias de seu ídolo Jim Morrison (The Doors). Agitando como nos velhos tempos em diversos momentos, teve as suas tiradas típicas inglesas, passeou pelo longo palco e comandou bem o espetáculo. Como ele mesmo disse “é um show de rock’n’roll”, e então o set seguiu com as trintonas “Peace Dog” e “Lil’ Devil”. O vocalista, porém, não cansou de tentar instigar o público, que teimava em não agitar. Costumeiramente, tenta instigar a plateia, mas desta vez ele realmente parecia incrédulo com a morna receptividade.

Depois da viajante “Deeply Ordered Chaos”, feita em homenagem às vítimas dos ataques terroristas em Paris em novembro de 2015, o álbum “Love” foi mais uma vez lembrado com a pesada “The Phoenix”. Peso por peso, foi a vez de “Rise”, um dos destaques de “Beyond Good and Evil” (2001), que finalmente pôs fogo na pista. Depois de muitas tentativas frustradas de provocar os presentes, Astbury até vibrou: “Agora sim, é o Brasil!”

No teclado, Damon Fox introduziu “Sweet Soul Sister”, de “Sonic Temple”, uma das mais bem recebidas. Depois, Astbury ironizou dizendo para “não fale para sua mãe como está o show mandando mensagem de texto (do celular) agora. Escreva depois….” Uma boa deixa para o hit radiofônico “She Sells Sanctuary”, presente na trilha do filme “Com Mérito” (1994), uma das mais saudadas pelos presentes. Em alta, e depois de voltar a empolgar a plateia com “Fire Woman”, de “Sonic Temple”, o set terminou condizente com o início, privilegiando os trinta anos de “Electric” com “Love Removal Machine”. Antes, porém, Astbury falou sobre a honra e o privilégio de estar no mesmo palco do The Who. Constando na trilha de “It” (2017) e com seu riff “Start Me Up” do sisudo e sempre competente Duffy, esta última foi perfeita para a atração principal que viria a seguir. Certamente faltaram mais clássicos – eu sei que você pensou em “Revolution”, “Edie (Ciao Baby)”, “Wild Hearted Son”, “Spiritwalker”, “Nirvana”, “Hollow Man” e “Painted On My Heart”, da trilha de “60 Segundos” –, mas com uma infinidade deles e dez discos nas costas, é realmente complicado montar o repertório de shows em um festival. Bem, quem quiser seguir celebrando os trinta anos de “Electric”, basta comparecer nesta sexta (22) ao tradicional Madame Satã (rua Conselheiro Ramalho, 873 – Bela Vista) – entrada livre a noite toda apresentando o canhoto/comprovante do ingresso do São Paulo Trip.

Roger Daltrey e Pete Townshend (The Who) | Foto: Ricardo Matsukawa - Mercury Concerts
Roger Daltrey e Pete Townshend (The Who) | Foto: Ricardo Matsukawa - Mercury Concerts

Pela primeira vez em solo brasileiro, e tendo à disposição um repertório repleto de clássicos (olha eles aí de novo!), os ingleses do The Who abriram o show com “I Can’t Explain”. Agora, sim, deu para sentir que o público estava lá mesmo para ver Roger Daltrey e Pete Townshend e cia. Diferentemente do título da música, que chegou a ter versões gravadas por astros de David Bowie a Scorpions, é fácil explicar o sentimento dos presentes ao estádio: emoção. Sim, aquela pura de fãs de música, que você sente estando ao lado de pessoas que os acompanham há décadas.

Obviamente, os saudosos John Entwistle e Keith Moon foram lembrados – e apareceram no telão várias vezes –, mas a banda de apoio é competente. Na bateria estava Zak Starkey, filho de Ringo Starr, enquanto o irmão mais novo de Pete, Simon Townshend, comandou a segunda guitarra e o americano Jon Button o baixo. Além destes, havia três tecladistas (John Corey, Loren Gold e Frank Simes) no palco. É, o setentões na linha de frente comandando um octeto, que seguiu com a não menos clássica “The Seeker”, com imagens antigas de Daltrey correndo, pulando e voando no telão. Pode até ser repetitivo mencionar “clássico” e “hit” a todo instante, mas como descrever “Who Are You” ou “The Kids Are Alright”?

Em “I Can See for Miles” deu para perceber a força de uma música lançada há cinquenta anos. Você já ouviu falar e leu que o rock é eterno, mas senti-lo pulsando faz mais sentido, especialmente quando se nota que “My Generation” sempre vai ser relevante. Durante o set, difícil foi conseguir ouvir o som do palco com o público quase encobrindo a banda de tanto vibrar e cantar junto – afora, os constantes urros (!) de “Who! Who! Who”. Da mesma forma, Townshend, que também comandou os vocais principais em alguns momentos, fez questão de explicitar sua empolgação ao estar pela primeira vez na América do Sul.

A experiência em ver o The Who seguiu com “Bargain”, que figurou em episódios de CSI. Os aficionados em séries vibraram mais ainda com “Behind Blue Eyes”, que constou em “Cold Case”, “Supernatural” e até “Buffy the Vampire Slayer”. Depois, foi a vez de obedecer aos comandos de Daltrey como indica o título “Join Together”, conhecido single de 1972, com a entrada misteriosa tendo a gaita em primeiro plano. Se a espera em ver a lendária banda inglesa pela primeira vez por aqui foi angustiante para seus fãs, o longo set compensou. A fase anos 1980 foi saudada com “You Better You Bet”, mas então o repertório se voltou ao álbum “Quadrophenia” (1973), com as execuções de “I’m One”, “The Rock” e “Love, Reign O’er Me”, que teve destaque na trilha da série Freaks and Geeks (Aborrecentes, no Brasil), em especial, no episódio 14 da primeira temporada. A viagem então retornou à década de 80 com a suingada e dançante “Eminence Front”, com Daltrey empunhando a guitarra e Pete agora no comando dos vocais. Depois veio “Amazing Journey”, título de um documentário do Who lançado há dez anos e faixa do clássico “Tommy” (1969), que também trouxe “Sparks”, a sempre lembrada “Pinball Wizard” e “See Me, Feel Me”.

Aclamada logo nos primeiros instantes, foi a vez da mágica “Baba O’Riley”, aquela que o saudoso Ronnie James Dio se inspirou para compor “Hungry for Heaven”, que o Mr. Big usa como encerramento de seus shows e que é conhecida também pela série “CSI: NY” – vale lembrar que a série “C.S.I.: Investigação Criminal” usa “Who Are You” na trilha, enquanto “CSI: Miami” apresenta “Won’t Get Fooled Again”, a última antes do encore, que contou com “5:15” e “Substitute”. Se veremos o The Who no Brasil novamente não é possível saber, mas, a julgar pela emoção que tomou conta do público, fica fácil prever que apelo existe.

Todos os shows privilegiaram a música ao invés do discurso. Assim, hoje, enquanto alguns estiverem vibrando no Rock in Rio com Bon Jovi, Alter Bridge e Tears For Fears, e outros no sofá vendo a transmissão pelo canal Multishow, seria interessante fazer uma reflexão: que tal pararmos um pouco de pensar tanto no futuro, em quem vai encher estádios daqui a dez anos, e curtir o que ainda temos para curtir? Tenha em mente que até os milhares de presentes que não torcem pelo Palmeiras saíram do Allianz Parque certos de que o “gol do ano” neste estádio foi o SP Trip. E olha que o evento só estava começando…

Fotos: Ricardo Matsukawa – Mercury Concerts

SERVIÇO – SÃO PAULO TRIP:
Local: Allianz Parque
Avenida Francisco Matarazzo, 1705, Água Branca – São Paulo (SP)

Próximas atrações:
23 de setembro: Bon Jovi e The Kills
24 de setembro: Aerosmith e Def Leppard
26 de setembro: Guns N’Roses, Alice Cooper e Tyler Bryant & The Shakedown

Vendas pela Internet: www.ingressorapido.com.br

Ponto de venda sem taxa de conveniência:
Bilheteria Oficial no Teatro Tuca: Rua Monte Alegre, 1024 – Perdizes.
Horário de Funcionamento: Terça a sábado das 14h às 19h e domingo das 14h às 18h (em dia de espetáculos até o início do mesmo)

Classificação Etária: 14 anos
Menores de 14 permitidos apenas acompanhados dos pais ou responsável legal.
Site relacionado: www.saopaulotrip.com.br

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