Há exatos 35 anos, a NWOBHM via surgir o disco que fez o Maiden entrar para a história
Depois de anos sofrendo no underground, em 1981 o Iron Maiden se encontrava em uma boa situação: já havia feito uma turnê europeia abrindo para o Kiss, uma excursão pelo Japão que rendeu o EP “Maiden Japan” e o mais recente álbum “Killers” havia tido um bom desempenho nas paradas britânicas. Não havia porque mexer no time, certo? Errado. Cansado das estripulias do vocalista Paul Di’Anno, o baixista e líder Steve Harris resolveu dar-lhe um bico nos fundilhos e arrumar um outro vocal.
Este foi um movimento arriscado, já que Di’Anno era adorado pelos fãs, mas a história tratou de mostrar que tiro foi certeiro. O escolhido foi Bruce Dickinson (na época ainda Bruce Bruce, vocalista do Samson) e, a partir daí, a história do heavy metal e do rock mudou.
Com a voz de Dickinson à sua disposição, Harris pôde explorar ainda mais sua tendência a melodias e composições mais complexas. O vocalista não pôde participar como compositor oficialmente por razões contratuais. Assim, em “The Number of the Beast”, também começa a aparecer a figura do guitarrista Adrian Smith como alguém que seria essencial na composição para a banda entrar em sua era de ouro.
Tendo mais uma vez produção e engenharia de som a cargo Martin Birch, o álbum foi gravado no Battery Studios, em Londres, em apenas cinco semanas.
Repertório abre com a fabulosa “Invaders” (um crime a banda nunca ter tocado essa música ao vivo), que fala sobre as invasões Vikings à Inglaterra e é seguida por “Children of the Damned”, que felizmente voltou ao set-list na última turnê. Em “The Prisioner”, permita-me dizer que o solo de Adrian Smith é o meu predileto de toda carreira da banda. A excelente “22 Acacia Avenue” traz um riff matador de Smith e a letra que continua a história da prostituta “Charlotte The Harlot” do álbum de estreia.
O disco já tinha tudo para estourar, mas ainda tinha mais. A faixa-título e “Run to the Hills” vêm na sequência. Convenhamos, quantos álbuns na história podem se gabar de ter clássicos desse porte um após o outro? Existem, mas são poucos.
Continuando, vem o único senão: “Gangland” é uma música ‘OK’, mas muito abaixo de um álbum desse porte. A banda depois se arrependeu por não ter colocado no lugar dela a ótima “Total Eclipse”, que acabou relegada ao lado B do single de “Run to the Hills”. Na biografia autorizada da banda, escrita pelo jornalista inglês Mick Wall, também intitulada “Run To The Hills”, há uma declaração de Steve Harris dizendo que o oposto deveria ter sido feito. Já Bruce Dickinson diz no álbum ao vivo “Beast Over Hammersmith”, que saiu na box-set “Eddie’s Casket”, antes de anunciar “Total Eclipse”: “Queríamos colocar no álbum, mas a gravadora não deixou. Portanto, para nós ela faz parte dele.” Seja qual for a versão, a verdade é que “Total Eclipse” é bem superior a “Gangland”.
O álbum fecha com “Halllowed Be Thy Name”, outra que estaria destinada a se tornar um clássico e o início da tendência do Maiden a encerrar seus trabalhos com um épico. Os três álbuns seguintes mantiveram isso: “To Tame a Land”, de “Piece of Mind” (1983); “Rime of the Ancient Mariner”, de “Powerslave (1984); e “Alexander The Great”, de “Somewhere In Time” (1986).
“The Number of the Beast” chegou ao número 1 nas paradas britânicas e ganhou Disco de Platina duplo nos EUA. Antes dele, o Iron Maiden era uma ótima banda da NWOBHM (ao lado de Saxon, o próprio Samson, Angel Witch, entre outros), mas depois passou a ser uma das maiores da história do rock. É uma diferença considerável, não?