“Circo XIII”, álbum de estreia da banda paulistana, nasceu mostrando a maturidade dos músicos
Em seus tempos de banda Viva Noite, o vocalista Joonior Joe rodava o Brasil tocando covers e aparecia todos os domingos no programa Pânico na Band. Porém, desde 2013, já vinha moldando as músicas do Trezzy, que agora acaba de lançar seu primeiro disco, “Circo XIII”, pela Animal Records. O resultado é um trabalho focado e versátil de rock, com elementos que, segundo o vocalista explicou, mostra a personalidade dele de Roger Benet (guitarra), Dieego Lessa (baixo) e Dinho Milano (bateria), que trabalharam sem regras preestabelecidas. “Quando montamos a banda a regra era clara: não ter regra. Vamos tocar o que a gente gosta de ouvir”, disse. Além da concepção musical, Joonie Joe explicou ao ROCKARAMA sobre o conceito visual e a temática da banda, e falou, ainda, sobre as bandas de rock pesado que cantam em português.
A forma mais conceitual integrando o circo foi vista no cenário do rock brasileiro através da banda Anjo dos Becos. No caso da Trezzy, a abordagem de um título como “Circo XIII” se aproxima mais do circo dos horrores e de palhaços mais “demoníacos”, como vistos em filmes como “It” (Pennywise), “A Casa dos 1000 Corpos” (Capitão Spaulding), “Diversão Macabra” (The Laugh), “Poltergeist”, “Killjoy”, “Clownstrophobia” e “All Hallows’ Eve”?
Joonior Joe: O tema circo surgiu muito naturalmente no Trezzy. Na verdade, é algo muito natural na minha vida desde os primeiros dias. Sempre tive uma relação forte com palhaços. Minha avó moldava palhaços de argila (tenho todos comigo até hoje), minha tia pintava quadros de palhaço, minha mãe fez meu primeiro aniversário com esta temática, mas, sobretudo, meu avô que me levava muito ao circo! A partir de ‘Suas Certezas’, dei a ideia de colocarmos um palhaço no clipe, pois há sempre um mistério por trás da “mascara” e eu queria mesmo puxar isso como forma de reflexão sobre as relações pessoais/afetivas. Os caras acharam demais e então seguimos. Ele aparece no clipe seguinte de ‘Redenção’ e na capa do disco. O Trezzy fala muito nas letras das relações pessoais, angústias, transtornos, distúrbios de personalidade e caráter, etc. A letra de ‘Circo’, faixa que abre o álbum, fala muito disso e usa o circo como pano de fundo para ilustrar. É uma grande metáfora, na verdade.
Quando montamos a banda a regra era clara: não ter regra. Vamos tocar o que a gente gosta de ouvir. Por isso, juntamos amigos com gosto musical em comum” – Joonior Joe
A parte visual e a temática da Trezzy têm alguma relação com o seu visual quando fazia parte da banda Viva Noite, do programa Pânico na Band, já que aparecia com a pintura típica de palhaço?
J. Joe: A parte visual, de certa forma, sim. Fui eu quem criou, há 14 anos, aquilo tudo de palhaço no Viva Noite. Aquilo foi 100% do que sou. Já na parte de temática, não. O Trezzy segue por uma linha mais artística mesmo, menos entretenimento, mais autoral.
Você ficou mais de 10 anos na banda Viva Noite e foi substituído por Junior Rodriguez (ex-Desert Dance e Electric Age). A sua saída foi para se concentrar integralmente aos trabalhos da Trezzy?
J. Joe: Na verdade, não. Simplesmente não sentia que poderia contribuir artisticamente em mais nada lá. É uma banda 100% cover. Era trabalho. Tocar para pagar as contas. No final, eu estava desgastado após 12 e meio, tocando muita coisa que não gostava; os shows vinham caindo e decidi sair e seguir novos rumos. Ar fresco. É claro que isso me deu muito mais liberdade para tocar o Trezzy com mais tempo e atenção.
Como foi criada a concepção musical da banda, mesclando hard rock da velha escola dos anos 1980 com o hard contemporâneo, além de metal, grunge e rock alternativo, sempre com letras em português?
J. Joe: Aconteceu naturalmente. Quando montamos a banda a regra era clara: não ter regra. Vamos tocar o que a gente gosta de ouvir. Por isso, juntamos amigos com gosto musical em comum e, naturalmente, os riffs vinham. Com a chegada de Dinho Milano, no quinto ou sexto ensaio da banda a gente viu que tinha uma boa estrutura de composição em comum. Cantar em português foi uma escolha minha e, acredite, é muito mais difícil fazer em português, pois a fonética da nossa língua pro rock é complicadíssima. Componho tudo em inglês gravo e adapto as terminações para que soe como uma banda de rock autêntica em português e com algum conteúdo. Demoro muito, mas acho que funciona bem para a gente. A tendência da mídia é sempre querer colocar uma banda em certa prateleira – hard, grunge, metal, etc. – até para situar o público que quer saber sobre a banda. Sim, gostamos de tudo isso, e muito mais, mas não sabemos nos definir no final das contas. Que bom que reconhecem esses estilos no nosso som.
‘Circo XIII’ é um grande Frankenstein de músicos e produtores, construído no decorrer de três anos e meio, repleto de excelentes profissionais e, sobretudo, amigos” – Joonior Joe
Quanto tempo demorou a produção até o lançamento de “Circo XIII”? Como analisa a busca pela melhor timbragem e os trabalhos ao lado de produtores de renome como Henrique Baboom, Brendan Duffey e Gil Daga?
J. Joe: Podemos dizer que desde 2013/14, com a gravação de ‘Manipula’. Após a gravação desde single, sentimos a necessidade de mudar a timbragem de tudo. Soar diferente, mais denso. Aí fomos buscar isso com o Brendan Duffey, que eu já tinha trabalhado antes com o Viva Noite. Preciso incluir aqui o Adriano Daga. Ele já trabalhava com o Brendan e era meu amigo. Entrei em contato com ele e então fechamos mais seis singles lá nos estúdios Norcal. Ele produziu alguma bateras também na época. Passados alguns anos, resolvemos gravar mais nove sons e aí, com o fechamento do Norcal e o Brendan morando nos EUA, procuramos o Henrique Baboom para fazer as captações de guitarra, baixo e voz e Giu Daga para a captação de bateria. Mandamos tudo para a Califórnia, onde o Brendan fez todos re-amps, mixou e masterizou. Somos chatos com timbre e sonoridade. Durante um ano isso foi e voltou inúmeras vezes até chegar ao resultado que a gente imaginava para o álbum. ‘Circo XIII’ é um grande Frankenstein de músicos e produtores, construído no decorrer de três anos e meio, repleto de excelentes profissionais e, sobretudo, amigos.
Seus irmãos mais velhos, além de fãs de rock, também cantam. O quanto eles o influenciaram a perseguir a carreira musical e a cantar?
J. Joe: Meus irmãos Pulga Joe e Christian Mazza são meus ídolos na música. São meus professores da alma, da vida. Desde moleque eu já estava nos ensaios assistindo-os, ouvindo som o dia inteiro e imitando o Iron Maiden. Influenciaram tudo! Claro que a gente adquire a própria percepção musical, mas a essência deles eu vou carregar a vida toda, assim como o bom gosto musical da minha mãe e pai, sempre presentes em casa.
Da criação da banda, em 2013, até o momento atual, você e o guitarrista Roger Benet experimentaram diversos músicos, mas como fecharam o time com Dieego Lessa, baixista do Salário Mínimo, e o baterista Dinho Milano?
J. Joe: Na verdade, Dinho Milano está conosco desde a gravação do nosso primeiro single, lá atrás. Desde o primeiro show e é a cara do Trezzy. Nós três fomos perdendo alguns integrantes e incluindo outros. Mas a gente sempre procurou uma sonoridade específica e não foi fácil manter um ‘time’. Estávamos na época com o Alexandre Novaes na segunda guitarra que, inclusive, gravou nove faixas e aparece no álbum conosco. Ele tocava com o Dieego Lessa num projeto tributo de Faith no More e já tinha indicado e insistido para a gente ter uma atenção especial com o Dieego. Eu já conhecia o Dieego, sabia da musicalidade dele, mas o que me impressionava sempre era justamente o timbre do baixo. Comentei com ele que a gente estava sem baixista e tal e ele ficou maluco (risos). Falava sempre comigo nas noites e o chamamos para fazer alguns shows. No primeiro a gente já falou: é o cara. Antes mesmo dele entrar na banda, o maluco tatuou o logo da banda no braço. Não tinha como. Falei com ele se tinha algum problema com o Salário (Mínimo), banda que nós temos total respeito e admiração, e pedi para ele falar com a banda dele antes. Os caras, para variar, foram incríveis e apoiaram totalmente. Com a saída do Alexandre Novaes para estudar música fora do Brasil, fechamos o time em quatro e, enfim, muito coeso. Feito.
Conhecemos inúmeras bandas muito boas, pesadas e cantando em português. Prefiro pensar que temos que aproveitar o que nos é dado e tentar abrir mais canais de inserção” – Joonior Joe
Antes do lançamento, vocês lançaram três videoclipes bem produzidos pela Foggy Filmes para as faixas “Manipula”, “Suas Certezas” e “Redenção”, além de lyric videos. A produção visual é algo que pretendem seguir? Quais os próximos vídeos que lançarão?
J. Joe: Sem dúvida. Temos um webvideo, três vídeos oficiais e dois lyric videos até agora. Estamos em reunião de roteiro para fechar o próximo clipe. É algo que consideramos de extrema importância e que a gente gosta muito de produzir. Quanto a qual vai ser o clipe? Aguardem (risos)!
Com o álbum lançado pela Animal Records e o início da divulgação, quais faixas estão mais agradando o público e a imprensa? Elas são as que esperavam quando estavam com o disco pronto ou alguma menção chegou a surpreendê-los?
J. Joe: ‘Frio’ é uma faixa meio unânime! Mas cada hora citam alguma diferente, como ‘Circo’, ‘Sem Razão’, ‘Por Quem Lutar?’… Está muito recente. Vamos aguardar, mas já estamos muito felizes com toda repercussão do álbum até agora.
O grupo realizou o show de lançamento na festa de Halloween do Manifesto Bar (SP). A partir de agora, como pretendem rodar o Brasil tocando para promover “Circo XIII”?
J. Joe: O show foi incrível. Saímos de lá meio atordoados com tudo que aconteceu. Sabemos que não é nada fácil sair em tour, pois os gastos são altos para uma banda nova. A ideia inicial é fazer com que as pessoas conheçam o som de alguma forma e que se identifiquem com o trabalho. Temos um show dia 9 de dezembro na Jai Club, em São Paulo, a convite dos nossos amigos do Mattilha e para o começo do ano teremos grandes novidades.
Como vê o atual cenário de bandas mais pesadas que cantam em português? Existe mercado e abertura para que cheguem a um patamar mais alto no cenário musical?
J. Joe: Sinceramente, talento tem demais. Conhecemos inúmeras bandas muito boas, pesadas e cantando em português. Prefiro pensar que temos que aproveitar o que nos é dado e tentar abrir mais canais de inserção para esta música. Eu acho que se a gente for negativar tudo a tendência é desistir, saca? Poderia ter mais espaço? Sem dúvida. Há um público interessado? Também acredito que haja. Falta, a meu ver, apenas um pouco mais de boa vontade e interesse de todas as partes. Num panorama geral, não só neste tipo de som. Está complicado para a grande maioria dos artistas, de verdade.
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