Tecladista Derek Sherinian está empolgado com as possibilidades do time de estrelas
Desde meados dos anos 1960, vira e mexe ouvimos a expressão supergrupo, criada para definir bandas formadas por integrantes que haviam feito sucesso em outras formações e resolveram juntar forças. No entanto, isso não é sinônimo de sucesso – o Blind Faith, de Eric Clapton, Ginger Baker, Steve Winwood e Ric Grech, não conseguiu passar do primeiro álbum. Ainda assim, mais um desses supergrupos acaba de se tornar realidade, o Sons of Apollo. Jeff Scott Soto (vocal, Talisman, Yngwie Malmsteen e muitos outros), Ron “Bumblefoot” Thal (guitarra, Guns N’Roses), Billy Sheehan (baixo, David Lee Roth, Mr. Big, The Winery Dogs e outros), Mike Portnoy (bateria, Dream Theater, Adrenaline Mob, The Winery Dogs e outros) e Derek Sherinian (teclado, Dream Theater, Black Country Communion, Kiss, Alice Cooper, Billy Idol, entre outros) garantem que, com a força do álbum de estreia, “Psychotic Symphony”, o destino será uma carreira longa e bem sucedida. Para falar sobre isso e outros momentos de sua história no mundo da música, conversamos com Sherinian, que chega esta semana ao Brasil, onde fará shows com Sons of Apollo em São Paulo (SP), Porto Alegre (RS) e Belo Horizonte (MG).
O álbum do Sons Of Apollo (“Psychotic Symphony”) fala por si só… É um ótimo trabalho!
Derek Sherinian: Muito obrigado, estamos muito orgulhosos do resultado final. Quando Mike (Portnoy) e eu decidimos iniciar essa banda, o plano original era fazer algo mais progressivo, na linha do que fazíamos no Dream Theater. Porém, quando começamos a compor e chamamos Bumblefoot, todas as nossas influências de hard e classic rock começaram a ficar muito evidentes. Logo, ficou muito diferente da nossa intenção original. Se tivesse que nos definir, diria que somos uma banda de rock com muita habilidade musical. E conseguimos juntar isso de uma forma que não compromete a composição. Todas as músicas possuem algo que te prende. E os vocais são bem rock, queríamos ficar bem longe dos clichês de vocalistas de metal progressivo com vocais muito agudos ou outros que gritam como se estivessem furiosos, mas não têm motivos para isso. Os vocais são bem agradáveis, para que possamos atingir uma gama maior de pessoas e não só um nicho.
Sons of Apollo é uma banda em tempo integral. Temos contrato com uma gravadora grande, um ótimo acordo com um empresário e estamos em turnê mundial” – Derek Sherinian
Você se juntou a Mike Portnoy para um projeto e isso virou uma banda?
Sherinian: Sons of Apollo é uma banda em tempo integral. Temos contrato com uma gravadora grande, um ótimo acordo com um empresário e estamos em turnê mundial. Essa é a prioridade de todos os integrantes. Todos nós reservamos nossas agendas de 2018 para isso. E o mais importante: achamos que essa banda tem potencial de gerar mais interesse do que todas as nossas outras. Minha previsão é que vamos explodir no ano que vem.
Bem, devo dizer que concordo com você por várias razões. Por exemplo: veja o caso do Black Country Communion, uma grande banda, mas sabemos que Joe Bonamassa possui uma ótima carreira solo. Aqui dá para notar que os músicos estão muito entrosados e não há nada que nos leve a pensar que não vá dar certo.
Sherinian: É sim. O Sons of Apollo é, se compararmos integrante por integrante, a banda de rock mais legal que existe no mundo hoje, com os melhores integrantes, cada um em seu instrumento. E uma das coisas sobre nós é que somos um supergrupo modelo. Cada músico tem seu som e estilo típicos e quando você ouve qualquer um de nós tocar, você sabe quem é. Nosso DNA em nossos instrumentos é forte assim. E quando nos juntamos, é uma explosão. Nós simplesmente nunca ouvimos nada assim no rock antes, essa malícia junto com o virtuosismo.
Sobre a composição do álbum, até onde sei vocês se juntaram no estúdio por uma ou duas semanas e as músicas saíram. Foi como antigamente, igual a bandas como Black Sabbath e Kiss faziam nos anos 70?
Sherinian: Foi um ano, ano e meio atrás que Mike e eu decidimos colocar isso em andamento e eu comecei a compor imediatamente. Uma das primeiras coisas que mostrei a ele foi uma música de 11 minutos chamada “God of the Sun” que era uma trilogia. Ouviu e achou ótima e falou para não mexer em nada porque seria a abertura do álbum. E todos esses meses depois, ela é a faixa de abertura. Fiquei muito lisonjeado de ele ter gostado tanto do que eu estava fazendo e isso me inspirou a continuar compondo. Então, quando entramos no estúdio, dia 1º de março, eu tinha todas essas ideias e pontos de partida. Ron tinha alguns riff ótimos e outras ideias e aí jogamos tudo no caldeirão no estúdio. Basicamente, eu, “Bumblefoot” e Mike compusemos o disco e Billy Sheehan apareceu uns três ou quatro dias depois e deu sua contribuição. A fase seguinte era achar uma performance vocal que ficasse no mesmo nível das grandes partes instrumentais que havíamos composto. Logo, havia muita pressão para que Jeff Scott Soto correspondesse às expectativas e Mike e eu trabalhamos com ele nas letras e nas melodias vocais e ficou matador. E acho que Jeff fez um trabalho incrível em “Psychotic Symphony” e ele conseguirá cantar tudo ao vivo sem problemas, porque mantivemos tudo dentro do alcance dele. Não há nada pior do que ir assistir à sua banda favorita e ver o vocalista sofrendo para atingir as notas mais altas porque ele usou truques no estúdio para conseguir gravar. Tudo que se ouve no álbum, conseguimos fazer ao vivo.
Muita gente entra no estúdio achando que vai fazer um disco de rock só com downloads. Acham que existem aplicativos para ter feeling. Não dá para fazer isso!” – Derek Sherinian
A escolha de Billy Sheehan e Jeff Scott Soto foi natural, ou tinham uma lista com nomes que poderiam ser vocalistas ou baixistas?
Sherinian: Bem, havíamos tocado com Billy Sheehan em 2012 no (projeto instrumental) PSMS, junto com Tony MacAlpine, então Mike e eu sabíamos que ele era a escolha óbvia para o baixo. Mike sugeriu “Bumblefoot” e Jeff Scott Soto, e achei ótimas escolhas. O Sons of Apollo é uma grande combinação entre todos os nossos estilos.
E quando você olha para a carreira de Soto, com passagens por Yngwie Malmsteen, Journey, ele consegue cobrir todo o espectro. Se você quer rock, hard, prog ou balada, ele faz. Vamos falar agora sobre o Black Country Communion, que também está ativo no momento. Como você decide qual música é para esse projeto e qual é para o Sons of Apollo?
Sherinian: Não há esse problema porque as músicas para o “BCCIV” foram compostas por Joe e Glenn (Hughes). Jason (Bonham, baterista) e eu não fizemos parte do processo de composição. No primeiro dia do ano, Glenn já tinha todas as demos em seu iPhone e estávamos em um estúdio luxuoso em Hollywood, mas não conseguíamos ligá-lo na mesa de som. Aí tivemos que ouvir no alto-falante do telefone mesmo, fazer anotações, aprender as músicas e gravar. Foi assim que fizemos; música após música. Gravamos esse disco inteiro em cinco dias, mais ou menos.
Há certa mágica em gravar dessa forma, pois quando se olha para os anos 1970 e bandas que lançavam dois álbuns por ano, as imperfeições desses trabalhos possuem um charme.
Sherinian: Sim, e você tem que ter experiência e um pedigree de rock’n’roll para fazer isso. Muita gente entra no estúdio achando que vai fazer um disco de rock só com downloads. Acham que existem aplicativos para ter feeling. Não dá para fazer isso! Ou você tem a capacidade ou não tem. Especialmente em uma banda como o Black Country Communion, em que você está lidando com caras como Joe Bonamassa, que é um dos melhores do mundo; Jason, que tem histórico de rock’n’roll; e Glenn Hughes, que está no Hall da Fama… Tem que conseguir se adaptar e criar uma personalidade sonora ali na hora e é assim que funciona nessa banda. Sinto-me abençoado de ter a habilidade necessária para conseguir acompanhar esses caras.
O legal sobre o Sons of Apollo é que todos os integrantes são encorajados a participar na composição. Queremos que deem seu máximo e brilhem por todo álbum” – Derek Sherinian
Kevin Shirley foi muito bem na produção de “BCC IV”. Porém, é frustrante para você ser o cara que apenas chega para colocar suas partes de teclado e não estar mais envolvido no processo de composição e da visão musical da banda?
Sherinian: É sim. Em alguns dos álbuns passados eu e Jason ajudamos na composição, como em “Save Me”, que está no segundo álbum e ainda acho que é uma das melhores da carreira da banda. Tomara que a toquemos ao vivo. Eu sempre quero contribuir e tenho algo a oferecer ao som, mas o BCC foi formado como algo de Joe e Glenn; Jason e eu fomos chamados para complementá-los. É o que é, e a banda não faz turnês regularmente. Mesmo que se junte para lançar um álbum por ano e fazer alguns shows, acho ótimo porque adoro todos os caras da banda e Kevin Shirley. Me dá uma oportunidade de tocar de forma mais cadenciada. É legal, totalmente diferente da vibe do Sons of Apollo.
Se o Sons of Apollo decolar e virar sua banda principal, como fica o Black Country Communion?
Sherinian: O BCC é um superprojeto exaltado. O Sons of Apollo será uma genuína entidade, que grava e faz turnês. É a melhor forma de descrever.
Pensando mais na frente, você já quer ver o Sons of Apollo se juntando para trabalhar no próximo álbum ou quer ter um ciclo mais longo de dois anos por lançamento?
Sherinian: No fim das contas, o que importa é que estaremos em turnê e se houver demanda, passaremos pelos mesmos lugares duas vezes. Quando esse álbum estiver trabalhado o máximo possível, voltamos ao estúdio para gravar um novo. O público é quem irá decidir sobre isso. Eu e você podemos ficar aqui falando que seria legal voltarmos ao estúdio em setembro, mas se “Psychotic Symphony” decolar como achamos, e temos esperança que irá, poderemos continuar na estrada até 2019. Nunca se sabe.
Pelo que conversei com Bumblefoot e Jeff Scott Soto há uma empolgação quase infantil sobre o Sons of Apollo.
Sherinian: Sim! Porque fizemos uma obra de arte. Eu sei que é algo ousado de dizer, mas é verdadeiro.
Eu não discordo!
Sherinian: E você sabe, ouve vários discos. Eu sei que estou falando muito, mas esse álbum sustenta minha posição. Todos nos sentimos da mesma forma com relação a ele. Estamos empolgados e não vemos a hora de levar isso para a estrada. O legal sobre o Sons of Apollo é que todos os integrantes são encorajados a contribuir e participar na composição. Queremos que deem seu máximo e brilhem por todo álbum. Porém, o mais importante é a composição, a virtuose é a cereja no bolo.
Quantas bandas podem abrir um álbum com uma trilogia de 11 minutos? Quantas bandas têm a coragem de fazer isso e conseguem compor algo assim?” – Derek Sherinian
Sabe qual é o apelo do álbum? É que se você vê o Bumblefoot tocando no Guns N’Roses percebe que ele é talentoso, mas está limitado tocando aquelas músicas. O mesmo com você, quando tocava com Billy Idol. Tinha que ficar dentro de um certo limite. E eis uma banda em que vocês podem ser vocês!
Sherinian: Exatamente. Quantas bandas podem abrir um álbum com uma trilogia de 11 minutos? Quantas bandas têm, primeiro, a coragem de fazer isso e, segundo, conseguem compor algo assim?
Sim, é legal ver todos vocês finalmente saindo das sombras de suas outras bandas. Falemos sobre coisas mais antigas. Na turnê de “Revenge” do Kiss, você tocava atrás do palco. Como conseguiu esse trabalho?
Sherinian: Consegui esse trabalho através de Eric Singer que era e ainda é, um dos meus melhores amigos. Ele conseguiu a audição e fui contratado imediatamente. Sim, foi estranho ficar atrás do palco, algo que nunca havia feito antes, mas por outro lado era o Kiss e via aquilo como uma grande oportunidade de conviver com Gene e Paul e ver como eles dirigiam a banda e todo lado empresarial. Eu aceitei por causa dessa parte. E devo dizer que durante os três meses em que fizemos a turnê americana, eu me diverti mais do que em muitas das minhas outras turnês, apesar de estar atrás do palco. Foi maravilhoso, Gene e Paul são sensacionais, verdadeiros inovadores quando se trata dos negócios da música. Acho que não recebem crédito suficiente por muitas das coisas que inventaram. Para mim, inventaram todo o conceito de merchandise no rock’n’roll, além de todo esse lance de “meet and greet”.
Paul Stanley e Gene Simmons merecem respeito já que, como você sabe, qualquer um que se mantém por 45 anos nesse ramo tem que ser respeitado. O que aprendeu na parte de administração com eles?
Sherinian: Eu me lembro que uma vez por semana, nos ensaios, vinha o contador com um cheque e um livro de registro. Fiquei sabendo que qualquer cheque que saísse do Kiss com um valor superior a 500 dólares, tinha que ter a assinatura de Gene e Paul. Achei incrível e inteligente, porque eles passaram o inferno e perderam muito dinheiro pela boa fé em deixar os outros lidarem com a poupança deles. Aprenderam e resolveram assumir o problema com as próprias mãos e ter acesso a tudo. Qualquer coisa que saia, eles sabem o que é. Acho isso uma boa prática e Mike e eu, de uma forma ou de outra, somos como Gene e Paul. Apaixonados pela música, mas ambos espertos com os negócios. Passamos por muita merda nos últimos 25 anos e não vamos deixar nos ferrarem.
Do dia para a noite, me vi passar de um músico de estúdio desconhecido para tocar com Alice Cooper, estar na MTV e em uma turnê mundial tocando em arenas” – Derek Sherinian
E profissionalmente, como ajudou? Assim que voltou da turnê e colocou aquilo no seu currículo, isso lhe deu credibilidade automaticamente ou não fez diferença porque estava atrás do palco?
Sherinian: Não, deu total credibilidade, porque no fim das contas eu estava ali trabalhando todo dia empregado por 4 meses. E isso significa muito porque esses caras são patrões exigentes e o fato de eu ter chegado até o fim é uma grande coisa. E para qualquer um que olha para isso, é uma parte importante do meu pedigree, junto com Alice Cooper, Buddy Miles (bateria, Jimi Hendrix), Yngwie Malmsteen.
Como foi para você observar Alice Cooper estava focado em recuperar sua carreira e também foi muito inteligente em termos profissionais?
Sherinian: Foi a época mais empolgante da minha vida. Estive na turnê de “Trash”, em 1989-90. Do dia para a noite, me vi passar de um músico de estúdio desconhecido para tocar com Alice Cooper, estar na MTV e em uma turnê mundial tocando em arenas. Foi uma época sensacional. Al Pitrelli na guitarra e Eric Singer na bateria, ainda sou muito amigo de ambos. Foi tudo muito novo e empolgante para mim, eu era verde como um gramado de futebol americano. Foi no finalzinho dos anos 80, os últimos dias do Glam Metal, qualquer turnê era uma loucura. Muita diversão. E daí no ano seguinte, quando Seattle e a flanela chegaram, tudo acabou. Saímos em turnê para “Hey Stoopid” e as arenas tinham 25% de ocupação. Era o fim. Só se falava de Stone Temple Pilots, Soundgarden e Nirvana. Foi isso que aconteceu, mas minha época com Alice foi demais. E Shep Gordon (empresário de Alice) também foi um mentor na parte de negócios que foi muito útil.
Preciso lhe perguntar sobre Billy Idol, pois você tocou em um álbum com ele, “Devil’s Playground” (2005). Como foi trabalhar com Billy nesse álbum, porque ele foi criminosamente ignorado?
Sherinian: Bem, se me lembro corretamente, não houve muita participação do teclado nesse álbum, mas sei que ele foi composto, em sua maior parte, por Brian Tichy, o baterista. Pelo que sei, Brian era só o baterista, mas de alguma forma Billy ficou sabendo que ele compunha. Aí, pediu para ele mostrar uma música. Quando Billy ouviu “Scream”, fez de Brian seu parceiro principal de composições, em vez de Steve Stevens (guitarra). De repente, Brian Tichy compôs a maior parte daquele álbum, uns 89%. Já faz um tempo, então não lembro o número exato, mas sei que ele foi uma enorme parte da música naquele álbum e, provavelmente, algumas das letras e vocais também.
E ele foi essencial em convencer Billy a gravar o álbum de Natal, “Happy Holydays” que você…
Sherinian: (interrompendo) Acho uma vergonha como esse álbum é ignorado. Toquei nele e acho que meu solo de jazz em “O Christmas Tree” é um em que se deve prestar atenção e analisar (risos). É engraçado, porque falando sério, não sei exatamente tocar o estilo, mas é um solo de piano muito bom. Mas esse disco… Olha, se você ouve Billy cantar “Frosty, the Snowman” e não sentir nada, você é um maldito de coração de pedra! É um álbum agradável, eu sempre ouço na época do Natal e acho que todos também deveriam.
Transcrito e traduzido por Carlo Antico.