O vocalista Robert Mason ressalta como sempre pensa no grupo e detalha sua passagem como “vocalista de apoio” de Ozzy Osbourne
Não é sempre que aquela banda que se forma no colégio segue em frente e se torna famosa. Mas isso não impede que se consiga ganhar a vida tocando. Robert Mason, atual vocalista do grupo americano de hard rock Warrant, que atualmente promove o álbum “Louder Harder Faster”, é o caso típico. Com muito trabalho e perseverança, ele cantou no Lynch Mob, Cry Of Love, fez teste para entrar no Ratt, está no Warrant e foi a “voz escondida” na turnê de “Ozzmosis” de Ozzy Osbourne, além de ter trabalhado, inclusive, para a Disney. Foi para falar sobre tudo isso que batemos um longo papo com o simpático e falante Mason.
Quando vocês entram em estúdio, o quanto o passado influencia? Vocês pensam algo como “Temos que ter outra ‘Cherry Pie'” ou simplesmente vão e fazem o que têm que fazer e aparecem com as melhores 10 ou 12 músicas?
Robert Mason: É uma combinação dos dois. Obviamente a banda possui um legado de músicas e todos que conhecem sabem como somos agora. Para o álbum “Rockaholic” (N.T.: lançado em 2011), eu me senti pessoalmente abençoado em ter essa oportunidade. A [gravadora] Frontiers é muito boa para nós. Posso falar por mim, que não digo exatamente que precisamos disso ou daquilo igual a certo período. Quem é a mesma pessoa hoje, que era no final dos anos 80 e início dos 90? Você fica mais experiente e eu estou mais velho. Não estou mais sábio, mas estou mais velho. Há toda uma história que abraço e eu sei o tipo de música que agrada nossos fãs. Ao mesmo tempo, nós trocamos ideias, vemos quais gostamos mais e lançamos quando estão prontas. Porém, eu quis fazer uma ponte porque gosto de alguns aspectos do álbum ‘Cherry Pie’ e também de ‘Dog Eat Dog’, particularmente por causa da mudança de produtores. Eles haviam feito dois álbuns com Beau Hill (N.T.: “Dirty Rotten Filthy Stinking Rich” e “Cherry Pie”) e mudaram para Michael Wagener, e eu adoro esse cara. Fez coisas ótimas nesse álbum em termos de timbres de guitarra e as músicas são muito legais. Acho que, no aspecto geral da banda, é um disco que as pessoas gostam, apesar dos hits dos dois primeiros. Eu estava no Lynch Mob em 92/93 e fizemos uma turnê com o Warrant. Pude ouvir essas músicas ao vivo quando foram tocadas pela primeira vez. Então, quis que o novo trabalho ficasse em um lugar entre os dois [“Cherry Pie” e “Dog Eat Dog”] se conseguisse. É um grande objetivo e não estou dizendo que aconteceu, mas enquanto estávamos compondo era o que buscávamos. Além disso, meu amor por coisas vintage dos anos 70, como os timbres e instrumentos antigos, se juntaram muito bem a isso. Para mim, o álbum soa como se tivesse sido lançado em 1978 ou 79. É onde estão minhas influências. Mas, enfim, é só minha opinião. Foi uma resposta muito longa? (risos)
Não fico nem um pouco magoado com quem queira continuar apegado a Jani Lane, porque eu continuo” – Robert Mason (Foto: Brian Denton)
Não, é uma ótima resposta! Como é substituir Jani Lane (N.T.: ex-vocalista do Warrant, falecido em 2011)? Ele era adorado pelos fãs pelo seu estilo de composição e pelos vocais. Já que “Louder Harder Faster” é seu segundo álbum, você sente que os fãs aceitam-no cada vez mais?
Mason: Existem os dois tipos. Não fico nem um pouco magoado com quem queira continuar apegado a Jani Lane, porque eu continuo. Como eu te disse, quando tocamos com eles, eu sempre assistia ao show das coxias. Eu e ele éramos amigos. Nos conhecemos em LA quando o álbum do Lynch Mob (N.T.: autointitulado, de 1992) estava em pré-produção em 1991. Saíamos e bebíamos juntos. E foi muito por causa disso que abrimos os shows do Warrant nas turnês de nossos dois álbuns. Então, me sinto muito à vontade, as coisas aconteceram de forma muito natural quando entrei. Quando a saúde e a performance de Jani começaram a deteriorar e, sejamos honestos, não vou mentir e não quero falar mal dele, mas, na verdade quando o Warrant anunciou a reunião eu enviei mensagens de voz e texto o parabenizando e encorajando. E serei 100% honesto com você, é triste dizer que ele nunca me respondeu. Jani estava numa situação muito difícil, saindo e entrando de clínicas de reabilitação. Eles tinham as melhores das intenções com aquela turnê, mas encontrei com eles no “Rocklahoma” e tinha visto o que estava acontecendo por vídeos no YouTube. Joey (Allen, guitarrista) estava arrasado e no dia seguinte eu fui assistir a passagem de som deles. Dixon (Jerry Dixon, baixista) veio até mim e me deu um grande abraço. Todos explicaram para mim o que estavam passando e se sentiam muito mal, porque queriam fazer um grande espetáculo e a parte central do show não estava bem. Me senti muito mal por Jani, mas foi ali que a chama se acendeu. Joey me encontrou na sexta à noite antes do show, me disse que não sabia onde seu vocalista estava e perguntou quantas músicas do Warrant eu sabia. Mas Lane apareceu, tinha acabado de sair da clínica de reabilitação e parecia ótimo. Fez um grande show, porém as coisas desandaram rapidamente de novo depois. Ele não conseguia ficar limpo e saudável e isso era óbvio para a banda. Dentro de um mês, Joey me ligou e disse que era uma ligação difícil, mas queria que eu fosse até onde eles estavam para tocar algumas músicas e eu aceitei. Agora, sobre fãs que odeiam… Olha, eu não desprezo o Blabbermouth como site (N.T.: site de notícias de metal), mas hoje em dia todo mundo tem uma opinião sobre tudo. E algumas das coisas horríveis que foram ditas por fãs sobre mim ali, que eu devia sair da banda… Sério? O grupo tem uma equipe, um legado de músicas e pode ter um vocalista que era amigo do vocalista anterior que infelizmente morreu e você nem cogita ter a banda tocando essas músicas? Não quero ser um canalha arrogante, mas eu posso fazer isso, eu adoro, nunca estou mais feliz do que quando estou atrás de um microfone e tocando com quatro caras de quem gosto muito. E toda noite tento fazer um tributo fiel ao meu amigo que não está mais entre nós. E é isso que queria dizer sobre isso.
Quando vi você com a banda ao vivo da primeira vez, achei sua performance incrível. Depois conferi outras apresentações no YouTube e banda tem tocado melhor do que nunca! Não quero desprezar os anos 80 e 90, mas todos parecem mais focados, tocando com mais urgência e atitude. Isso foi algo que você também notou e acha que é válido capturar isso em CD ou DVD para ter sua voz nas músicas clássicas e os fãs ouvirem as músicas novas ao vivo?
Mason: Sim, danem-se aqueles que me odeiam. Adoraria fazer isso! Fomos procurados pela Frontiers para algo nesse sentido. Eles pensaram em um show no exterior e nós respondemos que podíamos fazer uma grande produção aqui nos EUA e aí não gastaríamos dinheiro com passagens aéreas. Todas nossas apresentações ao vivo são ótimas para mim. Mas para lançar algo assim… Não quero soar presunçoso em dizer que os fãs iriam querer isso, alguns talvez. Para mim, os álbuns ainda se sustentam. Outro dia o VH1 estava fazendo um especial de 30 anos do Headbanger’s Ball (N.T.: programa de metal da MTV nos anos 80). Eu havia chegado em casa do aeroporto após uma turnê e estava trabalhando no meu laptop. Liguei a TV e coloquei no VH1 e começou a passar o clipe de “Down Boys”. Pensei: “Nossa, acabei de estar com esses caras no aeroporto!”. Foi engraçado ouvir a versão original de novo, algo que não faço com frequência, mas, como disse antes, tento dar a minha melhor interpretação dessas músicas como um tributo fiel, com muito amor ao legado da banda. E os caras realmente têm entrado no palco para conseguir a melhor performance possível todas as noites!
Penso que valeria à pena capturar isso. Falamos sobre fazer justiça aos clássicos do Warrant, mas vamos falar sobre alguns nos quais você esteve envolvido e pode se orgulhar. “Diamonds and Debris” do Cry of Love, é um dos melhores discos lançados nos anos 90 e seu vocal está fenomenal. Fale sobre essa banda e entrar nessa situação de colocar a sua marca em uma música. Corrija-me se eu estiver errado: o Lynch Mob era o projeto de George (Lynch, guitarrista) e ele já tinha o que queria na cabeça, há o Warrant, você fez teste para entrar no Ratt, etc. Como foi no Cry of Love, nessa situação [de colocar sua marca na música]?
Mason: Bem, originalmente éramos todos amigos através de conexões na indústria da música em Nova York. O Cry of Love formou-se em Raleigh, na Carolina do Norte, e foi contratado pela Columbia, mas nós já nos conhecíamos. Peguei um avião para a Carolina do Norte no fim de 94, início de 95, porque fiquei sabendo que eles estavam com problemas com o vocalista. Passei uma semana com eles, nós ensaiamos, tocamos músicas que todos gostávamos e compusemos algo também. Mas eles não sabiam o que fazer. Estavam confusos e sendo pressionados pela gravadora. Nesse meio tempo consegui o trabalho com Ozzy, que achei que duraria alguns meses, mas fiquei fora por quase um ano. Aí o Cry of Love meio que ficou parado, porém Audley (Freed, guitarrista) continuou a compor. Ele é um compositor incrível e um grande guitarrista. Adiantando a história para junho/julho de 96, eu estava em um quarto de hotel em Detroit e Audley me ligou dizendo que a gravadora queria o álbum e eu era o cara que queriam. Perguntou se podia começar a me mandar material e se eu poderia largar o trabalho com Ozzy, entrar no Cry Of Love e gravar um álbum. Foi isso que aconteceu. Eu queria voltar a ser um frontman. Estava com Ozzy fazia um ano, por trás da cena, sem falar sobre isso com ninguém. Eu era meio que uma “arma secreta”. Gosto muito daquelas pessoas, recebi um bom dinheiro, conheci o mundo. Fui até Ozzy e Sharon e disse que queria voltar a ser um frontman e havia recebido essa oportunidade. Era no mesmo selo e pedi a Sharon que falasse com eles e fizesse os arranjos. Sentamos todos na mesma sala e fizemos um pacto: eu ficaria no Ozzy o máximo possível durante o verão. Meu último show foi em Donington, em agosto de 96. Eles me liberaram, me desejaram sorte, voltei para casa por uma semana, peguei o avião de novo para Raleigh e gravei o álbum do Cry Of Love. Respondi a pergunta ou só tagarelei?
Fui mantido como um segredo e para mim tudo bem. Não tinha que falar com a imprensa e cantava 16 ou 18 músicas de Ozzy e do Sabbath, quatro ou cinco noites por semana em arenas pelo mundo durante um ano” – Robert Mason (Foto: Stephen Jensen)
Acho que sim, mas quero focar nesse lance do Ozzy…
Mason: Só mais uma coisa sobre o álbum do Cry Of Love: eu adoro quando fãs e músicos o reconhecem, porque foi uma época muito estranha para música e a banda acabou se perdendo. Chegamos a abrir para o The Allman Brothers e para o Cheap Trick, mas decidimos nos separar, apesar de continuarmos amigos. Tenho um orgulho enorme daquele disco, pois pude explorar algumas das minhas influências mais antigas que ninguém nunca tinha ouvido. Quando falamos do Lynch Mob e do Warrant eu compus e componho. Apesar de, no primeiro, George fazer a maior parte das músicas, as letras e melodias são todas minhas. No Warrant é a mesma coisa. No “Rockaholic” há umas quatro ou cinco músicas idênticas às das minhas demos. Nesse novo a mesma coisa, apesar de que eu e Dixon compusemos várias em parceria para esse.
Estou tentando lembrar uma música só sua nesse novo álbum, aquela do piano…
Mason: “U in My Life”.
Isso. Explique sobre ela para os fãs porque é uma ótima música…
Mason: Cara, obrigado.
É mesmo. Fale sobre ela e como apareceu aquele piano e sua composição.
Mason: Vamos ligar isso com a história do Ozzy. Durante a turnê eu tinha uma casa em Phoenix e numa das pausas, eu encontrei um piano vintage usado numa loja e comprei-o. Logo, basicamente, obrigado Ozzy por me permitir comprar um belo piano vintage. Mandei reformá-lo e quando fui para casa que vivo agora, levei o piano comigo e quando estava compondo para este álbum, toda manhã ia até ele para compor. Tenho várias coisas compostas nele, um arquivo de material e Dixon estava sempre insistindo comigo para ter uma música de piano. Eu não queria, porque não poderíamos tocar ao vivo. Mas a ideia para essa música veio como vêm todas as outras, em um dia de folga como hoje. Tento compor todo dia quando estou em casa. A progressão simples de acordes veio à minha cabeça, toquei no piano, cantei uma melodia sem letras, gravei no i-phone e mandei para um amigo meu, Joe West, que é produtor em Nashville. Junto mandei uma mensagem de texto: “Joe, isso é uma porcaria?” Em alguns minutos ele respondeu: “Não, isso é sensacional, quando pode vir a Nashville? Eu já tenho algumas ideias.” Um mês depois, fui até ele, toquei em seu piano e em meia hora a música estava pronta. Gravei uma demo só com piano vocal, que é idêntico ao que você ouve no álbum. Mandei para a banda e eles aceitaram. Só pediram um solo, que não é o que você ouve no disco. Eu fiz um bem simples em meu próprio piano, só para marcar o lugar onde ele deveria entrar. Quando estávamos gravando, Jeff (Pilson, produtor) teve a ideia de fazermos algo como – guardadas as devidas proporções – “Maybe I’m Amazed” (Paul McCartney), que começa só com piano e a banda toda entra depois. O piano usado na gravação é um vintage Steinway que Jeff Pilson comprou e estava na sala dele. Deu tudo certo. Acabei fazendo o solo eu mesmo e gravamos o segundo take. Pelo amor de Deus, não sou um Jeff Beck ou Brian May, mas era no que estava pensando.
Vamos entrar no lance do Ozzy, porque sei que você teve um dia cheio e essa parte pode levar um tempo. Enfim, a turnê era a “Retirement Sucks Tour” de 95, certo?
Mason: Sim, 95, 96. O álbum era o “Ozzmosis”.
Naquela turnê você ficava no backstage em uma cabine minúscula com dois alto-falantes, adicionando uns backing vocals ao show de Ozzy. Tente nos explicar exatamente o que fazia para Ozzy naquele momento.
Mason: Sharon havia me ligado e perguntado se eu podia me juntar a eles. Acho que ela entrou em contato com alguns estúdios atrás de alguém que conseguisse fazer backing vocals para Ozzy e meu nome foi sugerido, ainda bem. Nós tínhamos trabalhado com alguns produtores em comum. Ozzy queria uma voz humana para fazer os backings e não samplers. Isso era 95, quem soltava os samplers era o tecladista e soava muito artificial. Foi por isso que ela me ligou e fui para a Europa “contratado” para fazer minha primeira passagem de som. Basicamente, eles construíram uma cabine de vocal portátil para mim. Perguntaram qual equipamento eu preferia, como fones e microfones e eu disse que me dessem o que estavam usando. No palco, eu ficava ao lado direito, atrás dos amplificadores, na linha de visão dele. Nós conseguíamos nos ver durante os shows. Nos álbuns, as vozes são todas de Ozzy, ele é um ótimo vocalista e eu adoro aquelas músicas. Quem falaria não para uma proposta dessas? Tocamos algumas [na passagem de som], “See You On The Other Side”, “Perry Mason”… Assim que acabou, Ozzy vira para mim levanta os dois polegares e diz: “Okay, você está dentro” e vai embora! (risos). Não voltei para casa por um ano. Eu fazia as harmonias e dobrava os refrãos de vez em quando. Eu cantava tudo e a mesa de som colocava a minha voz com a dele quando eles quisessem. Ele tinha uma pessoa real para cantar as harmonias junto. Temos uma paixão em comum por Bowie, The Beatles e me lembro que na época Ozzy não parava de escutar um álbum da Annie Lennox. Toda vez que eu passava pelo quarto dele nos hotéis ele estava escutando. Deixava a porta aberta! Eu passava por ali, ele me chamava para entrar e assistíamos o History Channel e conversávamos sobre música. Era a coisa mais legal do mundo! Mas a imprensa sempre estava de olho nele atrás de alguma fofoca, isso foi pré-The Osbournes. Então, fui mantido como um segredo e para mim tudo bem. Não tinha que falar com a imprensa e cantava 16 ou 18 músicas de Ozzy e do Sabbath, quatro ou cinco noites por semana em arenas pelo mundo durante um ano. É um trabalho legal, se você consegue pegar. Porém tornou-se a lenda do “cara na tenda”. Uma história engraçada é que um ano depois, em 97, em uma turnê do Cry of Love abrindo para o Cheap Trick, estava no bar do Hotel Hyatt na Sunset Strip em Los Angeles, celebrando com Rick Nielsen (guitarra), outros caras do Cheap Trick e Twiggy (baixo) do Marilyn Manson. Rick falava como Manson era incompreendido e diz que eu sabia bem do que ele estava falando. E eu sabia mesmo porque Ozzy também sofria com isso. Só que Twiggy não me conhecia e ficava me olhando tipo: “Quem diabos é você? Como você sabe algo sobre isso?” Aí, o pessoal do Cheap Trick contou a minha história com Ozzy para ele. O queixo de Twiggy caiu e ele ficou olhou para mim e disse: “Espera um pouco, você é o cara da tenda?” E eu respondi: “Como assim o cara da tenda?”. Aí ele falou da história que ninguém sabia se era verdade, sobre um cara que ficava no backstage cantando porque Ozzy não conseguia cantar. Demos risada, mas não foi isso que aconteceu. Foi a primeira vez que ouvi sobre “o cara da tenda”. Existe essa lenda urbana de um cara cantando para Ozzy.
Ser cavaleiro errante como músico ou compositor, o que eu poderia imaginar melhor para mim do que isso? Só se ganhasse na loteria!” – Robert Mason (Foto: Stephen Jensen)
Seria um ótimo título para um álbum solo, se algum dia você lançar um: Robert Mason – “The Tent Guy” (N.do T: “o cara da tenda”)
Mason: Ou uma autobiografia.
Sim, também.
Mason: É inevitável quando você faz uma dessas entrevistas terríveis onde o cara só leu a primeira página da wikipedia e te pergunta coisas que ele já deveria saber que venha a pergunta: “Qual a coisa mais estranha que já te aconteceu na estrada?” e minha resposta são sempre cinco palavras: “Estou guardando para o livro.” Só para mudar de assunto, para ver se fazem uma pergunta inteligente.
E você é uma pessoa que tem muita coisa para contar. Não quero dizer isso de forma depreciativa, mas é como um “cavaleiro errante” entre as bandas. Já passou pelo Lynch Mob, está no Warrant, tentou a vaga no Ratt, fez esse lance com o Ozzy…
Mason: Sim, e para ser sincero, eu me descrevo dessa forma. Ser cavaleiro errante como músico ou compositor, o que eu poderia imaginar melhor para mim do que isso? Só se ganhasse na loteria! Fora isso, é um trabalho muito bom!
E é uma prova de seu talento de que você consegue continuar trabalhando. Eu gostaria de perguntar sobre um que eu acho interessante: você trabalhou para a Disney. Conte sobre como é ser um músico e ter que fazer esses trabalhos tão diferentes. E elabore rapidamente sobre esse da Disney, o que você fez para eles…
Mason: Obrigado pelo elogio. Olha, é aquela constante batalha de arte x comércio. Eu gosto do capitalismo (risos) e de ganhar a vida fazendo o que eu amo e não ter que… Não quero falar mal de nenhuma profissão…
Não ter que ser um jornalista de rock… (risos)
Mason: Sei lá, colocar papel de parede, ser piloto ou encanador. E o engraçado é que depois do colegial meu futuro era para fazer direito ou ser jornalista. Eu sempre escrevi outras coisas fora música, mas por causa de pura sorte, perseverança, circunstâncias e, sejamos honestos, trabalho duro e cultivar uma habilidade que eu tinha, consegui uma forma de sempre arrumar trabalho e ganhar a vida com isso. Todos têm seu próprio caminho, eu cantei em bandas cover quando era mais jovem, tive várias bandas. O lance do Ratt que você mencionou, não era o melhor para mim, mas eu era amigo dos caras e foi uma das vezes em que Stephen (Pearcy, vocal) tinha saído e eles estavam discutindo, como sempre. George havia me apresentado para Warren (De Martini, guitarrista) quando eu estava no Lynch Mob, então ficamos amigos. Ele e Bobby (Blotzer, baterista) chegaram até mim e disseram que precisavam de mim. Estava com outro projeto na época, mas fui até LA para ensaiar. Mas desde o começo eu achava que não era o cara certo para isso. Stephen é a voz do Ratt. Eu consigo fazer minha voz soar um pouco daquela forma, mas não muito, acaba soando como eu mesmo. Se encaixar em um modelo, não é o que faço, não sou um cameleão ou um imitador, eu canto do meu jeito. Fizemos umas jams, e por mais que tenha sido legal, eu liguei para eles e disse: “Eu não sou o cara que vocês procuram.” Eu fui honesto e eles não falaram comigo por uns dois anos. Ficaram putos. Hoje fizemos as pazes.
É estranho que eles tenham ficados irritados com isso.
Mason: É, mas eles queriam continuar e acharam que tinha ficado bom. Foi legal tocar aquelas músicas, eles são ótimos músicos e foi bom tocar e ficar lá com eles. Seria legal tocar ao vivo também, mas eu sabia que não era para mim. E apesar de não estar com nada fixo na época, não pude aceitar. Achava que depois de um tempo Stephen voltaria. Interessante que há alguns anos atrás me encontrei com Stephen Pearcy no festival M3 (N.T,: festival realizado nos EUA com bandas de hard rock dos anos 80). Já havia cruzado com ele algumas vezes, mas nunca havíamos conversado realmente. Acho que pensava que eu estava pronto para roubar o trabalho dele. Não sei o que os outros caras do Ratt haviam contado sobre o que aconteceu, mas nunca havíamos acertado as coisas. Encontrei-o por acidente no lobby de um hotel e decidi que ia consertar isso de uma vez por todas. Cheguei até ele e disse: “Hey Stephen, tudo bem? Sou Robert Mason, nunca nos falamos!” Estendi a minha mão e ele: “Tá, tá, tanto faz, se você ou eu canta as músicas, eu sou pago de qualquer forma. Vá se foder, cara.” Aí eu falei: “Espera aí. Você já ouviu a história sobre o que realmente aconteceu? Eu falei não para eles. Você é a voz daquela banda, eu falei isso para eles. Ainda somos amigos, mas eu não era certo para o trabalho. Ninguém lhe contou isso? Foi isso que eu fiz. Você achou que eu fazia parte de algum esquema para roubar seu trabalho enquanto discutiam?” Aí ele olhou para mim e disse: “Ah, tá certo. Quer tomar alguma coisa?” Aí fomos até o bar do lado de fora do hotel, tomamos uns copos de vinho e agora somos próximos. Não é estranho?
As composições foram feitas em sua maior parte por mim e Dixon, mas todo mundo deu sua contribuição” – Robert Mason, sobre o álbum “Louder Harder Faster”
Não, Stephen é um ótimo sujeito. Agora vou escolher as palavras de forma sensata: você já se sentiu decepcionado de não ter seu próprio projeto, seu próprio veículo, sua carreira solo, sua banda? Entende o que quero dizer?
Mason: Entendo, eu sei disso.
Há certa decepção de não haver um Robert Mason Project?
Mason: Meu Deus, só o som disso… (risos). Eu não sei, acho que sou o tipo de cara que não quer uma banda com o meu nome. Tive alguns que se aproximaram de acontecer. Tinha um grande projeto antes de entrar no Lynch Mob, com um contrato com a Epic/Sony, assinado pelo presidente de A&R que havia ressuscitado as carreiras de Heart e Cheap Trick. A grande banda deles na época era o Living Colour. Num projeto como esse, você grava um monte demos. Aí quando tudo estava pronto para o lançamento, no último minuto, esse mesmo presidente saiu da empresa e o projeto foi engavetado. Essa foi minha primeira experiência com a indústria fonográfica nesse nível. Alguns meses depois disso, estava sem fazer nada e pintou a audição para o Lynch Mob. Não estou sendo arrogante quando digo que dá para entrar numa banda e transformá-la em sua de qualquer forma. Aquelas músicas são em parte minhas. E com o Warrant, como disse antes, estou com caras que eu gosto, tocando músicas que acho ótimas e ainda ganho uma grana. Estou sempre pronto. Aquela coisa da Disney, eu fiz a voz de um ator que tinha que interpretar um cantor, mas não era um. Olha, eu não olho para minha carreira e fico amargurado. Eu sempre fiz as coisas do modo que eu quis. Sempre achei que você é tão bom ou tão ruim quanto a última música que cantou e é assim que tem sido. Sou grato e acho que quanto mais trabalho, mais sorte eu tenho.
Sim, amargurado não foi o que eu quis dizer, mas acho que a pergunta acabou sendo se você se sente assim. Eu não vejo dessa forma e estou feliz que esteja no Warrant. Eles tentaram com alguns outros vocalistas e não funcionou por alguma razão e com você funciona.
Mason: Isso é um grande elogio, eu agradeço.
A razão de eu ter mencionado a Disney é que quando meus filhos eram mais jovens eles assistiam àquele programa o tempo inteiro. Como chamava mesmo?
Mason: Chamava-se “I’m in the Band” e a história era de um garoto de colegial que era um prodígio na guitarra e é contratado por uma banda de rock que está envelhecida. Era um programa divertido.
Vamos encerrar voltando a falar de Ozzy. Houve algum show em que ele estava resfriado ou com algum problema de saúde e que você teve que assumir uma parte maior?
Mason: Ok, agora você quer que eu seja realmente honesto, porque provavelmente já sabe a resposta para essa pergunta. Eu devo ter te contado isso alguma outra vez. Ele ficou muito mal em Praga. Estávamos na República Tcheca para dois shows. Tinha que lutar contra uma bronquite, e disse que a voz estava muito, muito ruim. Tony, o assistente dele, veio até mim e disse que Ozzy queria me ver. Fui até ele e me pediu para eu cantar um pouco mais naquela noite e eu cantei, mas, olha, a voz dele não estava ruim. E se o cara da mesa colocou mais a minha voz, é para isso que eu estou lá, para ajudar o companheiro. Estar em uma banda é como ir a uma guerra e você não deixa seu irmão caído. Vai até lá e o levanta. Para mim, o show é tudo. Então, sim, nesses shows de Praga cantei mais do que normalmente e se isso deu um certo alívio para ele. É isso aí, trabalho em equipe.
Aproveitando, aquela tour do “Ozzmosis” que se chamava “Retirement Sucks Tour”…
Mason: Ele costumava chamar de “Sobriety Sucks Tour” (risos).
Foi uma ótima tour, eu gostei daquele álbum. Sei que muita gente fala mal dele e não sei o porquê. E ao vivo Alex Skolnic (guitarra, Testament, Savatage) chegou a tocar em algum momento, Deen Castronovo (bateria, Journey, Black Sabbath), Mike Inez (baixo, Alice In Chains, Heart). A formação mudou bastante, Joe Holmes, Geezer Butler…
Mason: É, Geezer é uma das pessoas que mais gosto no mundo, fizemos a turnê europeia inteira juntos, mas ele queria focar em sua carreira solo, o GZR. Aí pegamos o Mike Inez que eu já conhecia e sempre nos demos bem. Quando ele voltou para o Alice In Chains pegamos Robert Trujillo (hoje no Metallica). Em algum momento Randy Castillo (bateria) saiu e pegamos Mike Bordin (Faith No More) que é incrível. Meus melhores momentos foram com Randy e Mike Inez. E enquanto estive na banda o guitarrista sempre foi Joe Holmes.
Então você fez a parte da turnê de 96, não de 95.
Mason: Final de 95 e todo 96. Logo após os shows nos EUA e no Canadá (N.T.: logo, Robert não estava no show no Monsters of Rock brasileiro, em 95). Entrei para a turnê no Reino Unido e Europa.
Você pegou a banda com Deen Castronovo?
Mason: Não, eu entrei quando Randy tinha acabado de voltar.
Vamos encerrar por aqui, lembrando que o novo álbum do Warrant, “Louder Harder Faster” acaba de ser lançado.
Mason: Sim, estamos muito empolgados e eu gostaria de agradecer à banda por me dar liberdade para trazer minhas músicas. As composições foram feitas em sua maior parte por mim e Dixon, mas todo mundo deu sua contribuição. É legal ter um lançamento, acho que traz mais legitimidade para mim com os fãs. Estou muito orgulhoso da minha performance vocal nesse álbum.
Transcrito e traduzido por Carlo Antico.