Pensar positivo é essencial no novo momento de Joey Jordison
A máxima “O que não me mata só me deixa mais forte” parece ter sido feita sob encomenda para Joey Jordison. Depois de alcançar o superestrelato como baterista do Slipknot, que fundou ao lado de seus amigos no outrora ignorado estado de Iowa – hoje famoso no mundo inteiro por causa do grupo –, onde ficou de 1995 a 2013, ele foi acometido por uma doença que exigiu muita paciência e força de vontade de sua parte para superar. Porém, Jordison ressurgiu primeiro participando de turnês ao lado de bandas como Satyricon, Korn e Rob Zombie e depois formando o Scar The Martyr, que se tornou o embrião do Vimic. Foi para falar sobre tudo isso que conversamos com o baterista.
Vimic é uma banda que surgiu das cinzas do Scar The Martyr. Qual é a diferença entre elas?
Joey Jordison: Quando formei o Scar The Martyr era só outro projeto, algo para me manter ativo criando música enquanto tinha tempo livre. Mas aí fiquei doente, tive que passar por tratamento e ainda por cima saí do Slipknot. Então, comecei a reinventar minha carreira e olhar onde estavam meu coração e minha música. Precisava que tudo fosse novo, não dava para manter o Scar the Martyr do modo como era. Na época ele parecia correto, mas agora nem tanto. Foi uma ponte muito legal e gosto bastante do álbum, mas com tudo acontecendo de forma positiva no momento, queria clarear tudo e começar outra vez. E tudo está tão bom agora, todos envolvidos, produtores, engenheiros de som, a banda, minha família. Só quero voltar a levar a música aos fãs, voltar ao tipo de música que significa tanto para nós, que crescemos ouvindo.
Já que você tocou na doença, vamos falar sobre essa mielite transversa que você teve. Sempre tive a impressão que era algo que você tem para o resto da vida. É esse o caso? Porque você parece estar em forma novamente, pronto para fazer turnês. Qual é o impacto disso no que você estará apto a fazer?
Jordison: No momento eu nem penso sobre isso porque é prejudicial ao meu progresso.
Ok, me desculpe então…
Jordison: Não, não, foi uma ótima pergunta, fico feliz que tenha feito. Acontece que eu faço exercícios regularmente, me mantenho saudável, toco mais do que jamais toquei. Pratico umas cinco horas por dia. E simplesmente me mantenho em forma. Me alimento bem, descanso bastante e anseio pelo futuro. Quando há positivismo em sua vida, com ótimas pessoas ao seu redor, surgem sempre coisas positivas. Quando há um clima ruim, é daí que você pode enfrentar problemas. Não soa tão ‘metal’ falar assim, mas dá para ser feliz e enlouquecer ao mesmo tempo (risos).
Sim, dá para ser metal e se divertir. Quais bandas ou músicas que o deixaram tão apaixonado pela música?
Jordison: Essa é uma ótima pergunta, porque eu nunca vou esquecer o dia. É muito legal falar sobre isso. Meu pai chegou em casa com o álbum “Tattoo You” dos Rolling Stones e colocou para tocar no toca-discos. A primeira música que ouvi foi “Start Me Up”‘. Ao mesmo tempo, a MTV estava aparecendo e assisti ao clipe na casa da minha avó e da minha tia, porque elas tinham TV a cabo e nós não. Foi esse o álbum que começou toda minha paixão em fazer o que faço agora.
O Vimic é mais um de seus projetos. Já mencionamos Scar The Martyr, teve o Murderdolls e o Sinsaenum. Onde o Vimic se insere nesses projetos? Será a sua banda principal daqui em diante ou é mais uma daquelas paradas ao longo do caminho que se conversarmos o ano que vem iremos falar sobre um novo projeto?
Jordison: Não, não. De jeito nenhum. Quero deixar isso bem claro: essa é a minha banda, minha paixão, é o que estou fazendo agora. Essas são duas bandas (Joey refere-se ao Sinsaenum) que formei e tive a oportunidade de ter grandes parceiros de composição e o mais importante, amigos. É o que estou fazendo: o Vimic e o Sinsaenum. Agora estou concentrado no Vimic, vou voltar ao Sinsaenum mais tarde no ano, na época dos festivais. Tenho vários shows legais marcados com o Vimic e a banda inteira está empolgada. Não vemos a hora de entrarmos no palco!
O que os fãs podem esperar dos shows? Vão tocar só as músicas do Vimic ou vão explorar o catálogo do Slipknot e fazer uma apresentação de ‘greatest hits’?
Jordison: Não, não faremos isso. Vamos nos concentrar apenas no Vimic.
Musicalmente, qual é a diferença de “Open Your Omen”, do Vimic, em relação a os outros projetos, como Scar the Martyr e Murderdolls? Digo isso porque são praticamente os mesmos músicos do Scar The Martyr.
Jordison: No Vimic temos um novo vocalista que é o meu melhor amigo, Kalen Chase, com quem eu fiz uma turnê quando estava no Korn. E foi uma escolha difícil (trocar de vocalista) quando eu estava ‘transferindo’ o Scar The Martyr para o Vimic, porque eu sabia que ele iria detonar nos vocais. Foi complicado, mas uma das melhores decisões que tomei. Foi mesmo a cereja do bolo.
Eu sei que você quer se manter positivo, mas gostaria de pedir para voltarmos um pouco ao Slipknot e o que aconteceu. Podemos fazer isso ou irá levá-lo a para uma situação que você não quer?
Jordison: Sim, não posso falar sobre isso agora. Existe uma série de restrições relacionadas a esse assunto neste momento. Mas prometo que vou falar sobre isso mais para frente.
Vamos falar sobre as coisas positivas então. O que a banda significou em termos de carreira e alcançar seus objetivos? Quando estamos na adolescência ficamos com a raquete de tênis na frente do espelho, sonhamos em nos tornar rockstars. Fale das coisas positivas de estar naquela banda, o primeiro álbum e toda experiência.
Jordison: Olha, eu já falei isso em milhões de entrevistas e vou falar de novo para você: sem o Slipknot eu não estaria onde estou hoje. Todos aqueles caras e todo mundo com quem trabalhei, caí na estrada, todos os produtores, todos os álbuns, todas as turnês, tudo que fizemos, nunca eu vou conseguir falar sobre tudo de legal que fizemos juntos em apenas uma entrevista. E não vou traí-los por nada desse mundo, aqueles caras são meus irmãos, amo todos eles para sempre e os desejo tudo de bom. É tudo que posso dizer.
O álbum “Echoes of the Torture”, do Sinsaenum, saiu no início desse ano. Fale sobre este trabalho e sobre fazer parte de uma banda de metal extremo.
Jordison: Isso começou porque o Slipknot e o Dragonforce fizeram muitas turnês juntos e eu e Fred (Fréderic Leclercq, baixista do Dragonforce) temos em comum uma paixão por black e death metal. Então, nós estávamos sempre juntos e conversávamos sobe fazer um projeto desse tipo há muito tempo. Quem fez as coisas acontecerem foi ele e é um encontro de pessoas com ideias muito parecidas. Tudo que ele criou e compôs, logo que ele me mandou, fiquei tão inspirado que reservei um estúdio na hora. Literalmente joguei minha bateria na caminhonete. Gravei no mesmo lugar que as músicas para o “Roadrunner United” e o (álbum do Slipknot) “All Hope Is Gone”. E assim as coisas começaram.
No Murderdolls você era o guitarrista. Você considerou, em algum momento, ser o guitarrista no Vimic e sair de trás da bateria?
Jordison: Essa é uma boa pergunta. No Vimic eu só vou estar na bateria ao vivo. No estúdio e em sessões de composição sou sempre guitarrista. Não vou ficar falando quantos riffs eu compus em “Open Your Omen”. Estou sempre compondo. Só porque sou o baterista não quer dizer que não seja o compositor da banda.
Como é a sua maneira de compor? Você é daqueles que se tranca no estúdio e diz ‘Tenho que compor dez músicas, vamos lá’ ou tem mais a ver com inspiração?
Jordison: Meu processo começa normalmente com um gravador de fitas portátil. Gosto de fazer dessa forma em vez de ir ao estúdio e gravar demos. Faço das duas formas, mas o início de tudo é assim. Costumo comparar com plantar uma semente e esperar germinar. Tenho um metrônomo e os riffs. Tudo que faço é tocar riffs. Uma hora eu consigo mapear uma música inteira e aí vou ao estúdio e faço uma demo de um álbum completo. Daí eu entrego aos meus companheiros, que fazem suas partes e me mandam de volta. É assim que é feito.
No passado você também foi produtor de outros projetos. Foi assim com o álbum do Vimic?
Jordison: Não exatamente. A produção foi de Kato Khandwala (My Chemical Romance, The Pretty Reckless), mas fui seu braço direito. Portanto, tenho um crédito de coprodução.
Consideraria ser o produtor de algum dos álbuns futuros?
Jordison: Sim. Como eu disse, nós temos esse álbum agora e o que precisamos fazer é divulgá-lo, mostrar aos fãs, estabelecer uma ligação com eles. Não é mais nosso, é deles. Assim que fizermos isso, nosso novo álbum já está pronto e só precisamos decidir aonde gravar e quem queremos como produtor. No momento, o foco é a turnê.
No Murderdolls, Mick Mars (guitarrista, Mötley Crüe) participou de uma faixa no segundo álbum, “Women and Children Last”. Como foi isso? Porque ele também lida com um problema de saúde (N.T.: Mars lida com Espondilite Anquilosante, uma doença inflamatória crônica nas articulações da coluna vertebral). Então, qual foi a sensação de tê-lo como parte do que faziam naquela época?
Jordison: Foi bem legal, porque nosso tour manager da época também era do Mötley Crüe e quando estávamos gravando a música ‘Drug Me To Hell’ nós achamos que ela pedia um solo no estilo Mick Mars. Aí, nosso tour manager disse que ligaria para ele e pediria para ir até lá. Nós duvidamos, achamos que jamais aconteceria. Então, ele ligou e ele (Mars) aceitou na hora. Chegou, plugou a guitarra, mal falou uma palavra e tocou mais alto do que você pode imaginar! Ficamos embasbacados e já gravamos na hora. Aquele solo que você ouve é o primeiro take, do início ao fim. Isso mostra o quanto ele é demais.
Quando ele estava no estúdio com vocês, por estar na estrada há 30 anos, ele deu algum tipo de conselho sobre o que fazer, guardar dinheiro para a aposentadoria ou algo do tipo?
Jordison: Não, não tivemos nenhum tipo de envolvimento desse tipo. Foi extremamente profissional, como eu disse. Ele chegou e só conversamos um pouco enquanto ele se arrumava, gravou o solo em dois takes, guardou a guitarra e nos agradeceu muito pela oportunidade, dizendo que gostou muito da música e aí se mandou. Foi assim (risos). Entrou e saiu, como se estivesse fechado um negócio.
Vamos falar sobre imagem. Obviamente, Slipknot e Murderdolls têm muito de visual. Qual a importância disso para você, os shows e a música?
Jordison: Depende de qual é a mensagem da banda, sobre o que falam as músicas e o que você tenta representar. Ter uma imagem só por ter não é bom, porque vai passar a impressão de ser falso, forçado e não vai parecer real. Para mim, isso nunca foi visual. O Slipknot não era o visual. Aquilo que usávamos não eram máscaras, éramos nós. É a mesma coisa com a minha imagem em todos os outros projetos que participei, seja no Satyricon, Rob Zombie ou Murderdolls. Eu não uso máscaras, a pessoa que está ali no palco sou eu. Não tento passar a imagem de algo que não sou. Aquilo é como me sinto, parte do meu coração, parte da minha alma musical, algo que tem a ver com a música que estou criando naquele momento. Eu não entendo esse lance da máscara. Eu entendo a pergunta e está tudo bem, você tem mesmo que fazê-la, fico feliz que tenha feito. Mas eu não uso uma máscara, o que você vê no palco é exatamente como me sinto, não tento me vender. O que tento é acentuar a música que estou sentindo na época.
Eu não fiz a pergunta para diminuir o que você faz.
Jordison: Cara, de jeito nenhum, eu sei!
Eu sou um grande fã do Kiss e o que me atraiu à banda foi o visual e o fato de ter se tornado tão icônico.
Jordison: Eu concordo totalmente com você.
Isso é parte da atração. Se você vai formar uma banda para tocar de short e sandália, comete um desserviço à música porque não é tão legal de assistir. Minha opinião é que Kiss, Slipknot, Rob Zombie, Alice Cooper acertaram nesse aspecto, pois é assim que deve ser.
Jordison: Obrigado. Para mim, é assim que funciona. É claro que em primeiro lugar vem a música, você não precisa colocar um monte de maquiagem e roupas esquisitas para fazer um bom show, mas se você souber o que está fazendo e souber construir da forma correta, melhora muito a apresentação. Quando você vai ao Cirque du Soleil, vai só para assistir as pessoas andando pelo palco? Claro que não!
Se você, Corey Taylor (ex-vocalista do Slipknot) ou até a Selena Gomez (cantora pop americana) ficassem sentados no palco lendo as letras, seriam as mesmas músicas, mas você ia ficar de saco cheio. Você precisa de um elemento visual. Aproveitando, você mencionou rapidamente o Satyricon e substituiu o Frost (baterista do Satyricon) em cima da hora porque ele não conseguiu entrar nos EUA por problemas com o visto. Como foi isso? Foi complicado aprender aquele tipo de música em tão pouco tempo?
Jordison: Você tem toda razão. Quando recebi o telefonema, eu aceitei na hora porque eu sabia que se negasse essa oportunidade iria me arrepender para o resto da vida. Não tinha muito tempo para aprender. Lembro-me de estar no porão da casa antiga dos meus pais assistindo TV e pensando em como faria. Comecei a falar com todo mundo para acertar tudo e depois peguei o set-list e vi todas as músicas que tinha que aprender em tão pouco tempo… Não eram exatamente músicas do Kiss (risos). Foi um dos maiores desafios que aceitei em um período tão curto. Foi como estudar para um prova, mas desta vez tinha que me apresentar bem para pessoas que eu sequer conhecia e que são de uma parte diferente do mundo. Mas aceitei o desafio e a turnê foi ótima. Aprendi muito com eles, porque eu juro que são dos melhores músicos com quem já trabalhei na minha vida. E quando estávamos ensaiando, e eu cometia um erro, eles me ajudavam muito.
Você também tocou no Korn e com Rob Zombie. Como é agora no Vimic ser o chefe? Você aceitaria entrar em uma banda como Rob Zombie agora e ser apenas mais um ou no momento quer ser “o cara”?
Jordison: Não acho que seja assim no Vimic. Apesar de parecer que sou o chefe, não é assim que vejo as coisas. Para mim, a opinião de todos é tão importante quanto a minha, senão não é uma equipe. Toda equipe tem um técnico, então acho que sou eu. Mas todos têm o mesmo peso. Você não quer deixar ninguém de fora, porque quer que todo mundo produza e se sinta importante. Agora, se eu tiver que vetar alguma coisa, aí é diferente. Mas quando se trata de ser aberto e honesto e construir o que estamos fazendo e estamos prestes a fazer esse próximo ano inteiro, todos têm que ter direito a opinião, porque somos uma banda e quando é assim tudo funciona melhor.
Ver um artista falar sobre um álbum é interessante, porque todo esse conceito vem sendo perdido. Hoje em dia só se fala de singles ou de uma única música.
Jordison: O álbum, da maneira como está estruturado, é como ouvir um filme, o modo como as músicas ligam umas as outras. É assim que deve ser ouvido. Para mim, parece uma música só. Quem comprar o álbum vai perceber que ele se chama “Open Your Omen” (“Abra sua profecia”) por um motivo, e aí que entenderá o todo. Quando você ouvir a primeira faixa e vir como as músicas estão sequenciadas e prestar atenção nas letras, é uma história. Preste atenção nela. É tudo que posso dizer. Ela se chama “Open Your Omen” e é minha história pessoal de anos. Agora, tudo isso é como se fosse um trabalho de pós-graduação para o resto da minha vida.
Transcrito e traduzido por Carlo Antico
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