Vocalista do Ratt fala sobre seu novo álbum solo e o futuro décimo trabalho do grupo que o consagrou
Quem já teve a oportunidade de assistir ao Ratt ao vivo, não imagina que aquele ‘frontman’ de voz rasgada e marcante tenha uma vida tão agitada fora dos holofotes. Stephen Pearcy conta não apenas com uma carreira solo produtiva, também é dono do selo Top Fuel Records, patrocina carros de corrida e, depois de uma longa batalha jurídica contra o baterista Bobby Blozter recuperou, ao lado do guitarrista Warren DeMartini e do baixista Juan Croucier, os direitos sobre o uso do nome de sua banda original. Prestes a sair em turnê para divulgar seu mais novo lançamento, “Smash” (Frontiers Records, 2017), e já fazendo shows com o Ratt, o vocalista fala, a seguir, sobre o atual estágio de sua carreira.
Você vem trabalhando em “Smash” com dedicação há muitos anos. No início era só uma música aqui e ali, depois foi colocando-as no iTunes, mas como foi o processo de organizar tudo isso até chegar ao lançamento?
Stephen Pearcy: Não foram muitos anos, foi um ano meio, acho. Não fico contando. Começou com um EP de quatro músicas que eu queria lançar. Mas tínhamos tantas que, cerca de sete meses depois, recebi uma ligação de alguém da (gravadora) Frontiers. Já havia lançado ‘I Can’t Take It’, que está no álbum, é claro. Aliás, é de onde vem o título. Conversamos com a Frontiers, tiramos algumas músicas, Erik (Ferentinos, guitarrista) e eu começamos a compor outras e ficou tudo pronto. Já estava no estúdio fazendo minhas coisas mesmo, e a partir daí virou uma bola de neve.
Uma das coisas que parece ser ignorada é seu trabalho ao lado de Erik Ferentinos. Qual é a contribuição dele, o que ele traz em termos de som de guitarra e qualidade de composição?
Pearcy: Erik cresceu exponencialmente em termos de composição, habilidade, criatividade. Ele me lembra Robbin (Crosby, saudoso guitarrista do Ratt) no início de carreira. Tenho certeza que ele se inspirou nele em algumas músicas de ‘Smash’. É muito criativo e eclético. Ele mostra as músicas para mim e, no final das contas, temos que concordar com o resultado final. No entanto, quando ele toca qualquer coisa, para mim a música já está pronta. Trabalhamos muito bem juntos, temos as mesmas ideias e interesses musicais. Gostamos de tentar coisas novas. Não é como no Ratt, em que temos que seguir uma fórmula. Com o Erik vale qualquer coisa e com o Matt (Thorne, baixista) também, pois ele tem ótimas ideias e conhece de gravação e engenharia de som. Ele coproduziu o álbum comigo. Erik é um ‘alienígena’, está trabalhando em seu segundo álbum solo. É o que ele faz. É uma máquina de composição. E também sabe cantar!
Você lançou álbuns solo pela Top Fuel Records e chegou inclusive a contratar bandas para o selo. Como está isso? Ainda é algo que gosta de fazer, quer encontrar novos talentos e lançar mais discos solo pela Top Fuel ou é algo que vai ficar de lado por enquanto?
Pearcy: Não, todos meus álbuns, inclusive esse que licenciei para a Frontiers são da Top Fuel. Eu ainda procuro bandas quando tenho tempo. Recebemos material e Eric me ajuda, pois também recebe e é parte da nossa empresa. Quando tiver tempo vou recomeçar, mas será diferente. No início, era a minha profissão. Estava aprendendo sobre administração e tal. Mas daí com a internet tudo mudou. Comecei a Top Fuel em 1995 porque sabia que alguma coisa estava acontecendo com as gravadoras. De repente, começaram a aparecer selos independentes que tinham boas bandas. Então, vamos voltar com isso quando tivermos uma folga e levar a sério. Aliás, estamos avaliando duas bandas novas no momento e há algumas bem legais para conhecer.
Algumas são descobertas pelo YouTube e outras se perdem no meio de tudo. Você mencionou que os álbuns do Ratt são, às vezes, muito presos a uma fórmula, o que não tem problema algum já que fãs esperam que o Ratt soe como o Ratt e não como Nine Inch Nails, por exemplo. Por outro lado, você é muito criativo e, entre Arcade, Vicious Delite, Vertex, Stephen Pearcy (solo), explora novas sonoridades. Há algum estilo de música com o qual queira lançar um álbum que você ainda não lançou?
Pearcy: Acho que alcançamos isso depois de anos com ‘Smash’. Eu e Eric nos reunimos com o resto da banda e dissemos que tínhamos que fazer algo diferente. Queríamos um álbum diversificado do início ao fim. Até na sequência das músicas eu queria que significassem um início, um meio e um fim. Se você comprar o vinil, é uma viagem. Foi de propósito, muito bem pensado e com calma. Não apressamos nada. Se não gostássemos da música, compúnhamos outra. Mesmo liricamente, há várias coisas sobre as quais nunca falei, estou feliz que o encarte tenha letras. Por exemplo, para a música ‘Hit Me With a Bullet’ você vai precisar de um dicionário de gírias de faroeste para entender. Não queria contar isso para ninguém, mas é divertido. São coisas típicas de faroeste antigo. ‘Rain’ é para minha filha; ‘Ten Miles Wide’, que é a música do clipe, fala sobre relacionamentos com seres interestelares; e ‘Summer’s End’ encerra o álbum de forma agradável depois de uma viagem maluca. Funcionou, demos sorte e também trabalhamos duro para que funcionasse. Mas você tem razão, eu adoro explorar estilos diferentes de música na minha carreira solo. Com o Ratt, não que seja exatamente preso a uma fórmula, porque temos ‘Way Cool Jr.’, ‘Never Use Love’… Mas posso lhe dizer que quando formos gravar o álbum novo do Ratt, que será o décimo, será um dos melhores da nossa carreira. Poderá ser o último, eu não sei.
Aproveitando essa deixa, “Infestation” é atualmente o último álbum do Ratt. É brilhante e obteve respaldo tanto da crítica como do público. Do jeito que as coisas estão no momento, você quer lançar um álbum completo e fazer uma turnê ou farão alguns shows esporádicos e festivais?
Pearcy: Não, não. ‘Infestation’ não foi brilhante, foi bom. Não chegamos onde queríamos. Warren e eu sabemos disso, mesmo porque ele não estava envolvido. Esse próximo será no mesmo esquema que usei com ‘Smash’: tempo e trabalho, algo que não tínhamos muito antigamente. O esquema era ficar na estrada por 200 dias, alguns meses de folga, voltava ao estúdio por três meses, um mês de folga e de volta a estrada. Desta vez será diferente. Queremos fazer algo especial, que seja brilhante. É claro que vamos fazer uma turnê e tocar os hits mas, no fim do ano, queremos começar a gravar o disco. Essa era a principal razão de nós três nos reunirmos em primeiro lugar e passar por toda confusão que passamos para proteger a marca. Era hora de tomar uma posição e ir com tudo, parar com essa besteira sem sentido que estava acontecendo. Portanto, espere algo ainda mais do que o melhor quando se falar sobre o novo álbum do Ratt, porque acho bom que seja 100 vezes melhor que o ‘Smash’ (risos).
Se vocês lançarem um álbum mediano, isso pode afetar a marca. O catálogo do Ratt é tão incrível que quando vocês recebem um convite para o Monsters of Rock Cruise ou um festival, eles o fazem por causa da força da discografia da banda. Então, qual é a motivação ou a aposta em fazer um álbum novo? Por que passar por todas as dificuldades e trabalho duro de lançar músicas novas?
Pearcy: Olha, em primeiro lugar, porque o que faz a gente se reunir é a música. A gente não se vê muito. Isso é um trabalho. É o nosso trabalho, é o meu trabalho, o que nos puxa de volta para ficarmos juntos. É claro que sempre acontece uma coisa ou outra, passamos por várias complicações que bandas problemáticas passam para fazer sucesso. É quase como se a banda não é problemática, mas faz sucesso, você não chegou lá, infelizmente. Tem que fazer por merecer. Mas queríamos fazer o álbum para provar para nós mesmos que podemos nos esforçar, não é só ir lá e tocar. Sabemos que somos uma banda de ‘classic rock’, já fizemos de tudo várias vezes e não temos que provar nada. Mas quando se trata de música, ainda é muito importante. Vamos fazer a turnê agora e tocar em todos esses festivais e nos apresentaremos melhor do que nunca. É um ambiente sóbrio e totalmente diferente para todos nós. Será outro mundo.
Você falou “problemática” e a maioria das pessoas fugiria disso e nunca mais voltaria. Mas o que Juan Croucier e Warren DeMartini trazem ao som de vocês e seus vocais à sonoridade deles? O que faz tudo funcionar tão bem?
Pearcy: É, mas em primeiro lugar, sem Robbin nós não estamos completos de verdade. Tudo que posso fazer é me certificar que ele esteja ali misturado de alguma forma, que seu legado continue e não seja esquecido. Mesmo quando componho para meus trabalhos solo eu penso em Robbin. E agora com nós três… Eu não sei, é como se você juntasse três componentes químicos estranhos e chegasse a algo que só vocês conseguem juntos. Juan compõe, Warren compõe, eu componho, você junta tudo e… bingo! Sem Robbin não é a mesma coisa, mas tudo que se pode fazer é tentar dar o melhor e tentar manter o espírito dele vivo.
Carlos (Cavazo, guitarrista) vai bem e o substitui com muito bom gosto. Em termos de bateria, como será? Você está com Greg D’Angelo do White Lion em “Smash” e nas suas turnês solo e Jimmy DeGrasso tocou com o Ratt recentemente, mas está no Black Star Riders. Quem será o baterista?
Pearcy: O que queremos é o melhor para o que vamos fazer pelos próximos dois anos. Sem desrespeitar ninguém, mas é o que vai acontecer. O que sei é que quem escolhermos para ficar por um longo prazo será especial.
Você está falando sobre um planejamento a longo prazo, dois ou três anos. Obviamente você não recuperou o nome Ratt para tocar só nos festivais M3. Como também é artista solo, como irá equilibrar isso? Vai promover “Smash”, fazer alguns shows e dedicar 2018 totalmente ao Ratt?
Pearcy: Sim, a carreira solo me anima, realiza meus próprios desejos. E isso não vai acabar, vou fazer isso enquanto estiver com vontade. Como eu disse, o Ratt é algo completamente diferente, quero que dure bons dois ou três anos. Quero fazer outras coisas. Componho para TV, quero patrocinar meus carros de corrida, sei lá, ficar um ano passeando com meu cachorro (risos). Queremos passar alguns anos legais tocando e isso não atrapalha em nada. Meus shows solo começam no mês que vem (entrevista em realizada em 6 de fevereiro) e acabam em 2 de julho. Tenho um novo agente e o Ratt ainda está se estruturando na parte de negócios. Quando tudo estiver acertado vamos ver quanto tempo queremos continuar. Depende de nós. Uma coisa é certa: queremos gravar um álbum. Se conseguirmos isso, acredite, já quer dizer muita coisa.
Sobre a sonoridade nesse novo álbum e o produtor Beau Hill (produtor dos quatro primeiros álbuns do Ratt), você pretende explorar novos caminhos ou quer o som clássico de um álbum do Ratt, daquele tipo que se a pessoa gosta de “Round and Round” vai curtir? Musicalmente, para onde você vê esse décimo álbum indo?
Pearcy: Infelizmente, para meu álbum solo, Beau só podia produzir uma música. Mas nós sempre mantivemos contato e temos uma ideia para o som do Ratt. Está em aberto, eu sempre quero Beau envolvido com a banda. Eu não sei, vai soar como Ratt e ponto. Não há nada que eu possa fazer para fugir disso (risos). Dizer como novo álbum vai soar, baseado nas duas músicas que Warren e eu compusemos, e agora com Juan mostrando suas músicas… Será bem intenso. Não queremos inventar nada, mas buscamos algo do calibre de um encontro entre o EP (Ratt, 1983) e Out of the Cellar (1984).
Chega a ser triste como o primeiro EP é ignorado…
Pearcy: Sim, ele foi muito pirateado, mas iremos lançá-lo. São músicas da época do Mickey Ratt (nome original do Ratt), com exceção de ‘You Think You’re Though’.
Estamos ansiosos para que saia este novo álbum logo porque o mundo precisa de música nova, assim como você fez com “Smash”.
Pearcy: Sim, estamos muito felizes com ele e está indo bem pelo que tenho recebido de informação. Olha, nessa era, é um privilégio para mim e para o Ratt ainda estarmos fazendo isso e as pessoas gostarem. Pode acreditar que é algo não passa despercebido.
Transcrito e traduzido por Carlo Antico
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