Guitarrista Mick Box fala sobre uma carreira de quase 50 anos como líder da banda inglesa

Uriah Heep | Foto: divulgação

Por acaso você já se deu conta que o Uriah Heep está quase completando cinco décadas de existência? A presença da banda inglesa, criada em 1969, é tão constante que nem nos damos conta dessa longevidade. Com álbuns clássicos como “Demons and Wizards” (1972), “The Magician’s Birthday” (1972), “Sweet Freedom” (1973), entre outros, a única figura sempre presente é a de Mick Box. Muito menos reconhecido do que seus pares, como Jimmy Page e Ritchie Blackmore, ele sempre foi mais econômico, mas sempre com feeling e eficiente no uso das notas em suas composições e, claro, do wah-wah. Batemos um papo com o muito bem-humorado guitarrista para falar sobre o atual momento da banda, de David Byron, os remasters que estão saindo e, como não poderia deixar de ser, sobre a música “Rockarama”, de “Equator” (1985).

A banda começou em 1969. Como tem sido toda essa trajetória?
Mick Box: Tem sido uma boa volta de montanha-russa, com muitos altos e baixos e várias coisas no meio, mas o mais importante é que ainda estamos aqui participando dela. Tudo se resume ao fato de que ainda temos a mesma paixão pelo que fazemos e essa é a força motriz que nos faz continuar. Quando fazemos turnês, alcançamos 60 países no mundo todo, então estamos sempre tocando.

Falemos das coisas atuais e depois vamos voltar no tempo com calma. O vocalista Bernie Shaw teve que passar por uma cirurgia recentemente. Ele já recuperado, em plena forma?
Box: Está bem próximo disso, vai muito bem e teve ótima recuperação. Eu e ele vamos fazer um evento chamado “Rock Meets Classic”, que acontece em várias cidades da Alemanha e chega até a Suíça, ao lado da Orquestra Filarmônica de Praga. É muito legal, fizemos isso antes com Alice Cooper. Você toca quatro ou cinco músicas com a orquestra e outros quatro ou cinco artistas tocam quatro ou cinco músicas. Dessa vez, temos Steve Lukather (guitarra e vocal, Toto), Don Henley (bateria, The Eagles), acho que Bob Catley (vocal, Magnum) e nós. É bem legal, a orquestra leva suas músicas para outra dimensão. E se soar bem, voltam todos ao palco para o bis (risos). Estou imaginando que dessa vez vamos tocar “Hotel California” no bis. Quando fizemos com Alice tocamos “School’s Out”, que foi demais.

Ken Hensley, Lee Kerslake, Mick Box, Gary Thain e David Byron | Foto: divulgação

A maioria dos vocalistas é um veículo para a música, e David vivia dentro dela. Por causa disso, as pessoas se ligavam a ele e ouviam sua voz. Você acreditava em cada palavra” – Mick Box

Ah, sim, é um grande prazer trabalhar com Alice Cooper. Gostaria de abordar outras coisas que estão acontecendo, como essa campanha da Pledge Music para os remasters do Uriah Heep.
Box: Sim, a BMG entrou em contato comigo sobre isso. É bem comum que essas coisas saiam e a banda não tenha nenhuma participação, então fazem sem nosso consentimento porque não temos os direitos. Mas a BMG de Londres, na pessoa de um cara chamado Ian Bennett, entrou em contato comigo e tem ido tudo muito bem. Tenho trabalhado bem próximo a ele. Não só nas remasterizações, mas achando algumas faixas bônus para colocar junto, que os fãs nunca ouviram, além de entrevistas comigo e Ken Hensley, nosso antigo tecladista. No geral, é uma ótima forma de relançamento.

Vamos analisar os três álbuns que estão saindo. Você não só participa das entrevistas, mas também esteve presente para se certificar que a remasterização fosse feita de forma correta?
Box: Sim, me envolvi totalmente, porque queríamos mostrar que isso éramos nós e que continuasse fiel ao que era, mas melhorar de alguma forma. Como estou sempre viajando pelo mundo, recebia e mandava arquivos de áudio pelo meu laptop.

Começando por “Look At Yourself”, lançado originalmente em 1971, fale sobre o processo para esse álbum e como estava a banda na época, com apenas dois anos de carreira.
Box: Sim, acho que o primeiro álbum, “Very ‘Eavy, Very ‘Umble”, ainda era do Spice, a banda que evoluiu para se tornar o Uriah Heep. E o Spice era uma banda que não queria tocar apenas um tipo de música, queríamos incorporar todos os tipos possíveis. Folk, rock, jazz, blues, tudo. Daí o nome, Spice (N.T.: “tempero”). Eram vários temperos. Aí virou o Uriah Heep e o primeiro álbum refletia isso, pois há muita diversidade nele. Tinha a bonita “Come Away Melinda” que era acústica, “Gypsy” que era heavy metal. Muitas coisas meio folk, jazz, blues e rock. Quando chegamos ao “Look At Yourself”, depois da turnê de promoção para o álbum de estreia, percebemos que queríamos ser uma banda de rock, sem nenhuma outra influência. Não queríamos ir para outras áreas. E o “Salisbury”, nosso segundo álbum, era ainda mais diversificado que o primeiro para ser honesto, porque fizemos uma música de uns vinte minutos, que é a faixa-título. Então, quando chegamos ao “Look At Yourself” tínhamos tocado muito e decidimos ser uma banda de Rock. Acho que isso se reflete no álbum que foi muito bom para nós. Há grandes músicas ali, como a faixa-título e “July Morning”, que se tornou quase um hino. Nós a tocamos em todos os lugares e graças a Deus as pessoas querem ouvi-la ao vivo.

Aproveitando a oportunidade, como era trabalhar com David Byron, o saudoso vocalista original, falecido em fevereiro de 1985? A gente olha para alguns vocalistas hoje, especialmente no heavy metal, e muitos dizem que ele serviu de inspiração e era a voz a qual eles aspiravam.
Box: Ele era simplesmente um vocalista maravilhoso. A maioria dos vocalistas é um veículo para a música, e David vivia dentro da música. Por causa disso, as pessoas se ligavam a ele e ouviam sua voz. Você acreditava em cada palavra que saía de sua boca. E era por isso que ele tocava a todos. Infelizmente, no caso dele, ele carregava o personagem do rock star 24 horas por dia, sete dias por semana, se você me entende (risos). Ele não conseguia desligar, o que foi uma pena. Mas a sua voz não devia nada a ninguém, foi um dos melhores vocalistas da história.

"Demons and Wizards", álbum do Uriah Heep

O simples fato de que se chama ‘Demons and Wizards’, a arte de Roger Dean… Foi a primeira vez que o áudio e arte se completavam. Funcionou em todos os níveis” – Mick Box

Sim, foi mesmo, e é interessante saber que com esses remasters e as faixas bônus, versões diferentes e mixagens diferentes, podemos ouvir mais de David Byron. Acho que esse é o bônus de tudo isso!
Box: Ah sim, porque você ouvirá algumas músicas num formato transitório, antes de aparecerem no álbum como apareceram. Elas ainda são trabalhos em andamento e não necessariamente muito bem acabadas em termos de vocal. Então, você também ouve David de forma crua. Mas qualquer coisa que ouça de Dave, é sempre com classe.

“Demons and Wizards” é outro na série de remasters. É o álbum que faz vocês abrirem caminho na América do Norte, e coloca a banda no trilho…
Box: (Interrompendo) Abre caminho no mundo inteiro, para ser honesto.

O que há de tão diferente nesse disco em relação aos outros, que fez o mundo responder e ver que essa banda era séria.
Box: Acho que acertamos no conceito lírico da fantasia, o que estimulou muito a imaginação de todos. O simples fato de que se chama “Demons and Wizards”, a arte de Roger Dean… Foi a primeira vez que o áudio e arte se completavam. Funcionou em todos os níveis, mas acredito que o lance das letras fantasiosas foi o que capturou a todos. E muita gente conheceu a banda ali e nos levantou.

Falando sobre a arte e tudo mais se completando; nessa era de MP3, streaming e download, a arte dos álbuns já era. Não prestamos mais tanta atenção nisso. A arte era parte do apelo de um álbum?
Box: Para nós era importante sim, e muito! Era parte do pacote. Sejamos honestos, você olha o álbum antes de ouvi-lo, não? (risos). Então, tinha que capturar o ouvinte na hora. Sempre tivemos esse elemento dentro de nossa visão. Fosse um elemento que chocasse ou de fantasia, sempre algo que chamasse a atenção. Mesmo a capa de “Look At Yourself” era como se fosse um espelho e você estava olhando para si mesmo. Sempre prestamos atenção nisso porque sabíamos, nós mesmos como fãs de música, que comprávamos vinis, que quando você está olhando os discos na prateleira, as capas que chamavam sua atenção geralmente tinham um grande conteúdo.

Comprei muitos discos por causa da capa e depois vi que a música era ótima, mas, especialmente nos anos 80, que é a minha época em termos de consumir música, havia algumas capas, como por exemplo, do Quiet Riot e Poison, que intrigavam e faziam você pensar: “Vou conferir isso”. É uma pena que estejamos perdendo isso agora.
Box: É mesmo, porque se a banda prestou tanta atenção assim na capa e na arte, há muita chance que tenham feito isso com a música também. Então, para mim é o pacote completo. Se colocar numa sacola marrom de papel de pão, não significa nada para mim (risos). Papel de pão, não significa nada para mim (risos).

Mick Box | Foto: divulgação

Eles [management] nos pressionavam o máximo para fazermos outro álbum, até chegar ao ponto em que as explosões e as fissuras começaram a aparecer na estrutura geral” – Mick Box

Verdade, mas não teve alguém que fez isso, um saco de pão? Led Zeppelin, Alice Cooper…
Box: Acho que o The Who ou alguém assim, não faço ideia, mas alguém fez, né? Porém, essa foi uma boa ideia e funcionou para eles porque era o contrário do que se fazia na época, o que quer dizer muita coisa.

Esse álbum [“Demons and Wizards”] também traz Lee Kerslake na bateria. Ele também fez grandes álbuns com Ozzy (N.T.: Lee gravou “Blizzard of Ozz” e “Diary of a Madman”). Como foi tê-lo na banda e o que ele trouxe para a sonoridade?
Box: Na verdade, quando Lee entrou na banda percebemos que tínhamos um baterista moderno. Ele usava o surdo de uma forma muito livre, o que era incrível, similar a Bonham (N.T.: John Bonham, baterista do Led Zeppelin). Mas, além disso, ele tinha uma ótima voz, o que fortaleceu a parte das harmonias, já que a banda sempre usou belas [harmonias]. Aliás, fomos uma das primeiras bandas a usar harmonias quase como outro instrumento. E sua força no vocal e claro, na bateria – ele era uma máquina – era do que a banda precisava, foi um bom empurrão.

Ele deu personalidade ao som. O próximo da lista é “The Magician’s Birthday”. Conte sobre entrar em estúdio para gravá-lo, porque àquela altura vocês tinham um grande sucesso. Havia alguma pressão para manter o nível ou vocês só pensavam em gravar o álbum?
Box: Não da banda, mas pressão do management, sim (risos). Eles nos pressionavam o máximo para fazermos outro álbum, até chegar ao ponto em que as explosões e as fissuras começaram a aparecer na estrutura geral do que a banda estava fazendo. Mas nunca tivemos medo de um desafio e conseguimos fazer “The Magician’s Birthday” no espaço de um ano. Foi um feito e tanto, mas a criatividade da banda na época era tanta que conseguimos fazer, sendo que muitas jamais conseguiriam.

Depois, você trabalhou na banda com John Wetton (baixo/vocal) que faleceu recentemente. Como foi trabalhar com ele?
Box: John tinha um talento enorme em todos os aspectos. Cantando, tocando, compondo, e tudo mais, era o pacote completo. Mas quando ele veio para o Uriah Heep, nós estávamos muito em alta e ele colheu todos os frutos disso, já que era bem diferente de tudo o que ele havia feito antes, que era estar em uma banda de rock em tempo integral. Estava em sua lista de desejos e eliminou um deles conosco. Fez dois álbuns conosco e depois seguiu em frente para outras coisas. Formou o Asia e conseguiu grande sucesso. Mas John era muito, muito talentoso, seus arranjos de vocal eram demais!

Mick Box | Foto: divulgação

Acho que nos anos 80, quando gravamos um álbum chamado ‘Conquest’ com um vocalista chamado John Sloman, chegou a um ponto em que não conseguia ver aquilo funcionando, evoluindo ou indo para onde eu queria” – Mick Box

“Take No Prisioners” é o álbum de David Byron no qual você tocou. Eu quero voltar a ele porque acho interessante que a banda começava a engrenar, há muita coisa ao redor da banda, “Demons and Wizards” acabara de sair e ele vai e faz um álbum solo e você o acompanha. Qual o pensamento por trás disso? Isso prejudicou ou ajudou a banda?
Box: É, eu diria que até certo ponto prejudicou o Uriah Heep. Foi divertido fazer e David queria minha participação na composição, execução e tudo mais, então fiquei muito feliz em fazer isso com ele. Mas alguns álbuns, não tem a tendência de fazer um grande sucesso, certo? Não há muitas pessoas que saem de trás do nome da banda e conseguem sucesso. Simplesmente não possuem isso. Acho interessante olhar para ele agora e ouvi-lo, mas na época prejudicou um pouco o que a banda estava fazendo. Fragmenta um pouco as coisas, né?

Pode acontecer. Veja o Kiss que ficou famoso por lançar quatro álbuns solo no mesmo dia em 1978 e dois anos depois, a banda com Peter e Ace não existia mais. Então há algo nisso que coloca água no vinho, por assim dizer.
Box: Sim, sim. É seu ego, também, não? Você faz um álbum solo e tem 100 por cento de opinião sobre o que está fazendo. Numa banda você é um quinto (risos).

Você está com o Uriah Heep por toda carreira da banda e é a pedra fundamental da estrutura. Fale sobre os desafios de manter a banda viva por quase cinquenta anos e continuar nela. Houve algum momento em que pensou que era hora de ir para outra banda ou começar algo novo?
Box: Acho que nos anos 80, quando gravamos um álbum chamado “Conquest” com um vocalista chamado John Sloman, chegou a um ponto em que não conseguia ver aquilo funcionando, evoluindo ou indo para onde eu queria. John veio do Lone Star, que era uma banda de rock galesa muito reverenciada no meio. Então, quando veio tocar conosco, começou a cantar em um estilo meio Stevie Wonder, o que não funcionou de jeito nenhum. Os fãs ficaram chateados e nós também. Eu tinha que dar um tempo. Falei para todo mundo que não estava funcionando e que tinha que sair. Pensei nisso uns dois dias no meu apartamento em Londres e acho que bebi muita vodca e fiquei com uma ressaca brava. Quando isso passou, estava pensando no que fazer e então meu agente sugeriu que poderia formar a Mick Box Band, e isso e aquilo… Mas acabei pensando que se mantivesse a coisa andando com os músicos certos, ainda havia boas músicas, que ainda tinham vida e também daria acesso às pessoas ao talento de David (Byron) e Gary (Thain, baixo), que não estavam mais entre nós. Então, manter a banda viva era manter a música deles também, além de permitir que outros vocalistas e músicos ganhassem com isso. E pensamentos assim elevam o espírito. Aí eu descobri que Lee, que estava com Ozzy, ia para os EUA. Liguei para ele para desejar boa viagem e pedir para mandar um cartão postal, fazer piada. Quando liguei e perguntei como estava e desejei boa viagem, ele disse que não ia mais porque a Sharon (Osbourne, empresária de Ozzy) havia decidido que queria uma banda totalmente americana. Aí eu falei na hora que tinha acontecido isso, isso e isso, que estava sem banda e que tinha gravado esse álbum “Conquest”, que tinha dado errado, e se ele estaria interessado em voltar. Ele falou que desde que não fosse com nosso antigo empresário, Jerry Bond, toparia. Respondi que eu seria o manager da banda e ele aceitou. Aí Bob Daisley (baixista), que também foi prejudicado pelo lance da banda americana de Ozzy, entrou na conversa e com um telefonema eu tinha quase uma banda nova! (risos).

Uriah Heep | Foto: divulgação

Somos uma banda que olha sempre pra frente e queremos compor novo material. (…) Ainda temos a mesma paixão por isso e é o que nos dá energia para continuar fazendo” – Mick Box

E uma ótima banda, aliás! Falando nisso, essa história de Ozzy querer uma banda totalmente americana eu, pessoalmente, nunca entendi. Para mim, sempre foi sobre ter os melhores músicos e as melhores formações possíveis.
Box: É, na época a imagem contava muito, né? Cabelos enormes, maquiagem e roupas afeminadas (muitos risos). E toda aquela pose. Acho que ele queria seguir esse direcionamento. Agora, o talento, se eles estivessem continuado juntos, iam chegar a outro nível, com certeza.

É, não quero dizer que chegaria a ser igual ao Black Sabbath, porque acho que nada é igual ao Sabbath, mas ia chegar lá em cima, no panteão das grandes bandas e formações da história.
Box: Sim, porque no fim das contas o que importa são as músicas e com os compositores que estavam ali… Eles podiam alcançar grandes coisas.

Vocês estão trabalhando em um novo álbum para 2017/2018? Com uma carreira de cinquenta anos, bastaria colocar seu nome no cartaz, escolher suas 20 melhores músicas e fazer um grande show de duas horas… Então, por que passar pelo sacrifício de compor material novo e tentar fazer ficar legal, tentar fazer soar bem?
Box: Isso é bem simples. Somos uma banda que olha sempre pra frente e queremos compor novo material. Para nós, é uma paixão fazer isso. Ainda temos a mesma paixão por isso e é o que nos dá energia para continuar fazendo. Compor músicas novas é essencial para nós, porque revitaliza tanto nós como os fãs. Se você fica viajando por aí tocando sempre as mesmas músicas, logo fica muito cansativo. Não vou citar nomes, mas há turnês conjuntas com bandas por aí em que elas parecem entediadas rapidamente. Não há paixão ou energia ali. Sumiu tudo. E eu jamais quero chegar a esse ponto. Não somos uma banda que toca olhando para baixo, vamos lá imersos naquilo e damos cem por cento em tudo que fazemos!

E quanto ao processo de composição? Imagino que quando você tem vinte anos, compõe de uma forma, aos 30 com a experiência, compõe de outra forma, aos 40, 50, assim sucessivamente. Mudou para você e qual é a motivação em termos de composição?
Box: O que acontece é que no momento eu e Phil Lanzon, nosso tecladista, somos os compositores principais e estamos bem entrosados lírica e musicalmente. Compomos muito rápido e gostamos de fazer isso. E como gostamos, por que não fazer? (risos) Se está se divertindo, por que parar? Gostamos de compor, nos dá uma alegria verdadeira. Então, não vamos parar. E falando sobre conceitos, basta dar uma olhada no mundo hoje e há bastante sobre o que escrever.

Você também fez algumas coisas com o Iris e o Spearfish, mas quando se trata de um álbum solo, você ficou longe.
Box: Estou tão ocupado com o Heep ao redor do mundo, que se volto para casa e para minha família e digo: “Agora vou ficar envolvido com meu álbum solo pelos próximos três meses”, provavelmente serei linchado! (risos) Estou longe com tanta frequência, trabalhando ou no estúdio o tempo inteiro com a banda que quando chego em casa tenho que deixar o leme do rock e assumir o leme da casa. Porque eles exigem muito de mim e com toda razão. Então, quando estou de volta, faço coisas com meu filho, o levo para eventos esportivos e tal, algo que eu adoro. Vou ao cinema com minha esposa Sheila, ou jantar fora. Tenho uma vida familiar, é ótimo. É um bom equilíbrio. Acho que se você faz demais uma coisa, tende a perder a noção e não ter esse equilíbrio.

"Equator", álbum do Uriah Heep

‘Rockarama’ foi uma dessas coisas que tentamos compor como uma música para tocar no rádio, digamos assim. (…) Uma dessas tentativas de ser mais comercial e que funcionou até certo ponto, pois conseguimos entrar no rádio e com o vídeo na MTV” – Mick Box

Você já tinha esse equilíbrio com a família durante os anos 70 e 80, quando era mais jovem e tinha muita coisa acontecendo? Era igual ou em algum momento você largou mão e depois percebeu que devia voltar ao que era antes?
Box: Sim, no início do sucesso quando fomos para os EUA e estávamos crescendo, andando de aviões particulares, com andares inteiros de hotéis, um guarda-costas para cada um, isso te afeta e você acha que será assim até o fim (risos). Era uma surpresa que tivéssemos chegado até aquele ponto e não durou tanto assim. Então, sim, mas sempre tive a consciência de que você precisa desse equilíbrio. Minha família é muito importante para me manter focado. O que eu acredito é que se você não tem uma família, algo para te manter com os pés no chão… David Byron pode ser um bom exemplo. Ele não tinha família. Tinha uma esposa, mas não uma família. Então, quando estava fora da estrada, ele ainda era rock’n’roll. Continuava bebendo a mesma quantidade, vivendo no limite, estivesse em turnê ou não. Sendo que eu, quando voltava para casa, queria ficar com a minha família, não dá para fazer o que faz na estrada.

Isso deve ser um daqueles momentos que você desperta. Assim que volta para casa – e eu já ouvi isso de vários músicos – sua mulher não pergunta como foi a turnê e sim: “Tire o lixo, é segunda de manhã.”
Box: “Querido, cuidado com o jardim!”. Você ouve muito isso! (muitos risos). Você volta para a lista mágica: coisas que deram errado e são sua obrigação. Mas isso é ótimo, levar o cachorro para passear e fazer tudo isso é fantástico.

Vamos falar sobre “Equator” (1985) e, especialmente, a música “Rockarama”. Meados dos anos 80, como foi aquele álbum para você e há alguma memória que sobre a qual gostaria de falar?
Box: Bem, para ser honesto, minha principal memória disso é que a gravadora mudou no meio da gravação. Nós estávamos na Portrait, uma subsidiária da CBS. Acho que tinham criado o selo só para rock e isso nos incluía, mas quando estávamos gravando, a Portrait faliu e então foi uma coisa bem difícil de finalizar por causa das finanças. Mesmo assim, como sempre nesse tipo de situação, você luta e faz o melhor que pode com o que tem. E isso foi “Equator”. Mas quando lançamos, como não havia selo para fazer nada com ele, desapareceu no éter (risos).

Se você puder, por motivos óbvios, fale sobre “Rockarama”, já que foi um single/clipe.
Box: “Rockarama” foi uma dessas coisas que tentamos compor como uma música para tocar no rádio, digamos assim. Para tentar entrar na programação da MTV e coisas assim, em vez do tipo de música que estávamos acostumados a compor. Foi uma dessas tentativas de ser mais comercial e que funcionou até certo ponto, pois conseguimos entrar no rádio e com o vídeo na MTV. Mas nunca foi nada além disso.

Uriah Heep | Foto: divulgação

Nós decidimos que vamos deixar nossa música ir para onde deve e não nos restringir. (…) Se achamos que certa parte tem que vir após uma outra parte, que seja” – Mick Box

Penso que isso deve ser uma grande parte de onde você se encontra em sua carreira agora: você não precisa compor para a MTV. Deve ser libertador nesse ponto saber que seu próximo álbum… Aliás, quando irá sair, em 2017 ou 2018?
Box: Acho que em 2018. Estamos compondo no momento. Acabo de voltar da casa de Phil no litoral da Inglaterra e estamos trabalhando algumas ideias, escrevendo algumas letras. Obviamente queremos ter todas as músicas prontas antes de entrar em estúdio, porque no “Outsider” (2015) compusemos a última já no estúdio. Gravamos 11 músicas em 10 dias.

Mas há certa liberdade a essa altura, certo?
Box: Nós decidimos que vamos deixar nossa música ir para onde deve e não nos restringir. Tipo, tem que ter uma ponte aqui ou coisas assim. Se achamos que certa parte tem que vir após uma outra parte, que seja. Estamos nesse clima nesse momento e está funcionando muito bem.

E claro, não há gravadora pressionando. O próximo álbum sairá em um selo, ou será pela Pledge Music?
Box: Com certeza em um selo. Estamos entre quatro ou cinco selos no momento.

Isso é importante. Bem, ainda há alguma importância com relação a selos para você, em termos de como lidam com o marketing, distribuição e divulgação?
Box: Acho que sim, especialmente para uma banda como o Uriah Heep, que faz muita turnê. Você tem que ter distribuição em todos esses países para conseguir mais trabalho, para ser honesto. E promotores gostam de ter gravadoras envolvidas porque ajuda na promoção, na hora de fazer os panfletos com as datas. Eles trabalham juntos nesse tipo de coisa. E quando o promotor vai fazer o pôster, ele coloca os dados da gravadora. Em geral, é uma engrenagem na roda que precisamos.

Uriah Heep: Davey Rimmer, Bernie Shaw, Phil Lanzon, Mick Box e Russell Gilbrook | Foto: divulgação
Uriah Heep: Davey Rimmer, Bernie Shaw, Phil Lanzon, Mick Box e Russell Gilbrook | Foto: divulgação

Transcrito e traduzido por Carlo Antico.

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